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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

a cidade de Lisboa tirou, das providencias adoptadas pelo governo.

Essas circumstancias, porém, passaram, e desapparcecu para o futuro, ainda que alguma estiagem nos ameace, a unica rasão que o sr. Avelino mostrou que tinha levado o governo d'aquella epocha a encetar, á sua custa, os trabalhos em Bellas.

O governo fez esses trabalhos, porque a companhia, disse s. ex.ª, não podia ser obrigada a despender os seus capitães na pesquiza do aguas de cuja existencia duvidasse; foi por isso que o governo tomou a si a despeza, mas desde que ella o fez, e desde que se demonstrou a existencia de agua n'aquella localidade e se demonstrou a ponto que não é licito nem á companhia nem a ninguem duvidar da sua existencia, cessou a rasâo apresentada pelo meu illustre amigo o sr. Avelino, como causa que determinou o governo a mandar lazer á custa do estado aquelles trabalhos.

Vindo uma nova estiagem, o em a companhia não querendo aproveitar á sua custa as aguas de cuja existencia já lhe não é licito duvidar, a responsabilidade já não é do governo, é da companhia.

Eu creio que com as companhias devo haver toda a justiça e toda a equidade, mas tambem entendo que nunca se deve passar alem d'essa equidade e d'essa justiça.

Nas considerações, que hontem fez o sr. ministro da fazenda n'esta casa, disse s. ex.ª que as aguas tinham sempre um valor que o estado não podia perder; que as aguas tinham sempre valor venal, quer fosse em Bellas, quer fosse em Lisboa.

Mostrou se hoje, porém, aqui, que o governo não póde intraduzir aguas em Lisboa, pelo privilegio que concedeu á companhia; e muito menos vendel-as, pelo exclusivo que deu a essa mesma companhia.

(Aparte.)

Para vendel-as fóra creio que não precisa de cncanal-as para ali, pela rasão clarissima de que, quando chegarem ao aqueducto que foi concedido á companhia, ella está no direito de lhes negar a entrada ali.

Que lucra, pois, o estado, com lazer uma despeza que leva ao aqueducto da companhia aguas que a mesma companhia tem o direito de se oppor a que entrem lá?

Pense a camara bem no que vota. Veja bem as consequencias que póde ter o seu voto. (Apoiados.)

Eu estou expondo simplesmente os factos como elles se apresentam, e esforço-me por expor esses factos com toda a clareza e com toda a exactidão.

Desde que o governo não póde introduzir aguas em Lisboa, nem as póde fazer passar pelo aqueducto que foi cedido á companhia, eu creio que é inutil qualquer despeza que se faça para introduzir no aqueducto aguas que para o governo não representam utilidade alguma, porque não póde dispor d'ellas. (Apoiados.)

Pôde o governo dizer que podemos ter uma estiagem antes de se terminar o canal do Alviella. Essa hypothese já eu a preveni na minha argumentação. Se vier uma estiagem, a responsabilidade principal é da companhia, se se recusar a fazer as despezas necessarias para introduzir no aqueducto aguas de cuja existencia já não póde duvidar, aguas que pertencem ao governo e que o governo lhe concede gratuitamente para essas occasiões de estiagem, para essas occasiões extraordinarias.

MaS consideremos a questão para o futuro.

Parece hoje indubitavel que, pelo adiantamento dado ás obras do canal do Alviella, em pouco tempo esses trabalhos estarão concluidos e que em Lisboa não haverá falta de agua.

Quando se terminarem esses trabalhos, ficamos, segundo a expressão do sr. Avelino, em inverno permanente; isto é, em circumstancias nas quaes as aguas de Bellas são absolutamente inuteis, porque não são necessarias pera o abastecimento de Lisboa. (Apoiados.)

Se essa occasião está proxima, que destino ha do dar o governo ás aguas de Bellas? 11a de dar-lhes o destino que lhes dá actualmente no inverno, reconhecendo que não são ellas precisas nem para o governo nem para os usos publicos da cidade, porque a agua que a companhia é obrigada a fornecer, é mais que suificicnlc durante o inverno, e porque a companhia não precisa da agua e o governo tambem não precisa d'ella.

Por consequencia esses 84:000$000 réis, que se vão gastar, parecem-me absolutamente perdidos.

Hontem eu disse ao governo, respondendo ao sr. ministro da fazenda, que se queria a agua para lhe aproveitar o valor venal era necessario que n'esta lei ou n'outra providenciasse para que o governo tantas vezes quantas quizer tenha direito de fazer passar a agua no aqueducto concedido á companhia, e para juntamente dar á agua a applicação que quizer dar.

Fora d’estas condições a camara póde votar a despeza, mas creio que vota despeza completamento inutil, e francamente entendo que não faz bem serviço ao paiz.

(O orador não reviu este discurso.)

O sr. Ministro das Obras Publicas (Lourenço do Carvalho): — Não tomarei muito tempo á camara nem procurarei do modo algum ampliar as explicações tão duras e tão categoricas que sobre este assumpto deu o meu particular amigo o sr. Antonio Cardoso do Avelino, porque pedi a palavra sómente para dizer ao illustre deputado, o sr. visconde de Moreira do Rey, que estes 81:000$000 réis não têem por fórma alguma applicação a novos trabalhos de pesquizas do agua, não lêem por fim se não consegnir que um certo numero de trabalhos em andamento não fiquem de modo algum em estado do se arruinarem.

Por exemplo, as galerias do differentes poços que ainda não estão empedradas e que é necessario empedrar, e emfim outras obras da mesma natureza que convem concluir para seu computo aproveitamento.

Direi ainda que os capitães não sei de quantos contes de réis gastos n’estas obras não se podem reputar perdidos ou mal despendidos, porque a applicação (Folies derivou de uma necessidade impreterivel, serviram para occorrer a uma deploravel calamidade publica; e oxalá que aquella agua não seja chamada de novo a satisfazer igual necessidade.

Por consequencia, nós não temos em vista, isto é, o governo não tem vista promover trabalhos do novo, o governo não tem em vista senão completar os trabalhos encetados para os consolidar e tornar mais duráveis o sem risco de perderes capitães que temos empregado e ano representam um valor incontestavel, e de o puder fazer valer desde o momento em que a agua possa ser fornecida ou vendida na localidade ou nas proximidades de Lisboa, e não vejo mesmo que seja impossivel fazer um accordo qualquer com a companhia (Apoiados.)

(Aparte.)

Mas isso não é uma questão para o parlamento. E muito possivel que aquella agua, antes mesmo do entrar em Lisboa, onde o exclusivo pertence á companhia, seja vendida nos arredores de Lisboa.

Outra ponderação que me parece importante é a de que, comquanto nós estejamos nas vesperas de ter as aguas do Alviella em Lisboa, porque, segundo os calculos da companhia, embora as obras não possam estai concluidas em 1878, á everão comtudo eslar promptas até á estiagem do 1870, temos sempre n'aquellas aguas um recurso contra qualquer eventualidade que se póde dar, alem da vantagem de poderem ser vendidas na localidade ou nas proximidades de Lisboa.

Portanto, esta verba de 84 contos, que o projecto indica, não tem por fim senão consolidar os trabalhos já leitos, concluir os encanamentos e empedramento das galerias; nada absolutamente de obras do arte.

(O orador não reviu este discurso.)