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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

responsabilidade de mandar proseguir as pesquizas não só em Bellas mas em outros sitios, cujos nomes n'este momento me não lembram.

Todos os trabalhos a que se procedeu n'este sentido foram coroados de bom resultado, e a camara, em eu lhe citando o nome do sr. Carlos Ribeiro, engenheiro distincto que está á testa d'esses trabalhos, ha do reconhecer que elle, não só pela sua intelligencia e pela especialidade dos seus estudos, como tambem pelo seu caracter, era incapaz de aconselhar ao governo que proseguisse n'aquellas obras, se | não estivesse convencido, pelas previsões da sua sciencia, de que os trabalhos dariam bons resultados, e com a experiencia não fosse successivamente demonstrando que os resultados eram como elle esperava exactamente, e como desejava que fossem, para que a cidade de Lisboa podesse com isso aproveitar, como effectivamente aproveiton.

A companhia não tem o dominio nem a posso d'essas aguas, embora ellas passem pelos seus encanamentos.

O sr. Francisco de Albuquerque perguntou com uma certa insistencia que proveito tirava o governo d'esta quantidade do agua que lhe custava já centenares do contos de réis; eu vou explicar a s. ex.ª e á camara como e que esse proveito resulta de se introduzir em Lisboa uma quantidade de agua independentemente d'aquella que a companhia tem.

Pelo contrario, a companhia é obrigada a dar de toda a agua, que tem, um terço para os usos publicos. Como em occasião do estiagem esse terço era inferior ao que exigiam os serviços publicos e municipaes, o governo de 1868, creio que sendo ministro das obras publicas o sr. Calheiros, fez um accordo com a companhia para que esse terço, qualquer que fosse a quantidade total de agua que a companhia tivesse, nunca podesse ser inferior a 72 ou 73 anneis.

Assim se estipulou; mas as necessidades dos estabelecimentos publicos, hospitaes, cadeias, chafarizes, e outros serviços, eram superiores, exigiam maior quantidade que os 72 ou 73 anneis que estavam estipulados, e o governo o a camara municipal, para satisfazer a essas necessidades, compraram e pagaram á companhia a agua que, alem do terço, era indispensavel.

A companhia não se oppoz a que o governo, obrigado d'aquella urgente necessidade publica, emprehendesse a exploração d'aquellas aguas e as introduzisse em Lisboa. E eu, sendo ministro das obras publicas, em nome do governo declarei na camara dos dignos pares, que áquella agua, qualquer que fosse a sua quantidade, acresceria sempre ao terço a que o governo tinha direito.

No inverno esta agua póde não ter valor apreciavel: quando, porém, o governo e a camara municipal carecem de maior quantidade que o terço lixado no contrato e no accordo, a que me referi, essa agua tem, pelo menos, o valor de dispensar o governo e a camara de pagarem á companhia a agua que, em muitas estiagens, lho compraram e pagaram. Digo pelo menos, porque é incontestavel, que a satisfação de necessidades publicas, urgentes e impreteriveis tambem tem valor.

De certo que se a companhia, no praso que já tem decorrido, tivesse cumprido exactamente as obrigações do sou contrato, o governo não se veria forçado a fazer esta despeza, porque teriamos hoje as aguas do Alviella que, até onde se podem calcular, são bastantes para satisfazer a todas as necessidades de Lisboa, (Apoiados.)

Mas o governo de que fiz parte ou antes o estado, porque é elle o outorgante no contrato, impoz a multa a que a companhia estava sujeita se no praso de quatro annos não tivesse terminado as obras do encanamento do Alviella. A companhia, no uso do seu direito, recorreu para o tribunal arbitral e o estado perdeu a questão!

Essa questão é conhecida de todo o publico o foi debatida na imprensa, que sem distincção de côr politica d'ella se occupou, apreciando a sentença como entendeu que era mais conforme ao direito, á justiça e aos interesses do estado. Mas v. ex.ª comprehendo que o poder legislativo não póde fazer outra cousa senão respeitar as sentenças dadas pelos tribunaes compostos de juizes integerrimos, tribunaes constituidos pelas leis e que, como um poder independente dos outros poderes do estado, tinham o direito de decidir o letigio como julgassem que era justo e equitativo. Ao governo de que fiz parte não póde imputar-se a responsabilidade de não ter propugnado pelo cumprimento do contrato.

Eu não podia obrigar a companhia a usar do exclusivo que lhe dá o contrato sobre a introducção das aguas em Lisboa; o governo não podia forçar a empreza a ir tirar agua de outro ponto que não fosse o Alviella, cujas aguas eram conhecidas em quantidade e qualidade.

O governo, portanto, aproveitou o meio do mandar explorar a agua onde a havia e introduzil-a em Lisboa. Ao principio abriram-se poços, e assim começou a exploração: a agua dos poços era extrahida por partidos de homens que se substituíam de quatro em quatro horas; e a camara comprehende bem que este modo de aproveitar a agua era muito custoso, muito dispendioso, não dava toda a utilidade que podia dar, porque o trabalho dos homens não era igualmente energico e efficaz.

Mas desde que o governo tem gasto 200:000$000 réis, quaes são as as obras que fazem hoje? Note bem a camara que as obras que se tem de fazer não são para descobrir agua, são para introduzir de um modo constante e permanente nos encanamentos da companhia as aguas que já se descobriram, e em quantidade que compensa os sacrificios feitos. Na secretaria das obras publicas existem documentos que demonstram a verdade das minhas asserções.

N'estas circumstancias entende a camara que o thesouro, que o estado, que o paiz, deve perder todo o dinheiro que já gastou? que deve poupar 84:000000 réis, privando a cidade de Lisboa do aproveitamento d'aquellas aguas? Julga a camara que é util e economico perder tudo quanto ali se gastou, e não despender mais alguns contos do réis, em trabalhos que completem e consolidem as obras emprehendidas, e assegurem á capital o goso permanente d'aquella agua? Não o creio.

Não quiz discutir, sr. presidente. A camara sabe que tenho assistido silencioso a todos os debates; mas tratando-se, n'esta questão, de factos da responsabilidade da administração de que fiz parte como ministro das obras publicas, entendi dever dar á camara estas explicações, e peço-lhe, me desculpe de ter por tanto tempo abusado da sua paciencia.

Vozes: — Muito bem, muito bem.

O sr. Presidente: — O sr. Francisco de Albuquerque mandou para a mesa uma proposta para se eliminar a verba de 84:000$000 réis para a exploração das aguas de Bellas; lembro porém ao sr. deputado que esta verba está incluida no artigo 1.°, e que esse artigo já foi approvado. Não sei se v. ex.ª requer uma nova votação sobre este artigo?

O sr. Francisco de Albuquerque: — Creio que a camara, se approvou o artigo 1.°, foi porque não sabia o que estava a votar.

O sr. Visconde de Moreira de Rey: — Estou em pouca disposição de espirito para tomar parte em quaesquer discussões, porque um acontecimento doloroso me af-fecla bastante e me obriga até a interromper a minha pro-sença nas sessões d'esta casa; no entretanto, emquanto me acho presente, julgo do meu dever não me dispensar de entrar nas discussões levantadas n'esta casa, e por consequencia na que agora se ventila ácerca das pesquizas da agua em Bellas.

Creio que o meu illustre collega e amigo o sr. Avelino deu, em relação ao passado, explicações tão cabaes quanto satisfactorias, que não deixam a menor duvida, debaixo do ponto de vista da vantagem, que nas estiagens anteriores