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SESSÃO DE 1 DE JUNHO DE 1885 1931

situação desesperada do um corpo que se esvae em sangue pelas arterias não laqueadas de uma amputação desastrada. E com o sangue vae-se a vida!
«Vamos depressa postar nos na embocadura do Zaire para evitarmos a amputação e estudarmos o remedio que nos livre da morte. Vamos occupar a costa do norte! É difficil por ser tarde; mas nós herdamos as tradições gloriosas de muitos heroes, e a voluntariedade diplomatica de alguns estadistas de talento, e temos obrigação de honrar essas memorias venerandas.
«Temos o dever de luctar pela vida, porque ainda estamos vivos, e emquanto ha vida ha esperança. Uccupemos a costa do norte e não cedâmos nem um palmo de terreno comprehendido nos nossos direitos reservados. Exige o a nossa política e aconselha o a ethnographia.
«Do que eu tenho dito já posso concluir, que a occupação parcial de Loge até ao Zaire não impede o mal que está imminente, mas acresce ainda que ella o augmenta. É verdade que nós temos da ponta do Padrão até á povoação de Pinda ou ao sitio do Convento, um logar para o desenvolvimento de uma cidade. Ficava-lhe em frente e já do lado de dentro do rio a magnifica bahia de Santo Antonio, que ainda hoje é o que era para os nossos galeões: um porto amplo, seguro e commodo. Mas esta cidade seria um umbral só da grande porta do Zaire, e o outro com o vão d'ella ficaria para os estrangeiros, que abulariam da partilha e da vizinhança. Ma a esta cidade nem teria, agua boa e abundante, nem seria a cabeça de um paiz de campinas, ameno, salubre e colonisavel. Mas esta cidade, emfim, seria a melancholica espectadora da prosperidade alheia, eternamente condemnada, a ver passar diante de si os trens da opulencia, que a salpicariam da ignominiosa lama!
«Do Zaire ate ao Loge, na zona da beira mar, os terrenos são aridos, e em geral pobres de tudo. São o mesmo que d'ali para o sul. Musseque cortado aqui e alem por um pequeno rio, que vem do longe, e só mantém a vegetação no valle onde chegam as suas aguas. O que são estes terrenos dil o a zona de entre Quanza e Bengo, ou de entre Bengo e Dande.
A região que a éste confronta com esta, onde começa o desnível para o planalto, é montanhosa e coberta de vegetação arborea gigantesca: e a continuação de Casengo, Golungo-Alto, Dembos e Encore. E estes pontos já são de mais para esgotarem a nossa força e aptidões para a cultura do café e similhantes. De maneira que, occupando só desde o Loge até ao Zane, não conseguimos nenhuma das vantagens da occupação da costa do norte: e acabamos de esterilizar os nossos esforços agrícolas, se quizermos distribuir por toda a região os meios e as forças que temos concentradas do Logo e Encoge para o sul.
«Os estrangeiros compreheadem bem isto, e por isso estão sempre promptos a confessar que do Zaire para o sul tudo é nosso, e a negar que tenhamos alguma cousa do Zaire para o norte ....................................................
«Precisâmos absolutamente do pedaço que vae do Zaire ao Chiloango, e principalmente porque aquelle é o territorio que mais commodamente podemos colonisar em toda a província de Angola.»
Refere-se o dr. Pinto a rasões ethnographicas. As correspondencias chegadas do Zaire indicam já as difficuldades provenientes de se não ter tido em attenção esse elemento do problema, tanto pelo que respeita á raça dos cabindas, como ainda á que habita proximo a Noki. Segundo parece o delegado do governo em Cabinda vira-se já obrigado a chamar para esse pouco a attenção do sr. Ferreira do Amaral.
Sr. presidente, estâmos quasi chegados ao fim da sessão legislativa. Ha muito que os jornaes annunciaram que o sr. ministro da marinha tinha encarregado uma commissão de elaborar definitivamente o plano da organização e occupação d'aquelles territórios. Referiram-se a essa commissão entre outros o sr. dr. Pinto nas conferencias da Trindade, e o sr. Carlos de Magalhães no livro que publicou ácerca do Zaire e da conferencia.
Pergunto pois, franca e terminantemente, ao governo se está na idéa de fechar o parlamento sem vir declarar quaes são as suas intenções ácerca da occupação d'aquelles territorios; se está ou não resolvido a gastar centenas ou mesmo milhares de contos sem que nós saibamos a que pensamento obedece a occupação d'essas regiões ingratas, cuja descripção pouco animadora acabo de fazer perante a camara?
Desde já declaro a v. exa. que pela minha parte estou prompto a annuir a todo quanto for indispensavel para salvaguardar a nossa dignidade n'aquellas regiões, mas visto tratar-se de terrenos pobres e doentios e encontrarmo-nos nós em tão grandes difficuldades financeiras, não posso consentir por minha parte em que o governo, que em geral tão generoso se mostra dos dinheiros do contribuinte, vá expandir as suas tendencias grandiosas organisando luxuosamente a administração nas novas provincias, sem que a nós, representantes do povo se nos diga sequer por que fórma vão desapparecer centenas ou talvez milhares de contos de réis. (Apoiados.)
Pela minha parte protesto desde já contra isso. (Apoiados.)
Desejo portanto que o governo declare do modo mais terminante se tenciona apresentar ou não á camara a proposta da organisação e occupação dos novos territorios. Desejo que elle nos diga se virá pelo menos pedir-nos, limitando-os, os creditos necessarios para essa occupação. Se não tenciona fazel-o é melhor em verdade e acabar de vez com esta phantasmagoria de parlamento. (Apoiados.)
Se o parlamento serve só para discutir gravemente despezas de centenas de mil réis, e quando se trata de milhares de contos nem sequer se nos diz quaes são as intenções do governo, se vamos ou não ter um exercito de novos funccionarios e custosas expedições militares, recorrendo-se para isso mais uma vez abusivamente as faculdades mal interpretadas do artigo 15.º ao acto addiconal, é preferivel, repito, usar de franqueza e fechar de vez as duas casas do parlamento. (Apoiados.)
E a proposito de despezas com que não podemos, vou agora chamar a attenção do governo para a questão das missões no ultramar, para a questão muito grave dos direitos do nosso padroado n'aquellas regiões, direitos que foram ha pouco preficientemente defendidos n'um memorendum da sociedade de geographia. Ignora a camara, o que não admira, porque ignorâmos quasi tudo, quaes foram os resultados das diligencias diplomaticas a tal respeito tentadas junto ao Vaticano. O que sabemos por nosso lado, o que vemos é que as missões francezas vão adquirindo influencia na Africa e influencia não simplesmente religiosa, mas altamente politica.
Não admira, até certo ponto. A primeira e melhor maneira de zelar os direitos do padroado consiste em poder mostrar que este cumpre os deveres inherentes a esse encargo tão honroso, e em que situação nos achâmos nós a tal respeito?
Toda a gente conhece as diligencias, os esforços, os trabalhos do benemerito e patriota padre Barroso, e de outros padres que o acompanham na missão tão importante de S. Salvador; missão que constitue o unico esforço, aliás recente em data, da propaganda catholica portugueza no centro de Africa.
Em alguns numeros do jornal da sociedade de geographia têem sido publicados differentes trabalhos dos padres Antunes e Brum, um dos quaes ha pouco li, descrevendo-se n'elle as regiões entre S. Salvador e o Bembe, e fazendo-se sobresair os vestígios ainda existentes e a influencia sensível que, apesar do tempo decorrido, exerce ainda n'aquelles sertões a religião catholica. E esse facto, tão importante, está-nos indicando que nas missões existe um ele-