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II SÉRIE-B — NÚMERO 18

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álbum português de sempre, Fausto canta-nos a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Segue-se Crónicas da

Terra Ardente e os desvarios da História Trágico-Marítima. A viagem fechou-se em 2011 com Em Busca das

Montanhas Azuis, onde Fausto se inspirou nas viagens portuguesas pelo interior do continente africano. A esta

trilogia pode ainda juntar-se, como o próprio Fausto disse em concerto, Para Além das Cordilheiras, onde se

canta a viragem de Portugal para a Europa.

Começando a carreira como cantor de intervenção, na qual se destacam canções em defesa da democracia

e também um hino ecologista como Se tu fores ver o mar (Rosalinda), Fausto reinventou-se e tornou-se um dos

melhores contadores de histórias do País; meticuloso atento ao detalhe, deixou-nos sempre trabalhos

irrepreensíveis, seja ao nível das letras, da qualidade dos músicos ou dos arranjos.

Fausto teve uma presença relevante no campo do ativismo democrático; a adesão ao movimento associativo

aquando da sua licenciatura em Ciências Sociopolíticas aproximou-o de outros compositores relevantes como

José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire, José Mário Branco e Luís Cília.

Portugal fica muito mais pobre com o desaparecimento de Fausto Bordalo Dias. Figura ímpar e irrepetível da

música e da democracia portuguesa, deixa-nos um legado que continuará a soar durante muitos anos.

Assim, a Assembleia da República, reunida em sessão plenária, exprime o seu pesar pelo falecimento de

Fausto Bordalo Dias, aos 75 anos, endereçando as suas condolências aos seus familiares e amigos.

Assembleia da República, 2 de julho de 2024.

Os Deputados do L: Isabel Mendes Lopes — Jorge Pinto — Paulo Muacho — Rui Tavares.

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PROJETO DE VOTO N.º 193/XVI/1.ª

DE PESAR PELO FALECIMENTO DE MANUEL ALVES CARGALEIRO

Manuel Cargaleiro nasceu a 16 de março de 1927 em Vila Velha de Ródão, distrito de Castelo Branco, mas

foi em Almada, para onde se mudou com a família aos dois anos, que descobriu o seu interesse pela cerâmica.

Filho de um gestor agrícola e de uma artesã de mantas de retalhos, o artista frequentou a Academia de

Belas-Artes e aprendeu a arte da olaria no atelier de José Trindade. Depois partiu para a Fábrica Sant'Anna

para trabalhar como ceramista. Colaborou nas primeiras edições da Exposição de Cerâmica Moderna, lançou-

se em exposições em nome próprio e trabalhou na passagem para cerâmica das estações da Via Sacra do

Santuário de Fátima, pintadas por Lino António.

Foi ao apresentar, em 1953, a exposição individual «Cerâmicas de Manuel Cargaleiro» que a sua carreira

enquanto artista viria a ascender. Manuel Cargaleiro tornou-se um dos primeiros bolseiros da Fundação

Calouste Gulbenkian, em 1950, através da qual teve a oportunidade de se mudar para Paris e partilhar morada

na mesma rua de Picasso onde trocou experiências e influências com outras personalidades como Max Ernst,

Jan Earp, Camille Bryen ou Natalie Goncharova. O ceramista transportou a relevância das suas obras para

vários certames internacionais e participou em inúmeras exposições em diversos países.

O mestre Manuel Cargaleiro, como era reconhecido e tratado pelos seus pares, conferiu uma dimensão

luminosa à sua pintura e à sua personalidade, pelo seu entusiasmo e vitalidade que sempre demonstrava.

A longa vida e carreira de Cargaleiro não deixam dúvidas quanto ao seu papel fundamental na renovação da

azulejaria pública e capacidade de inovação que o farão permanecer presente no espaço público e na história

da arte. Exemplo disso são os seus painéis cerâmicos do Jardim Municipal de Almada, a fachada da Igreja de

Moscavide ou a estação de metro do Colégio Militar, em Lisboa. Em Paris, a sua cerâmica dignifica a estação

de Champs-Elysées-Clemenceau ou em Ravello, onde encontramos o seu Painel da Amizade na Praça de São

Cosme e Damião.

Manuel Alves Cargaleiro partiu aos 97 anos, mas deixa em Portugal e além fronteiras a marca indelével da

sua arte e da sua incessante capacidade de criar e imaginar outros mundos e novas cores para o futuro.