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II SÉRIE-B — NÚMERO 37

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PROJETO DE VOTO N.º 390/XVI/1.ª

DE SAUDAÇÃO AO CANTE ALENTEJANO PELA ELEVAÇÃO A PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL

DA HUMANIDADE PELA UNESCO

O Cante Alentejano é, porventura, o sinal distintivo mais significativo do povo alentejano, porque revela a sua

ligação à terra, ao mundo rural, às atividades agrícolas que durante décadas a fio, se assumiram como o seu

único sustento.

As letras do Cante exploram tanto os temas tradicionais como a vida rural e a natureza, mas também as

emoções: o amor, a maternidade ou a religião, como as mudanças no contexto cultural e social.

O Cante é uma forma de cantar coletiva, que dava uma força maior, um ânimo aos camponeses que

cadenciadamente, caminhavam longas distâncias juntos, homens, mulheres e crianças, até chegarem aos

mares de searas, onde debaixo de um sol ardente, tinham de ceifar o trigo num trabalho esforçado que, quando

a fraqueza chegava, necessitava do ânimo e da alma que o Cante dava.

«O Cante Alentejano é um género de canto polifónico tradicional em duas partes, não acompanhado por

instrumentos. Reflete a incorporação de um vasto repertório de poesia tradicional (modas) em melodias

existentes ou recém-criadas (estilos). (…) Compostas por até 30 membros, as vozes de cada grupo coral estão

organizadas em três faixas: ponto, alto e baixos (coro). O ponto, na faixa inferior, começa o canto, seguido do

alto, uma voz na faixa mais elevada que duplica a melodia uma terceira ou uma décima acima do ponto, muitas

vezes ornamentando-a. A seguir ao alto vem uma parte a solo ou, entrando a partir do ponto, o grupo coral

completo canta os restantes versos da moda em terceiras paralelas. O alto é a voz guia que se sobrepõe ao

grupo. Os cantadores mantêm-se numa grande proximidade física e envolvem-se profundamente numa unidade

de vozes emocionalmente intensa. O Cante carateriza-se pelas suas melodias, letras e estilo vocal. A

documentação existente, que remonta a mais de 100 anos, atesta a estabilidade das suas caraterísticas

melódicas. Ao mesmo tempo, criaram-se letras e melodias que refletem as mudanças do contexto cultural e

social, mantendo os temas tradicionais referentes à vida no mundo rural, a natureza, ao amor, à maternidade e

à religião. O vocabulário regional e a pronúncia local também são ingredientes essenciais para a interpretação

do cante. Esta manifestação é reconhecida dentro e fora da região como o principal indicador da identidade do

Alentejo.»

A mesma música pode ser interpretada (e entoada) de forma diferente, variando de terra para terra, de acordo

com a tradição oral de cada território e essa é uma das maiores riquezas do Cante Alentejano: a diversidade.

O Cante assume significados sociais para a comunidade alentejana:

«O Cante é um aspeto fundamental da vida social nas comunidades alentejanas. (…) Para os seus

praticantes e aficionados, o cante encarna um intenso sentimento de identidade e pertença à sua região de

origem (…) é um importante veículo para reforçar o diálogo entre as diferentes gerações e géneros (…)

contribuindo para a coesão social e para o desenvolvimento regional e local.

O Cante trouxe muitas mulheres para o espaço público (…). Fora do Alentejo, o Cante é um dos principais

modos de expressão que ajudam a manter uma forte ligação entre os migrantes e a sua região de origem (…).

Em suma, o Cante habilita os homens e as mulheres a consolidar as suas comunidades, expressar as suas

emoções e resistir ao isolamento e ao esquecimento quando se trata dos portadores das tradições mais velhos.»

(inA Tradição (nova série) — Dossier UNESCO do Cante Alentejano).

O Cante Alentejano está inscrito na Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da

UNESCO desde o dia 27 de novembro de 2014, e já correu mundo, levando longe o nome de Portugal e do

Alentejo e constitui, cada vez mais, motivo de orgulho de um povo e atração cultural.

No ano em que se completa uma década de elogio ao povo alentejano, através do Cante,

A Assembleia da República saúda o Cante Alentejano pelos 10 anos de reconhecimento como Património

Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO e, nesse Cante, todo o povo alentejano.

Palácio de São Bento, 16 de outubro de 2024.