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SESSÃO N.° 46 DE 2 DE ABRIL DE 1902 5

dante e productiva fauna industrial e agricola, perto de 300:000 pessoas; e sobretudo, pela sua magnifica situação geographica, a meio do Atlantico, entre a Europa, as Americas e a Africa, interposto as colossaes e crescentes relações marítimas d'estes vastíssimos centros do commercio e da industria do presente e do futuro - o archipelago açoreano mereçe, attenção demorada e estudo cuidadoso aos governos portugueses. (Apoiados).

A mais alta, mais difficil e mais útil das funcções de um estadista moderno é, sem duvida, Sr. Presidente, destrinçar, com firmeza e segurança, as feições e as necessidades sociaes do seu momento histórico, e prever, com acerto e lucidez, os problemas e os modos sociológicos que, na evolução de cada povo, só irão logicamente succedendo. Ora, de um modo geral e para a boa maioria dos homens de Estado modernos - como, ha pouco tempo, expôs brilhantemente, nesta casa, o meu illustre amigo e distincto parlamentar Sr. Anselmo Vieira -, os grandes problemas sociaes da actualidade, e de futuro mais próximo - pelo menos, são, e serão, sem a menor sombra de duvida, as grandes questões económicas.

Na tormentosa e ensinadora evolução dos povos civilizados, as questões políticas (que tantas guerras produziram e tanto sangue derramaram) passaram ao segundo plano por impraticas e as questões religiosas (que tantas paixões accenderam e tantas vidas consumiram) vão a cair, de todo, por inanes. Alguma cousa que num. ou noutro destes hereditários e tradicionaes assumptos ainda, por vezes, se agita, não é mais que passageiro phenomeno de atavismo doutrinal, mero facto de sobrevivencia sociologica, como que um coccix psychico, sem importancia de maior.

Percebeu-se afinal, e ainda bem, Sr. Presidente, que monarchias e republicas, por exemplo, se confundem nas suas maneiras serias de governar e de viver, e que, muitas vezes, estas não são mais progressivas nem mais humanas do que aquellas.

Sabe-se, já, perfeitamente, que não foi a republica que engrandeceu a America do Norte, mas, sim, as qualidades do povo e do meio americanos que, naquelle extraordinário pais, acreditaram a republica.

A vida intensa e crescentemente positiva das sociedades modernas deixaram, pela mesma forma, de quadrar as fundas preoccupações metaphysicas e as grandes, paixões religiosas.

Seja qual for o grau de exactidão da famosa lei de Malthus sobre os crescimentos das populações e das subsistências, o que é certo, Sr. Presidente, é que a vida social vae sendo cada vez mais estrenua e complexa, e que ao homem mais culto - mais capaz de bem sentir e bem pensar - antes e acima de tudo é necessário viver...

O numero dos habitantes de uma cidade ou de um país deixará, em breve, de exprimir-se, metaphysicamente, e segundo o velho modo euphemico, em almas, para ser computado, economicamente, e á maneira severa e realista do Japão, em estômagos.

Ora Portugal, Sr. Presidente, no fundo real e serio das cousas, não faz excepção a esta regra. Entre nós, como em todos os países actuaes, experientes, progressivos, ambiciosos, lutadores, não existem, nem podem existir, grandes ideaes políticos ou religiosos, rasgadamente sinceros, profundamente sentidos, e, como taes, productores de grandes actos e grandes sacrifícios. Mas temos como poucas nações, infelizmente, um dilettantismo ou melhor, um sport politico e religioso, artificial e epidermico mas irritativo e pruriginoso, entre ridículo e grave incapaz de produzir, é bem de ver, a regeneração economica e moral do pais, mas sufficiente para perturbar, por vezes, a necessária serenidade da nossa evolução nacional.

