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180 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

pectivo concelho, e no livro das suas actas consignou o seguinte:

«A camara municipal de Braga deplorando os acontecimentos que tiveram logar no
dia 28 do corrente, contra os procuradores á junta geral do districto por Guimarães, sente que não se tivessem tomado as devidas providencias para os evitar, e passa á ordem do dia.»

No mesmo dia reuniu-se a junta geral, representante do districto de Braga, e consignou nas suas actas um voto de censura analogo:

«Como prova de deferencia e lealdade para com os seus collegas insultados, não póde esta janta deixar de lamentar tão insólito procedimento da parte dos desordeiros, bem como da parte da auctoridade superior do districto, que, segundo nos consta, tendo conhecimento com antecipação do proposito em que estavam os manifestantes, não só não cohibiu essa manifestação, mas até parece que a tolerou. Protesta, portanto, a junta geral do districto de Braga contra esses factos violentos e arbitrários, e manda que se exare na acta esta sua declaração, tornando-se assim bem manifesto o seu desgosto, e que se tirem copias, que devem ser remettidas aos seus collegas offendidos e ao exmo. ministro do reino.»

Tanto uma como outra corporação censuraram o governador civil, imputando-lhe a culpa principal nos lamentaveis acontecimentos de 28 de novembro. A acta da junta geral foi mandada por copia ao sr. ministro do reino. Que fez o governo em presença d'estes votos de censura, inflingidos por votação unanime ao seu delegado de confiança? Conservou no seu cargo o governador civil accusado!
Dir-se-ha talvez que a camara municipal do concelho e a junta geral do districto de Braga procuravam por este meio declinar de si, e descarregar sobre a cabeça do governador civil, o odioso dos acontecimentos do dia 28; mas as declarações dos queixosos, as accusações dos representantes de Guimarães, são ainda mais expressas e frisantes!
A camara municipal de Guimarães reune-se em sessão extraordinaria, com assistencia dos procuradores concelhios á junta geral e de muito povo. Entre outras deliberações, resolve cortar todas as relações officiaes com as auctoridades de Braga. Não commentarei agora esta resolução, que o governo deixou de pé durante racz e meio, como sancção da anarchia! (Apoiados.) Á camara communicou esta resolução ao governador civil do districto, e, no respectivo officio, fundamentou-a quasi exclusivamente com as seguintes rasões:

«A camara municipal de Guimarães convenceu-se de que aquelles crimes proseguiram por occasião do procurador dr. Meira, descer as escadas do governo civil, entre vaias e apupos, estando v. exa. e o sr. commissario de policia dentro do governo civil; convenceu-se mais de que sendo estes acontecimentos premeditados e esperados não estava no governo civil nenhum agente da auctoridade, ou se estava foi cumplice nos actos apontados; convenceu-se mais de que v. exa. e o sr. commissario saíram do governo civil durante aquelles factos, e por isso não podiam ignorar o que se estava passando, e na presença da attitude hostil da população, não se tomaram nenhumas providencias para que fossem respeitadas as pessoas dos nossos representantes; convenceu-se de que durante o espaço de muitas horas se agglomerou muito povo, mais de 2:000 pessoas, enchendo o largo de Sant'Anna, largo do Barão de S. Martinho, rua de S. Marcos, etc., sem que v. exa. ou o sr. administrador do concelho ou o sr. commissario de policia tomassem as menores precauções para defender os nossos procuradores, quando é certo que já durante o seu jantar no hotel dos Dois Amigos não faltaram os assobios, os apupos, os morras, apresentando-se a multidão tão perigosa que não faltou já quem receiasse pela vida dos nossos representantes, e por isso os avisasse de que fizessem partir as carruagens vastas, e saíssem pelas Congostas, para a fúria popular assalariada se quebrar de encontro aos vehiculos e entretanto elles salvarem-se, o que os nossos representantes corajosamente não acceitaram ; convenceu-se que tudo isto era impossivel que succedesse com insciencia de v. exa. e das demais auctoridades.»

E porque se convenceu de tudo isto, e só por isto, foi que a camara municipal de Guimarães cortou as suas relações officiaes com as auctoridades de Braga. Não póde haver libello mais formidável, nem de proveniencia mais insuspeita. E que fez o governo? Conservou no seu posto o governador civil accusado!
Ainda mais. Os queixosos dirigiram um telegramma ao sr. ministro do reino, contando-lhe estes factos; e os delegados por Guimarães ao collegio districtal para a eleição de pares do reino, por telegramma o informaram do que, não tendo em Braga segurança individual, não iriam á eleição. O sr. ministro do reino respondeu ao primeiro dos signatários com o seguinte telegramma:

« Telegraphei immediatamente ao governador civil ácerca do lamentavel acontecimento a que v. exa. se referia. Já se levantou auto e segundo me assegura o governador civil estão tomadas todas as providencias para garantir o livre exercicio dos seus direitos e ampla liberdade das suas opiniões. Peço a v. exa. queira communicar este aos outros cavalheiros signatários do telegramma. = Barjona de Freitas.»

Quer a camara saber qual foi a replica?! Os queixosos enviaram em resposta ao sr. ministro do reino o telegramma seguinte:

«Desordeiros campearam ovantes durante horas no coração de Braga, sem uma prisão. Deram depois voto de louvor ao governador civil que os abraçou. Em taes circumstancias os procuradores e delegados consideram-se inhibidos de exercer seus direitos a que não renunciam.»

E assim continuaram os queixosos de Guimarães a accusar o governador civil como principal culpado, fautor e protector do ultrage que tinham recebido. Que tez o governo?! Continuou a dispensar a sua confiança ao governador civil accusado, e cuja demissão teria sido satisfação prompta e calmante para as paixões irritadas! (Apoiados.)
Ha mais. O governador civil dirige-se aos delegados de Guimarães ao collegio districtal, e pede-lhes que compareçam na eleição. Esses delegados respondem directamente ao governador civil, negando-se a comparecer, e dizendo-lhes, entre outras cousas, o seguinte:

«Tudo isto se fez sem a menor intervenção da policia, indo depois os criminosos muito socegados para um meeting, de onde levaram a v. exa. um voto de louvor, correspondido por v. exa. com abraços e as carinhosas palavras de que seria sempre contra os malevolos e a favor de Braga»

Os offendidos dirigem uma representação a El-Rei. N'esse documento lêem se as seguintes palavras:

«Permittiu-se ou promoveu-se que os nossos procuradores fossem apupados e apedrejados por uma multidão de 2:000 pessoas, evidentemente chamadas e concitadas para este fim; nem podemos suppor que as auctoridades não tivessem conhecimento do que se preparava. A arruaça durou muito tempo; a multidão estava já reunida com algumas horas de antecedencia; e todavia não se tomou nenhuma medida policial.»