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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

tração, de que se tratava, que era opinião de s. ex.ª que taes questões deviam ser tratadas por occasião da discussão do orçamento. (Apoiados.)

Mais de uma vez isto foi dito, aconselhado até, por os srs. ministros. (Apoiados.)

Penso que estará na lembrança do todos que o meu nobre amigo o sr. Luciano de Castro, nos ultimos dias de março, tendo a felicidade do ver presente n'esta casa o sr. ministro da guerra, lhe dirigiu uma longa serie de perguntas respeitantes todas a actos o assumptos do seu ministerio.

A camara presenciou o que se passou.

O sr. ministro da guerra deixou de responder, como aliás era perfeitamente natural, a algumas d’essas perguntas, a outras respondeu muito incompletamente e terminou dizendo que aguardássemos a occasião de se discutir o orçamento do ministerio a seu cargo, porque então haveria ensejo para mais largamente se tratarem os diversos pontos a que se referira o sr. José Luciano de Castro. (Apoiados.)

Ora, sendo assim, e a camara toda o ouviu, que estranheza poderá causar que a discussão do orçamento se tenha prolongado tanto? (Apoiados.)

Creio que com estas palavras em que não vae a mais leve censura á maioria, porque apenas refiro os factos, tenho respondido ao meu amigo e contemporaneo Osorio do Vasconcellos, que não vejo presente, o tambem ao meu amigo o ar. Carvalho e Mello, que na sessão diurna houve por bem pedir a materia discutida, tratando-se de um capitulo que importava em uma somma avultada, isto no momento de se encetar a discussão, no momento em que um deputado da opposição começava a pôr duvidas á exactidão de uma verba de 12:000$000 réis. (Apoiados.)

Repito, sr, presidente, não venho nem elucidar nem prolongar os debates, "mas unicamente, na minha qualidade de militar, por se discutir o orçamento do ministerio da guerra, cumprir um dever que julgo indeclinavel declarando o meu voto, em vez do o acobertar com o silencio que aliás seria para mim muito commodo, e por sobre commodo prudente.

A camara faz-me-ha a fineza de acreditar que não venho fazer um discurso. Venho simplesmente declarar o meu voto.

Sr. presidente, sou opposição ao actual governo, sou opposição aos cavalheiros que actualmente se sentam n'estas cadeiras, (apontando para as cadeiras dos ministros)- sabe v. ex.ª e sabe-o a camara toda, porque a minha attitude n’esta casa, apesar de extremamente obscura, nada tem tido de equivoca. (Apoiados.)

Mas porque sou opposição, porque não quero concorrer para a vida do actual ministerio com um só dia de existencia, não se segue que n'um ou n'outro ponto e em questão de ordem secundaria não diverja ou venha a divergir da opinião dos meus amigos politicos; no que porém estou plenissimamente do accordo com todos os meus amigos politicos e até me atrevo a dizel-o, com os meus amigos da maioria d'esta camara, é em que á verba importantissima que gastámos com o exercito, não correspondo por modo algum o estado actual do mesmo exercito. (Muitos apoiados.)

Sr. presidente, tenho a honra de ser militar, e com bastante magoa digo a v. ex.a e á camara, a verdade é que o exercito, como está, não merece ao paiz o sacrificio enorme de uma promessa orçamental de 4.000:000$000 réis a 5.000:000$000 réis, e de uma despeza effectiva de réis 5.000:000$000 a 6.000:000$000 reis! Não merece. (Apoiados.)

Eu declaro a v. ex.ª, sr. presidente, que não duvido votar 5.000:0005000 réis ou 6.000:0005000 réis a um ministerio composto de amigos ou de adversarios, quando esse ministerio corresponda á offerta orçamental que lhe faço, com todos os esforços para elevar o nivel moral o material d'essa grande instituição a que a nação tom confiados os seus mais caros interesses. (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Eu, pela minha parte, o creio que posso dizel-o, por todos os meus amigos politicos, não tenho duvida em votar uma verba grande, comtanto que a essa verba 'corresponda um exercito regularmente recrutado; regularmente organisado, regularmente administrado, regularmente disciplinado e regularmente instruido. (Muitos apoiados.)

E por isso, sr. presidente, que o exercito está livre de taes condições, é que eu na minha qualidade de militar, que tenho a honra de ser, não posso deixar de deplorar n'esta occasião que o sr. Fontes Pereira de Mello, o nobre presidente do conselho de ministros, homem de tão levantada intelligencia, do tão largas aptidões, com tão altos dotes, com os elementos e predicados necessarios para iniciar o talvez levar a cabo uma profunda reorganisação, com a sua palavra do estadista empenhada em iniciar essa reorganisação, não posso deixar de deplorar, digo, que -s. ex.ª, venha aqui depois de sete a oito annos de governo, fazer da sua administração militar uma synopse tão acanhada como a que ouvimos fazer hontem á noite, e apresentar-nos a lei de 1864 como a ultima palavra sobre a organisaçao do exercito! (Apoiados.)

Sr. presidente, voga agora uma idéa que não direi geral, e que me persuado poder classificar de muitissimo commoda, e é que não será possível* organisar-se militarmente um paiz, sem que esse paiz tenha passado por uma grande catastrophe nacional! Parece-me que isto é já tido como uma lei historica!

Pela minha parte, sr. presidente, limito-me a protestar, não creio na necessidade da catastrophe, no que eu creio é em que para um homem de estado poder levar a cabo a reorganisação militar do seu paiz, é preciso que tenha muita força e muito prestigio n'esse paiz. (Apoiados.)

E preciso ainda que, tendo força o prestigio no paiz, a tenha entre a propria força armada. E eu lamento que o sr. Fontes que teve esses elementos, os desaproveitasse.

Quando s. ex.ª póde, não quiz. Agora não póde, é tarde!

(Interrupção.)

E uma questão de opinião, e esta é a minha. 'Venha embora o sr. Fontes com a sua nova lei de recrutamento, a qual nos insinua como a base de uma futura redempção, lei que não quero discutir agora, mas que reputo fatalmente condemnada; venha embora com essa lei, mas a verdade é que não ha de conseguir nada, porque ainda uma vez o repetirei, s. ex.ª não tem hoje no paiz, nem a força nem a auctoridade do que carece, e até creio que não tem no exercito o mesmo prestigio que já teve.

E muito de proposito digo «creio», porque eu fallo sob minha unica e inteira responsabilidade.

Não sou n'esta casa o echo de nenhuma classe. Digo «creio», porque tenho a auctoridade que me dá a critica dos factos, o essa diz-me quaes são, se não já, ao menos n'um futuro proximo, as esperanças que o exercito póde ter no sou ministro..

A camara ouviu na sessão nocturna de hontem a synopse dos trabalhos feitos pelo nobre ministro da guerra em favor do exercito.

Quaes foram os dois pontos culminantes dos seus trabalhos de administração?

Parece-me que se limitou s. ex.ª á compra de material e armamentos e ao campo do manobras, não fallando em questões do interesso secundario.

Eu não desejo por modo algum discutir a questão dos armamentos, e peço licença para me dirigir especialmente ao illustre deputado, o sr. Sá Carneiro.

Não quero discutir a questão dos armamentos; acceito os factos consummados; applaudo o sr. Fontes na parte em que a compra dos armamentos foi boa, e censuro na parto em que por menos bem informado, ou por quaesquer mo

Sessão nocturna do 12 de maio de 1879