O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nhã tentaram os indigenas entrar pelo lado esquerdo da cidade. Nessa occasião parte da guarnição tinha retirado das linhas, assim como o seu commandante. Uma vedeta que ali estava, deu o signal de alarme. O tenente-coronel Araujo correu ao ponto do ataque e commandou o fogo com inegualavel coragem de forma que os cafres desistiram do ataque deixando no campo perto de 900 cadaveres.

Sr. Presidente: parece-me que este official bem merece da patria. (Apoiados). Elle soube conservar as antigas veneraveis tradições da nossa bandeira. (Apoiados).

Sr. Presidente: deve considerar-se o coronel Araujo, brilhante e despretencioso heroe, um benemerito da patria (Apoiados).

Para se saber o que os estrangeiros pensam de Lourenço Marques, peço licença para ler o artigo de um jornal publicado no Cabo.

Diz o artigo:

" Para ter a ostentação de conservar a colonia de Lourenço Marques, Portugal continuara a fingir que coloniza a costa de Africa, até que o azagaia do cafre venha confirmar as razoaveis doutrinas do direito internacional".

E mais abaixo diz:

"No estado em que estão as cousas, é bem possivel, e até provavel, que Portugal venha a ser desapossado d'aquelle territorio.

De que poderão servir os seus regimentos, dando mesmo de barato que elles sejam capazes de entrar desde logo em campanha activa, se, á sua chegada a Lourenço Marques, abandonada a cidade pela sua antiga guarnição, cheia de febres, tiver sido atacada e já estiver de facto nas mitos dos cafres?"

Comprehende-se que, não só Lourenço Marques, mas a provincia de Moçambique esteve em risco de perder se, por isso que se os indigenas tomassem conta da cidade, ella cairia noutras mãos.

Para que uma sagrada divida se pague, num tempo em que começamos a pensar em ser gratos e já quando outras dividas, até menores, se pagaram, vou mandar para a mesa um projecto de lei concedendo uma pensão vitalicia ao tenente-coronel o Sr. Antonio José de Araujo, esperando que tanto o Governo como a Camara subscrevam este acto e justiça. (Apoiados).

O projecto ficou para segunda leitura.

O Sr. Rodrigues Nogueira: - Sr. Presidente, direi duas palavras apenas.

Conheci em Africa o Sr. Tenente-Coronel Araujo, a quem o Sr. Belchior Machado acaba de referir-se. É um official intelligente, trabalhador e honrado. (Apoiados).

Deram-se pensões a outros, que não quer dizer que as não merecessem; mas este merece-a mais do que alguns d'esses.

É esta a rainha convicção; e como não pude associar-me em nome do partido progressista ao projecto que acabou de ser apresentado, porque me falta para isso auctoridade, quero ao menos, em meu nome, declarar que, se a Camara o approvar, considero essa approvação um acto de justiça.

(O orador não reviu).

O Sr. Belard da Fonseca: - É a primeira vez que tenho a honra de falar numa assembléa tão illustrada e distincta como esta, e mais ainda, é a primeira vez que falo em publico.

Cheio de receios, dominado pela convicção da falta de conhecimentos da vida publica e politica, e sem predicados litterarios, as minhas palavras modestas, mas sinceras, hão de fatigar, em vez de attrahir; mas eu espero que a Camara, a que tenho a honra de pertencer, desculpará as hesitações e os defeitos, a quem deixou ainda ha pouco tempo os bancos da escola, mas que entra na vida politica com vontade de ser util, e prestar ao seu país o pouco que vale.

É ao nosso Tejo que me vou referir.

Rio de alto valor para nós, já pela sua enorme bacia hydrographica, já pelo numero e importancia de alguns dos seus affluentes, que desnecessario é citar, pois são bem conhecidos da Camara, e que poderia prestar, não só á navegação mas tambem á agricultura, serviços importantissimos (Apoiados), é pelo contrario já hoje a causa de ruinas serias e graves, talvez mais graves no futuro. (Apoiados).

Não é só sobre este ponto, Sr. Presidente, que eu peço a attenção do Governo, e em especial a do Sr. Ministro dos Obras Publicas.

Ha outros não menos importantes. São os diques denominados dos Vinte, na Gollegã, e da Senhora das Dores, na Chamusca, para os quaes se tem seguido um systema commum entre nós, em todas as construcções, em todas as obras por mais simples que sejam, mas quo não pode continuar, que não deve continuar de forma alguma nas questões hydraulicas.

E a Camara sabe bem quaes são.

Approvam-se orçamentos, é certo, mas dá-se apenas um decimo ou um vigesimo do orçamento primitivo para a execução da obra, de forma que os trabalhos ficara sempre no principio (Apoiados), dando em resultado que, quando se concluem, teem custado tres e quatro vezes mais do que custariam se fossem executados de vez. (Apoiados).

E isto que succede com a maior parte das obras do nosso país (Apoiados), é isto que aconteceu e acontece com os citados diques dos Vinte e da Senhora das Dores.

Enche-nos de tristeza e desalento a comparação do que se tem feito lá fora, a favor da agricultura e dos meios de transporto pela via fluvial, com o que ha entre nós.

Emquanto a França, no fim do seculo XVI, se apresentava com 156 kilometros apenas de canaes e ribeiras canalizadas, um seculo mais tarde tniha já 677 kilometros.

Este salto enorme foi devido á construcção do canal de Briare e do canal do Meiodia, aos quaes ficaram ligados dois nomes notaveis: Cosnier de Tours e Riquet.

Esta febre de desenvolvimento de canaes e ribeiras canalizadas continua sempre, principalmente logo que se tornam praticas as barragens moveis (eclusas).

Assim, a França apresenta-se hoje com 12:250 kilometros abertos á navegação, divididos pela forma seguinte: 4:109 de rios e ribeiras de corrente livro, 3:299 de rios e ribeiras canalizadas, e 4:851 de canaes.

Para bem frisar os serviços que incontestaveis, prestam á navegação interior, ao commercio, á agricultura e á industria, basta a comparação do numero de toneladas transportadas pelas differentes vias.

Emquanto os transportes, referidos a toneladas kilometricas, são nas estradas de 1:517 milhões e nos caminhos de ferro de 10:409 milhões, são nas vias navegaveis de 4:365 milhões.

Se fizermos agora a comparação dos transportes pela via accelerada com os da aquatica entre:

Comprimentos medios explorados:

Vias navegaveis, 12:364 kilometros;

Caminhos de ferro, 36:472 kilometros.

Tonelagem media em relação ao comprimento da rede:

Vias navegaveis, 338:978 toneladas;

Caminhos de ferro, 362:398 toneladas.

Concluimos que, embora o comprimento das vias navegaveis seja inferior em 34 por cento ao dos caminhos de