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foi tambem demittido por não se declarar a favor do Governo! Se dá este passo o Commandante em Chefe, graduava-o em Major! Custou-me a conter o riso quando vi a celeuma, que aqui se levantou, por occasião da discussão das eleições de Villa Real na Camara passada. Os illustres Deputados que vejo adiante de mim, na esquerda da Camara, choraram lagrimas sentidas sobre uma viola partida e uma casaca rasgada (Riso) n'um quintalejo de Villa Real; (Riso) carpiram endeixas magoadas sobre os buracos de uma gaita de folies (Riso) e agora! Agora estão mudos e quedos perante todos os abusos e todas as tropelias que se practicaram nestas eleições. E na verdade pasmoso vêr a maneira como os nobres Deputados que tanto choraram sobre um casacão de brixe, e sobre uns pandeiros, como os Romanos choravam sobre a túnica ensanguentada de Cezar, censurando os abusos do Ministerio passado, venham hoje approvar o cardume de ignominias que pululla em todo o actual Processo Eleitoral; com a differença porém, que talvez o Presidente dessa administração calumniada tivesse alguma desculpa pela turbulencia do seu caracter e pela indole travessa do seu espirito. Mas homens que nos dão a moderação e a legalidade como a base da sua administração deitarem á barra os seus predecessores, é uma infamia, que não acho nome bastante forte, para explicar na minha amada lingoa portugueza, à indignação que me causa.

Esqueci-me quando pedi a palavra invocar antes de tudo não a benevolencia da Camara, porque se todos os Cavalheiros que estão aqui, não são meus amigos, de certo com boa razão não devem ser meus inimigos. Mas ha alguem na Camara que me assusta muito, e que vejo ameaçadores adiante de mim! São os Srs. Tachigrafos. No Codigo Penal da Tachigrafia os meus discursos são executados e adulterados.

Sr. Presidente, eu sei muito bem que o debate está circumscripto á eleição de Arcos de Val de Vez, mas parece-me que se se tractar agora a questão eleitoral na generalidade, os outros Pareceres irão depressa, porque não teremos então de recorrer ao que dissemos; se v. Ex.ª alterar a ordem do debate, deixando correr a discussão sobre a generalidade de todos os actos eleitoraes, nós chegaremos ao mesmo resultado, sem que desta amplidão provenha a demora no debate. Isto já foi feito pelo Sr. Corrêa Caldeira; foi feito pelo Sr. Justino de Freitas, e poderá continuar a fazer-se, se v. Ex.ª e a Junta o consentirem.

Se eu provar, Sr. Presidente, que o Governo interveiu realmente no Processo Eleitoral, parece-me que posso concluir que esta Camara não representa realmente o Paiz. -Já mostrei que 4 Deputados foram feitos por uma lista mandada ao Circulo Eleitoral pelo Governo de Lisboa. Direi tambem o que já expoz o Sr. Corrêa Caldeira. A carta do Sr. Rodrigo da Fonseca Magalhães e Duque de Saldanha ao Governador Civil de Bragança sobre este assumpto. Peço ao Sr. Mello e Carvalho, que repare no que vou dizer. Sei -que S. Ex.ª vai negar a carta escripta pelo Governo ao Governador Civil de Bragança, porque mal o Sr. Corrêa Caldeira fallou na carta, S. Ex.ª levantou-se logo e pediu a palavra. Sei as relações que o meu illustre amigo tem com o Governador Civil de Bragança, e por isso suppuz, e suppuz bem, que foi para o defender que] pediu a palavra,

(O Sr. Mello e Carvalho: — Não vou defender) ou para dizer que não é exacto; mas eu peço a S. Ex.ª que note — que se acaso a amisade negar, a critica e bom senso não negam. A carta appareceu nos Jornaes do Porto 30 ou 40 dias antes das eleições, e o Governador Civil não a negou, em todo esse longo periodo de tempo, e só depois da eleição consumada é que appareceu o seu desmentido, mas incompleto, mas imperfeito, porque replicando outra vez a Imprensa e sustentando a carta, o Governador Civil ficou calado. Á vista das regras da critica e do bom senso continuou a existir a carta: e nella se dizia: < Devem vir por esse Circulo o Pinto de Lemos, e o Barão de Sarmento. Podem tambem vir Ignacio Pizarro, «José Xavier, Tenente Coronel de Cavallaria 7, e os «Bachareis Almeida Pessanha, e Moraes de Carvalho O Sr. Moraes de Carvalho: — Peço a palavra) Porque o Governo quer Deputados, que approvem não só o que tem feito, mas o que tem tenção de fazer; quer Deputados que approvem o que ainda o proprio Governo não concebeu, quer, conforme escreveu o romancista Eugenio Sue, homens de paciencia inerte, de resignação estupida, e de obediencia passiva!... Não sei se esta carta é verdadeira; já disse que a critica e o bom senso a tomam como Verdadeira. O Governador Civil negou; o que aconteceu? O mesmo Jornal que publicou a caria, vendo o desmentido do Governador Civil, replicou immediatamente logo, logo. Affirmou o que tinha dicto, e citou testemunhas em seu abono. E note a Camara, não são homens ordinarios, não são homens desconhecidos na sociedade; é o Juiz de Direito, é o Major Azevedo, é um Negociante, e em casa deste Negociante é que o Sr. Xavier Pinto leu a carta assignada pelos Srs. Duque de Saldanha e Fonseca Magalhães. E se acaso a carta era falsa, porque a deixou correr 40 dias o Governador Civil de Bragança, e só veiu nega-la depois do Processo Eleitoral ultimado? Se a carta foi falsa, e não a negou, porque não querelou dos homens que o calumniaram, porque sempre é uma calumnia pôr uma Auctoridade Administrativa aos pés do Governo tão servilmente. Diz mais: (Leu)

Isto é positivo, é terminante; eu no caso do Governador Civil de Bragança querelava por uma acção de injuria.

Vou ler agora outros documentos que tambem não poderão ser contrariados. É a Esperança, Jornal como todos nós sabemos, escripto debaixo das inspirações dos Srs. Ministros. Ora que diz esta Esperança? Diz as cousas mais curiosas que eu tenho visto a respeito do Processo Eleitoral: (Leu)

O Sr. Frederico Leão Cabreira agradece ao Sr. Duque de Saldanha e ao Sr. Fonseca Magalhães a sua eleição, porque á protecção de S. Ex.ª deve o nosso illustre Collega o triunfo da sua candidatura.

Que querem mais? É o proprio Deputado eleito que vem dizer — «Eu fui Deputado porque o Sr. Duque de Saldanha assim o quiz!..Porque o Sr. Ministro do Reino esteve por isto!!!»

Outro documento. — Os Eleitores de Monforte, alguns, agradecem ao Governo a bondade que teve de lhes approvar a lista, que elles chamam sua, mas que effectivamente era do Governo.

Em Valença o General Commandante da Praça declara — «Eu sou Deputado porque me quiz o Sr. Duque de Saldanha;» e os Eleitores de Monforte dizem — «Fazemos Deputados fulano e sicrano, porque o Go-