Pelo que respeita á previsão da grande forma de luta commercial e economica capaz de reingrandecer OCCIDENTAL PRAIA LUSITANA - teem-na nitida e perfeita, devem tê-la, os nossos homens de Estado. Assim tivessem, todos elles, a coragem e a firmeza, necessárias para que ella passasse de mera theoria palavrosa a solida realidade pratica. Portugal, Sr. Presidente, pela sua situação, pelo velho caracter do seu povo, pelas suas tradições e pelos eus domínios coloniaes tem de ser - sob pena de quedar-se sem funcção e, portanto, sem razão de ser - um país de intenso commercio marítimo e de extensa colonização civilizadora. É o seu grande programma de regeneração economica e a sua grande funcção internacional. E é tempo, Sr. Presidente, é tempo - se não é tarde - que o nosso bello país tome a serio e a peito o seu poderoso papel na vida, cada vez mais ligada e solidaria, das nações civilizadas. Mas, para isto, Sr. Presidente, é necessário, que terminem ou, pelo menos, se calem irritantes e anachronicas divergências políticas e religiosas em que homens de valor se esterilizam, em que os nossos partidos tão lamentavelmente se tolhem uns aos outros. É uma obra para todos e em que todos não serão demais. (Apoiados).

Que os dois ou mais partidos políticos d'este pais se aggrídam, se estimulem, se fiscalizem, mutuamenie, dentro de um programma severo de decoro e de justiça - era, sem duvida, um bem. Mas que sejam, Sr. Presidente, apenas inimigos e rivaes na alta e nobre emulação de bem servir e engrandecer cada vez, e cada um, melhor pátria! (Apoiados).

Na sua funcção marítima, Portugal, Sr. Presidente, não leve nem pode pôr de parte as ilhas dos Açores.

Collocadas entre a progressiva navegação mercante da Europa e a inevitável expansão dos turistas americanos, aquellas ilhas precisam ser preparadas em ordem a que possam, quanto antes, aproveitar, pôr em acção, valorisar,
sua excepcional posição geographica. Reclamam bons portos, boas docas, bons regulamentos marítimos, etc., e, acima de tudo isto, acima dos maiores interesses commerciaes e económicos, por um inadiável dever de humanidade
de brio nacional, as ilhas dos Açores, Sr. Presidente, devem ser pharolizadas! Urge que o trágico naufrágio nocturno deixe de ser o receio, o phantasma, o pesadelo, de quem navega nos mares dos Açores, e que ás plagas açoreanas, como, em geral, a todas as costas portuguesas, os ingleses - que apprenderam comnosco a navegar - deixem de dar, nas suas cartas marítimas, a designação afugentadora e affrontosa, mas, infelizmente, justa, de: costas tenebrosas! (Apoiados).

Mas ha mais e melhor, Sr. Presidente, que é fácil e necessario prever: quando a sciencia ao serviço da industria e, do commercio unir, pelo canal de Panamá ou pelo de Nicarágua, o Atlântico ao Pacifico; quando pelo corte interoccanico da America Central passarem, annualmente, segundo cálculos de Levasseur, de Amédie Marteau e de economistas norte-americanos, mais de 7.000:000 de toneladas de mercadorias, mais de 100.000:000$000 réis de géneros commerciaes; quando toda a navegação entre o occidente da Europa (desde Portugal até á Russia), as costas occidentaes das Americas (desde Alaska até ao Chili) e o oriente da Ásia, e da Austrália (desde o Estreito de Bering até á Nova Zelandia) atravessar os mares dos Açores; quando, todos os navios das actuaes e futuras linhas marítimas do norte de Portugal e da Hespanha, do norte occidental da França, dos portos da Bélgica, da Hollanda, da Allemanha, da Rússia, da Suécia, da Noruega, da Dinamarca e da Inglaterra para o occidente da America do Norte e da America do Sul, e para os portos do Japão, da China, da Insulandia e da Australia, e vice-versa, arribarem - attrahidos pelas já existentes estações telegraphicas internacionaes, e por interesses e commodidades de outras ordens que é mister desenvolver, - aos nossos portos insulanos; o nosso obscuro e esquecido
archiptelago dos Açores tera, então Sr. Presidente, impor