O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

0414 | II Série C - Número 024 | 16 de Abril de 2004

 

De facto, a partir dos finais de Julho quando a onda de calor se fez sentir e quando os incêndios começaram a aumentar de dimensão e intensidade, os corpos de bombeiros foram submetidos a um esforço nunca vivido, nem testado.
Tal situação tornou visível vários problemas e fragilidades do sistema de protecção civil e socorro.
Houve claras dificuldades por parte dos meios existentes nos vários locais para enfrentar os incêndios que entretanto tinham ganho uma grande dimensão. Tal situação obrigou à movimentação de 93 Grupos de Reforço Rápido (GRR) entre os dias 19 de Julho e 19 de Setembro, sendo a maior parte destinados aos Distritos de Castelo Branco, Faro e Santarém.
Detectaram-se situações e deficiências que devem ser consideradas graves e que é essencial que sejam corrigidas a curto ou médio prazo:
" Parte significativa dos veículos dos bombeiros não é adequada para o combate a incêndios florestais, devido às características do terreno. Trata-se de veículos destinados ao combate a incêndios em meios urbanos.
" Foi notório que se privilegiava o uso da água em vez das ferramentas de sapador no combate às chamas.
" Do ponto de vista da logística das operações, constatou-se um completo fracasso ao nível dos teatros de operações nomeadamente na organização de áreas de repouso, apoio sanitário, alimentação, abastecimento de combustíveis, reparação e manutenção de viaturas.
" Os GRR tiveram problemas de rentabilidade, pois eram compostos por viaturas desadequadas para movimentação em meio florestal e quando chegavam aos respectivos incêndios não dispunham de guias que os orientassem no combate aos incêndios.
" Houve falta de articulação entre os meios aéreos e os terrestres, devido a dificuldades de comunicação, o que não permitiu uma optimização no uso destes meios, a que também não foi indiferente a insuficiente qualificação de alguns pilotos e coordenadores aéreos.
" O problema mais grave e estrutural prende-se com o sistema de comunicações de emergência que está totalmente obsoleto e não deu resposta às necessidades operacionais que foram sentidas. Igualmente, a dificuldade em estabelecer comunicações justifica que se proceda à normalização dos equipamentos de rádio instalados nos veículos de socorro.
" Registe-se ainda as dificuldades em passar à prática os conhecimentos resultantes da formação em comando operacional nos teatros de operações. Tal situação resulta essencialmente do facto deste tipo de actividades não serem regularmente exercitadas pelos vários corpos de bombeiros.
A par destes problemas verificaram-se outros tipos de situações que importa abordar de forma clara e frontal.
Verificaram-se situações extremamente desagradáveis de conflitos de competências e funções entre comandos de corporações e entre estes e autarcas.
Foi ainda visível a enorme dificuldade em usar o contrafogo e as máquinas de rasto para conter a progressão dos incêndios, sendo claro que é essencial investir futuramente no uso destes dois processos.
Ocorreram ainda situações que são totalmente inaceitáveis do ponto de vista da protecção das populações, particularmente a inexistência de planos para realizar a sua evacuação em caso de perigo.
Salienta-se ainda a situação dos meios humanos dos corpos de bombeiros voluntários. Segundo o Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, Portugal dispõe de 41.630 bombeiros, dos quais 2.548 são profissionais, 38.783 são voluntários e 467 são privativos. O quadro de comando é composto por 1.109 elementos, o quadro activo por 24.633 bombeiros e ao quadro de especialistas e auxiliares pertencem 15.888.
Ora, como foi verificado durante os incêndios do Verão passado, o número de bombeiros intervenientes no combate às chamas foi muito inferior. Tal facto, é explicado pela Liga dos Bombeiros Portugueses que afirma não existir um problema de voluntariado, mas sim um problema de disponibilidade de voluntários.
Este aspecto é preocupante, já que em Portugal não existem outras forças organizadas para o combate a incêndios florestais de grandes proporções. Ao contrário de outros países, não dispomos de qualquer outra entidade estruturada e preparada para desempenhar as funções que cabem aos corpos de bombeiros. Daí o permanente recurso aos Grupos de Reforço Rápido (GRR) para suprir as dificuldades locais.
Para terminar caberá questionar se os problemas atrás referidos só agora surgiram.
A resposta é não.
Alguns destes problemas já existiam e já estavam identificados há vários anos. Outros, só agora ganharam expressão, porque a dimensão dos incêndios florestais assim o determinou.

3. A dimensão da tragédia
Os incêndios do Verão de 2003, para além da enorme área ardida, deixaram um grande rasto de destruição.
Em primeiro lugar regista-se o falecimento de 20 pessoas que entendemos identificar no quadro seguinte por respeito às suas memórias, indicando ainda a data, hora e local do incidente que as vitimou. Trataram-se de 17 ocorrências, estando entre as vítimas 4 bombeiros, dos quais três faleceram no combate às chamas e outro quando conduzia uma viatura dos bombeiros.

Nome Dia Hora Distrito Concelho Freguesia
Domingos Gonçalves 29-07 19:00 C. Branco Fundão Rochas de Cima
José Nuno Dias ("Padeiro") 30-07 16:00 C. Branco Oleiros Estreito
António Coroadinho Novo 01-08 18:00 Beja Borba Sobral da Adiça
Rosalina Gonçalves 02-08 17:00 Guarda Guarda Gonçalo
Lurdes Rocha 02-08 18:00 Santarém Chamusca Pinheiro Grande
Lucia Duarte 02-08 18:00 Santarém Chamusca Pinheiro Grande
Manuel Montoya 02-08 20:15 Santarém Chamusca Ulme
Isaias Huenhuam 02-08 20:15 Santarém Chamusca Ulme
José Catarro da Luz 02-08 18:00 Portalegre Ponte de Sôr Ponte de Sôr