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II SÉRIE-E — NÚMERO 19

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comandante Vaz Pinto a 20 de Agosto, refere-se que: “registou-se falta de atitude e proatividade, por parte de

algumas equipas e grupos em alguns momentos, incluindo o facto de não realizarem tarefas de consolidação

da extinção, quando tal lhes foi solicitado” e que “a falta de condições de segurança é alegada muitas vezes

pelos operacionais quando não querem executar uma manobra que lhes foi determinada”.

Também no relatório da AFOCELCA sobre o mesmo incêndio se refere que não houve capacidade técnica

e operacional para controlar o incêndio na tarde-noite da sexta-feira 3 de agosto, e que o incêndio também não

foi fechado durante a manhã do sábado 4 de agosto, onde existiram condições meteorológicas favoráveis para

tal e tendo sido identificados atempadamente os pontos críticos e de fácil resolução. Por outro lado, o mesmo

relatório refere deficiências, também apontadas pela ANPC, quanto à necessidade de supervisionar

tecnicamente o trabalho das máquinas de rasto e de o complementar com outros meios como ferramentas,

água e uso do fogo técnico. Ainda no mesmo relatório é feita uma referência a deficiências na vigilância,

referindo-se que deve existir rigor e zelo na realização destas tarefas tão importantes, devendo haver uma

vigilância proactiva e uma assunção de responsabilidade sobre as possíveis reativações futuras.

Muito embora não existam detalhes ao nível operacional que permitam conhecer em pormenor o que

aconteceu para que não se tenham aproveitado as janelas de oportunidade, em particular a que decorreu na

madrugada-manhã do sábado dia 4, tudo aponta para que, apesar do enorme dispositivo colocado no terreno,

a utilização desses meios não tenha sido eficaz.

Desta análise surgem algumas conclusões e recomendações que importa destacar. Em primeiro lugar

constata-se, neste caso, um elevado número de reativações por deficiente rescaldo. Esta constatação é

coerente com a do muito elevado número de reacendimentos em incêndios florestais em Portugal, problema já

identificado pelo menos desde o Projeto de Cooperação Técnica em Incêndios Florestais EUA – Portugal, de

2004, e apontado como uma grande falha no sistema de combate a incêndios.

Apesar de se ter estabelecido no PNDFCI como meta a redução da percentagem de reacendimentos para

menos de 1%, as estatísticas oficiais sobre incêndios continuam muito longe disso, com valores em vários

anos a rondar ou a ultrapassar os 10%.

No caso concreto do incêndio de Monchique (Relatório de Ocorrência 2018080033743), entre o dia 4 e o

dia 13 de agosto, verifica-se a ocorrência de 93 reativações, sendo as mais importantes aquelas que

ocorreram entre o dia 4 e o dia 9 de agosto. Em termos percentuais, a larga maioria dos reacendimentos

deram-se entre as 12:00 horas e as 18:00 horas, cerca de 56%, coincidindo com as condições meteorológicas

mais favoráveis para um aumento da intensidade do fogo (aumento da temperatura, descida da humidade

relativa e aumento da velocidade do vento geral e topográfico).

Frequentemente aponta-se como razão para não se dedicar tempo suficiente ao rescaldo, o facto de ser

necessário acorrer a vários incêndios ao mesmo tempo, razão que parece plausível em dias e regiões onde

existe um número extremamente elevado de ocorrências simultâneas. No entanto, no caso de Monchique esse

não foi definitivamente o caso dado não ter havido uma dispersão de meios por múltiplas ocorrências.

As razões de fundo para esta inoperacionalidade residem em deficiências há muito identificadas: a pouca

apetência para trabalhar com ferramentas manuais por parte de uma grande parte dos operacionais; a falta de

sentido preventivo no sentido de apenas dar como resolvido o incêndio quando estão eliminados todos os

focos de combustão, com e sem chama; a baixa proatividade de uma parte das forças de combate para se

empenharem a resolver um problema no momento e no local que têm a seu cargo.

Face a estas limitações não há planeamento nem tática nem empenho musculado de meios que resolva o

problema. Frequentemente a diferença entre um incêndio de apenas 620 ha ou de 27 mil ha, como foi o caso,

é ditada no momento e no local em que alguém ou algum grupo não se empenha para resolver um problema

que é da sua inteira responsabilidade.

A resolução do problema passa inevitavelmente por uma maior especialização e responsabilização das

forças que atuam nos teatros de operações. O trabalho com ferramentas manuais deve ser estimulado e

tornado obrigatório em todas as situações que beneficiem do uso desta técnica, nomeadamente nas

operações de rescaldo.

As operações de rescaldo devem ser realizadas por equipas frescas em número suficiente de acordo com

o perímetro de incêndio, as quais deverão trabalhar em plena autonomia e com um responsável pelas

operações. Estas equipas não deverão intervir nas operações de combate, mas dedicarem-se exclusivamente

à árdua tarefa de rescaldo.