O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

950-D DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Carvalho, sapateiro, Domingos Soares, logista, Alves, boticario e tabellião e o caseiro do sr. dr. Arouca.

Estes indivíduos formaram, como disse, um syndicato, palavra a que s. exa. era tão avesso e tinha tanto horror quando estava na opposição e do que parece agora gostar tanto, para tomarem do empreitada esta estrada, que a final lhes foi adjudicada sem praça, sem concurso e á porta fechada.

Fiscalisação tambem a não ha, porque esta estrada foi dada a amigos, foi dada a estes indivíduos que acabo de indicar á camara.

Que bello ministro para os amigos!

Mas, ha mais ainda.

Estão-se fazendo obras na igreja parochial de Alcoentre e entre ellas uma tribuna muito luxuosa; obras que estuo orçadas em 6:000$000 réis.

Foi um mestro de obras de Lisboa para dirigir a construcção d'essas obras.

Os materiaes são fornecidos por António Izidro, outro amigo do sr. ministro das obras publicas, sem praça publica.

Tudo isto se está fazendo na Azambuja por favoritismo do sr. ministro das obras publicas e assim se gastam réis 52:000$000!

Não é muito; mas num anno em que se vão lançar impostos, quando se vae exigir ao contribuinte mais 6 por cento sobre todas as contribuições, declaro a v. exa. que é da gente se abysmar; porque é necessario tributar uns poucos de concelhos com o augmento dos a por cento, para chegar para estes esbanjamentos no concelho da Azambuja!

Relativamente á despeza, não me consta por ora de mais nenhuma; mas ha outros escandalos verdadeiramente phenomenaes.

Na administração do concelho da Azambuja existe já se vê, como em todos os concelhos, um secretario, e s. exa. querendo dar aquelle logar a um amigo e não sabendo como havia de arranjar isso, inventou um systema para fazer com que o secretario que lá estava saísse.

Este empregado não tinha commettido falta alguma pela qual merecesse a demissão, a saúde era boa; mas s. exa. que não se prende com pequenas cousas, arranjou um medico que inspeccionou este empregado dando-o por incapaz de serviço. Foi por isto demittido e nomeado então o amigo do sr. Frederico Arouca.

Ora tendo aquelle empregado sido posto fora da administração n'estas condições, para que não começasse a gritar e a fazer barulho era necessario empregai o de novo e foi então nomeado amanuense do governo civil de Lisboa com 300$000 réis do ordenado.

E por esta forma que se gasta o dinheiro que o povo paga para o estado, á custa de tantos sacrifícios. O secretario demittido chama-se Feliciano José de Sousa e o nomeado Ernesto da Cunha Moniz da Maia.

Os factos ahi ficam expostos com toda a singeleza, e accedendo ao pedido do sr. presidente, não desejo alongar-me por agora em mais considerações.

Fica para outro dia, o mais que tenho a dizer ácerca da maneira como corre a gerencia da pasta á testa da qual está o sr. Arouca.

Preciso de dizer a v. exa. e á camara que tenho informações a este respeito de pessoas muito fidedignas e é necessário, portanto, ver em que lei se funda o sr. ministro para desviar do thesouro publico a quantia de 52:000$000 réis a fim do fazer trabalhos no concelho da Azambuja, que não são das attribuições do governo.

Como estou com a palavra preciso de mandar para a mesa um requerimento.

Vozes: - Ordem do dia, ordem do dia.

O Orador: - Tenham v. exas. paciência que eu compenso-lhes qualquer perda de tempo que possam agora ter.

Vozes: - Ordem do dia ordem do dia.

O Orador: - Lembrem-se v. exas. que eu depois na ordem do dia posso fazer considerações tão demoradas que não passe um unico projecto hoje.

Reparem que o tempo que agora pretendem ganhar podem perdel-o, porque ninguem me impede de pedira palavra sobre os projectos que vão entrar em discussão e fallar por quanto tempo eu quizer.

Não sejam apressados porque nada lucram com isso.

Lembrem-se do seguinte provérbio «de vagar que tenho pressa».

V. exa. querendo ganhar agora quatro a cinco minutos podem perder daqui a pouco duas a tres horas e se querem experimentar digam! É fácil fazer a experiencia.

O sr. Presidente: - V. exa. vae mandar para a mesa algum requerimento?

O Orador: - Sim, senhor.

O sr. Presidente: - Então tem a bondade de enviai o para a mesa e de terminar as suas considerações. A hora está muito adiantada, o sr. ministro das obras publicas já pediu a palavra para responder a s. exa. e depois não nos fica tempo algum para tratarmos dos projectos que estão em ordem do dia. (Apoiados.)

O Orador: - Desejava muito acceder ao pedido de v. exa. mas estes requerimentos careço de os ler e ainda antes disso preciso de fazer algumas considerações sobre elles.

(Susurro.)

Mas o que me parece, é que é completamente novo o procedimento dos meus collegas da maioria!

Pois quando eu estou fazendo accusações gravissimas ao sr. ministro das obras publicas, querem v. exas que eu me cale?! Extraordinaria cousa! Não lhes basta esmagarem-me com os votos, querem tambem rolhar-me a boca.

Direi aos meus collegas que isso é um pouco mais difficil.

Vozes: - Ordem do dia, ordem do dia.

O Orador: - Ah! os senhores não querem ouvir? Pois vão ver o que lucram com isso!

Imaginam com esses processos salvar o sr. ministro das obras publicas, das arguições que tenho a fazer-lhe pelos escândalos que pratica? Estão enganados! V. ex.as podem absolvel-o o paiz é que o ha de condemnar.

(Susurro.)

Vozes : - Ordem, ordem.

O Orador: - Mas eu estou fora da ordem?!

Qual é a ordem?!

Continuem que vão bem.

O sr. Presidente: - Peço a v. exa. o favor de deixar para outro dia as considerações que tem de apresentar, attendendo á circumstancia de que a hora está adiantada.

O Orador: - Cedo em consideração ao pedido de v. exa., mas não às exigências da maioria. E preciso que a maioria se convença de que a altitude aggressiva que tiver para commigo, não me intimida. (Apoiadas.), e que não lho admitto imposições. Quem manda aqui é o sr. presidente e mais ninguém.

Olhem que esse não é o processo de se viver commigo. V. exas. imaginam que salvam por esses processos o sr. ministro das obras publicas? Verão que contribuem ainda mais para o perder. Termino, mas com a condição do sr. ministro vir aqui amanhã, para eu continuar a accusal-o.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O sr. Francisco José Machado: - Sr. presidente, acatando as resoluções da camara, permitta-me comtudo, que eu estranhe a sua deliberação, que vae preterir as praxes parlamentares para encetar a discussão de um projecto sem estar presente o respectivo ministro.

É mais um caso perfeitamente novo a que nós assistimos, partindo do governo e principalmente da sua maioria.

Bem bastava as vezes em que o governo tem amesquinhado o systema parlamentar; bem bastava as vezes em