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0411 | II Série C - Número 024 | 16 de Abril de 2004

 

É de salientar que estes 15 incêndios representam 254.839 ha de área ardida ou seja 60,2% do total. Sublinhe-se que em 1998 e 1999 não ocorreram incêndios com esta dimensão e que em 2000, 2001 e 2002 apenas se registou um em cada ano.

5. As condições meteorológicas
Apesar da sua extensão relativamente pequena, Portugal Continental tem um clima que varia significativamente de região para região e de local para local. As principais causas desta variação são o relevo, a latitude, a distância ao mar e, para as regiões da faixa litoral, a orientação dominante da linha de costa.
Desde que os incêndios florestais se tornaram um problema social e também político, a questão climática sempre esteve presente em todos os debates em torno desta matéria. O calor, o vento e a humidade contribuíram para explicar a maior ou menor dimensão deste fenómeno. Ano após ano, a denominada "regra dos 30" - temperaturas acima de 30ºC, humidades abaixo de 30% e ventos com mais de 30 km/h -, foi-se banalizando.
Contudo, existem factores climáticos que são relevantes para a análise da dimensão dos incêndios florestais e que nem sempre são referenciados. Trata-se das ondas de calor que quantificam o número de dias consecutivos com temperaturas elevadas, do denominado efeito de secura que se relaciona com os teores de humidade na vegetação e das descargas eléctricas na atmosfera associadas às trovoadas.
Quanto a este último ponto, refira-se desde já, que nos dias 1 e 2 de Agosto verificou-se um número anormal de trovoadas nos Distritos de Portalegre e Santarém, que foram responsáveis por 15 dos 32 grandes incêndios iniciados nestes dias.
Foram vários os estudos que apontam o ano de 2003 como um ano particularmente quente. Por exemplo, a Revista Science divulgou um estudo de um grupo de cientistas da Universidade de Berna, na Suíça, que afirma que o Verão de 2003 terá sido o mais quente dos últimos 500 anos na Europa.
Segundo o Departamento de Investigação Climática da Universidade de East Anglia, o ano de 2003 foi o segundo ano mais quente desde 1856. A análise de várias séries climáticas levou à conclusão que a década de 90 do século XX foi a mais quente, sendo 1998 o ano mais quente, com cerca de 0,58ºC superior à média dos anos de 1961-90.
Em Portugal, o Instituto de Meteorologia afirma que o ano de 2003 como um todo, só não ficou para a história como o mais quente de sempre, porque teve um Inverno anormalmente frio. Assim, este ano é o nono na lista dos anos mais quentes.
No entanto, se a análise for baseada apenas nos meses de Verão, várias universidades europeias referem que, 2003 foi a ano com registos de temperaturas máximas mais elevadas. Em Portugal, os termómetros no mês de Agosto registaram, em média, 2,8 graus acima do normal para época. O que faz com que, em termos estatísticos, 2003 seja um ponto completamente fora da curva das temperaturas máximas.
Mas não se trata de saber qual foi o ano mais quente em Portugal. Tal conclusão, basear-se-ia em médias anuais que incluiriam as temperaturas verificadas em todo o ano e em todo o País e não avaliariam de forma detalhada períodos e áreas críticas como sucedeu em certos distritos entre finais de Julho e meados de Agosto.
5.1. A onda de calor
A ocorrência de períodos prolongados com valores elevados da temperatura máxima do ar é um fenómeno que ocorre com alguma frequência em Portugal. Desde a década de 1940, que estão identificadas ondas de calor, ainda que de extensão e duração variável.
No entanto, é na década de 90 que se registou a maior frequência deste fenómeno. Até 2003, as maiores ondas de calor tiveram a duração de 10 dias e registaram-se em Castelo Branco em 1954 e na Amareleja em 1991. Importa esclarecer que, cientificamente, segundo o Instituto de Meteorologia, "onda de calor" é o "número de dias por período, onde em intervalos de pelo menos 6 dias consecutivos, a temperatura máxima é superior ao percentil 90, isto é, é superior ao valor da temperatura que ocorre em 10% do tempo ou que é susceptível de ser excedida em 10% do tempo".
Ora, entre os dias 29 de Julho e 14 de Agosto, segundo o Instituto de Meteorologia, assistimos à maior onda de calor de que há memória, com 16 a 17 dias consecutivos de temperaturas máximas iguais ou superiores a 35ºC e a 40ºC. Tal situação afectou particularmente os Distritos de Castelo Branco, Portalegre e Beja.
Simultaneamente, verificou-se nos mesmos distritos e também no de Faro, um fenómeno de não arrefecimento nocturno, onde foram igualados e até ultrapassados os maiores valores de número de dias consecutivos com temperaturas mínimas iguais ou superiores a 20ºC e a 25ºC. Este facto também ocorreu durante 16 a 17 dias.
Entre os dias 1 e 3 de Agosto tivemos valores extremos de temperaturas máximas que foram superiores a 40ºC para a bacia hidrográfica do Rio Tejo e todas as regiões que ficam a Sul desta. Nos Distritos de Castelo Branco e Portalegre, estes valores excederam os 44ºC.
No mesmo período, as temperaturas mínimas foram anormalmente elevadas, sendo sempre superiores aos 26ºC nos distritos mais atingidos pelos incêndios florestais. No caso de Castelo Branco e de Portalegre estas temperaturas mínimas não desceram dos 28ºC.
A diferença climática que ocorreu entre diferentes zonas do território continental teve uma influência directa na dimensão das áreas ardidas. Por exemplo, enquanto em Portalegre houve um total de 102 incêndios (dos quais 45 foram fogachos) de onde resultaram mais de 69.000 ha de área ardida, em Braga verificaram-se 2.551 incêndios (com 2.046 fogachos) e a área ardida foi inferior a 3.000 ha.
5.2 O baixo teor de humidade
Associado ao fenómeno da onda de calor verificada entre finais de Julho e meados de Agosto, esteve a questão da humidade relativa do ar e da vegetação.
De acordo com os dados disponibilizados pelo Instituto de Meteorologia, no período atrás referido verificaram-se teores muito baixos de humidade relativa do ar (entre 5 e 15%).
Importa ter presente que o Inverno de 2002/2003 foi particularmente chuvoso o que contribuiu para aumentar significativamente os resíduos de matos e demais vegetação, criando assim maior quantidade de biomassa. A este período chuvoso, sucedeu-se uma Primavera e início de Verão particularmente secos (reduzida precipitação a partir do mês de Abril) o que diminuiu drasticamente os níveis de humidade na vegetação.