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tocar, foi o projecto que está em discussão! O illustre deputado discutiu os caminhos de ferro de leste e do norte; discutiu a circular que eu mandei para fazer as estradas; discutiu o deficit, discutiu tudo, menos o projecto das estradas do Minho! O illustre deputado não tractou de discutir, qual é o encargo quedem o thesouro com este projecto; não o disse, nem qual e o interesse que tem os mutuantes, nem se o contracto e util ou prejudicial; tudo discutiu o nobre deputado, menos o projecto. Os talentos superiores ás vezes desvairam assim, e, não querendo pairar sobre o objecto de que se tracta, elevam-se a questões mais grandiosas, e deixam muitas vezes um assumpto, que reputam pequeno, mas que aliàs é a base e o thema da discussão. Foi o que fez o illustre deputado; e não creia a camara, nem o nobre deputado que eu digo isto sem a convicção profunda da minha asserção, porque ninguem faz mais justiça aos talentos do illustre deputado, do que eu. Estou costumado a respeita-los ha muito tempo; sou seu amigo, e o illustre deputado creio que me paga da mesma fórma; mas em finanças, administração e credito, dissente da minha opinião; e vejo-me obrigado por consequencia a procurar quanto couber nas minhas forças, refutar os argumentos do illustre deputado, que poderiam pelo seu talento e pela amenidade do seu estylo, fazer alguma influencia nos animos dos meus collegas desta camara.

Sr. presidente, o illustre deputado diz que dissente profundamente do systema de administração de fazenda, adoptado por este ministerio, e por consequencia pelo ministro respectivo. O illustre deputado dissente deste systema, porque julga que o governo tem contrariado (penso eu) as indicações mais obvias para a manutenção do credito publico. O illustre deputado que reputa e reputa bem o credito publico, como um elemento indispensavel para a prosperidade das nações, combate e combate, creio que por hypothese, o governo nas questões de fazenda. E velha já esta accusação da parte do nobre deputado; não póde por tanto ser nova a minha resposta. Mas agora, mais do que nunca, eu tenho razões a apresentar á camara e ao nobre deputado, para justificar o meu procedimento, e desfazer as suas considerações. A camara ha de permittir que tambem eu me affaste do objecto que se discute, porque tenho necessidade de responder a um illustre orador, que igualmente se affastou do objecto da discussão.

O governo, sr. presidente, teve necessidade, pelas circumstancias em que se achou collocado, de tomar certas medidas importantes e graves, violentas mesmo, se quizerem, para alguem, a fim de conseguir estabelecer a harmonia entre a receita e despeza do estado, e attenuar o deficit, que era o cancro mais -cruel, que roía o coração do paiz. Ainda me lembro, sr. presidente, do tempo em que eu, sentado naquellas cadeiras, (indicando o centro esquerdo) tinha ao meu lado o illustre deputado que todos os dias combatia o governo por não pagar pontualmente. O illustre deputado quer que o governo pague os serviços; quer que se não reduzam os juros da divida consolidada; quer (queria então, e creio que ainda o quererá hoje) que se não lancem impostos. Na presença de um deficit consideravel, como nós tinhamos, luctando com grandes difficuldades dentro e fóra do paiz; (O sr. Carlos Bento: — Peço a palavra) luctando com uma divida consideravel dos servidores do estado, e com uma divida enorme dos juros da divida fundada interna e externa, o governo anterior á situação actual, via-se n'uma situação difficil; e no entretanto, o illustre deputado não poupava esse governo um só dia, porque elle não satisfazia pontualmente ás despezas e encargos publicos, e porque elle apresentava um deficit consideravel. Então, era o deficit uma consideração que era preciso destruir por todos os modos; então, era o deficit o que arruinava as nações que desgraçadamente o tinham; era o deficit um mal que roía as entranhas do paiz: hoje, porém, que o deficit é muito menos consideravel do que o era então, caso que o illustre deputado não queira admittir que é nenhum; hoje, que o governo tem empregado os meios que lhe tem sido possiveis para satisfazer pontualmente ao serviço publico, e não só ao serviço publico, mas tambem aos encargos da divida fundada dentro e fóra do paiz, ainda o illustre deputado julga motivo para fazer accusações ao governo, porque não tem empregado outros meios (não sei que meios) para resolver a questão financeira! O illustre deputado accusa o governo por elle não usar do credito! Pois o governo não quer usar do credito?! Não disse eu que o governo tinha lançado mão de todas as medidas extraordinarias, que julgou convenientes para ver se o podia obter? Não disse eu que o governo não achava credito? Que não tinha podido obter o credito de outra maneira, para se conseguirem os fins que o illustre deputado deseja? Não sabe o illustre deputado que as circumstancias em que nos temos achado, tem difficultado o restabelecimento deste grande bem?

Ora, sr. presidente, eu na verdade tenho pena que o illustre deputado, que conhece esta questão perfeitamente, que foi meu amigo politico em outro tempo, e já mesmo no tempo de eu ser ministro; o illustre deputado, que quando se tomavam estas medidas, se assentou nos conselhos onde ellas se deliberavam, e finalmente, que escreveu nestas medidas, e que colaborava comigo, sinto, digo, que o illustre deputado e ja aquelle que venha aqui lançar-me a luva, por aquillo mesmo em que elle compromettia a sua opinião nesse tempo (O sr. Carlos Bento: — Ora!) Ora! É assumpto em que eu não hei de consentir nunca que o illustre deputado me lance a luva impunemente. O illustre deputado póde combater o decreto de 18 de agosto; póde combater o decreto de 30 de setembro; mas o que eu não heide consentir, e que o illustre deputado venha em pleno parlamento combater o decreto de 3 de dezembro, para o qual o illustre deputado concorreu.

Estas accusações, sr. presidente, não valem nada; e não seria eu que as trouxesse á discussão...

O sr. Carlos Bento: — Nem isso é a discussão.

O Orador: — Tambem não era a discussão do projecto o que o illustre deputado esteve fazendo, desde que começou a fallar até que acabou; (Apoiados) não era a discussão o dizer que o decreto de 3 de dezembro foi feito com precipitação, e que não se consideraram as cousas, como o deviam ter sido; que neste decreto figurou uma verba de 3:500 contos, quando eram 2:500 e tanto; que se não tenham procurado todos os esclarecimentos; e que isto era um erro da parte do governo, porque elle devia saber a quanto montavam os encargos da divida fluctuante dos empregados publicos, etc.. Tudo isto não vinha para a discussão do projecto, e no entretanto o il-