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110 DIARIO DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

occupou a tribuna parlamentar em nome da opposição, era inevitavel que alguem lho respondesse por parte do governo.

Queixa-se s. exa. de ser o thema quasi constante do todos os debates; mas é esse o condão natural dos homens de grande vulto. Só elles projectam sombra. S. exa. tem altas faculdades, tem exercido os mais eminentes cargos na administração do paiz; pesam sobre o digno par as correspondentes responsabilidades; não admira, pois, que a sua vida publica sirva frequentes vezes de thema aos debates dos partidos. O contrario é que seria de estranhar; porque os homens que não se discutem são aquelles que passam sem deixar vestigio.

S. exa. alargou-se em variadas considerações politicas no intuito de provar que a nomeação de novos pares não fôra constitucional. N’esse intuito lançou mão da historia e da dialectica, fez excursões pela politica ingleza, invocou os seus precedentes o os de outros homens publicos. E d’essas ai lega coes, de3se longo desfilar de factos, de argumentos, de apreciações e de theorias destacaram duas ordens de idéas inconciliaveis e oppostas; destacaram, por assim dizer, dois srs. Fontes Pereira de Mello, um com quem inteiramente concordo; outro de quem divirjo não menos inteiramente.

O illustre parlamentar declara-se opportunista, e qualifica de doutrinario o partido progressista. Confessa se opportunista inglez; opportunista a quem não póde bastar o voto do parlamento para traduzir a opinião publica; e, para contraste, põe em parallelo esta opportunidade e o nosso doutrinarismo. Somos nós os doutrinarios, os doutrinarios á Gnizot, e s. exa. o opportunista, o opportunista á Gladstone, o opportunista que necessita de coefficientes de correcção para a confiança da corôa combinada com a do parlamento.

Mas o sr. Fontes, o opportunista inglez, protesta confiar plenamente no parlamento; no parlamento que carece de coefficientes de correcção, no parlamento que simultaneamente taxou de viciado na sua origem! Mas o sr. Fontes tem confessado que não lê jornaes, e hoje accrescenia que nem para elles escreve, o que não é em louvor da imprensa nem seria julgado em Inglaterra do melhor opportunismo. Mas o sr. Fontes ufana-se da não convocar meetings, nem a elles assistir, justamente o contrario do que praticam os Gladstone, os Disraeli, e ainda do que nós praticâmos, nós os progressistas, nós os doutrinarios, como s. exa. nos appellida. De modo que uns arvoram a bandeira do opportunismo britannico que não seguem nem praticam; outros, sem lançar pregão, nem arvorar bandeira adoptam aquellas praticas, não menos saudaveis que legitimas. E, sem mais exame, denominam-nos sectarios do doutrinarismo!

E quem assim distribuo denominações e titulos é o sr. Fontes Pereira de Mello, que a um tempo exauctora o systema parlamentar, suppondo viciado o seu principio vital, e assevera ter plena confiança no parlamentarismo, por haver n’elle remedio para todos os males ainda os mais profundos. Singular contradicção em tão levantado espirito!

Opportunista á ingleza aquelle que entende haver exclusivamente na Villa parlamentar recurso para todos os casos emergentes, e que pela vida parlamentar e só por ella se póde aquilatar o estado da opinião publica! Opportunistas á ingleza, como s. exa. diz ser, se existem, estão n’estas cadeiras, pois nunca fugimos do povo, nunca duvidámos ouvir a sua voz, nem nos esquivámos ás assembléas populares, nem hesitámos em convocar comicios.

A s. exa. ouvi eu ia dizer na camara dos senhores deputados. que as votações parlamentares eram para um governo os unicos indicadores da opinião publica. Hoje ouço fallar em coefficientes de correcção. Que haja difficuldade em apreciar a opinião publica pelos signaes extra-parlamentares, concordo; mas que as votações parlamentares sejam o unico meio de a aquilatar não me parece orthodoxo para um opportunista britannico.

Ainda bem que já se reconhece haver outros coefficientes do correcção para se tomar o pulso á opinião publica, embora se não aponte quaes sejam.

Apreciemos, pois, essa opinião publica, não só pela vida parlamentar, mas pelos factos que succedem fóra do parlamento.

Quaes são os coefficientes de correcção que o illustre chefe do partido regenerador julga deverem ser tomados em conta?

Será a paz publica? Mas no paiz reina uma paz verdadeiramente octaviana; reina uma tranquillidade inalteravel, apesar do lançamento de impostos e dos clamores da opposição.

Talvez, porém, a ordem publica não seja para a opposição um seguro indicio.

Será o credito publico? Mas o credito sustenta-se, o emprestimo levanta-se em condições vantajosas, e as inscripções sobem, apesar do imposto que, no dizer da opposição, era a sua ruina.

Talvez, porém, o credito não seja thermometro seguro da opinião dos grandes interesses e do commercio do paiz.

Será a prosperidade publica e a facilidade relativa na cobrança do imposto?

Mas o commercio reanima-se, a industria restabelece-se, e a cobrança do imposto é menos difficil auxiliada pela transferencia dos empregados fiscaes, ou apesar d’essa transferencia, no dizer dos adversarios.

Talvez, porém, não seja este ainda o coefficiente de correcção de que nos devamos servir.

Serão as manifestações contra o augmento de impostos?

É sabido que ha poucos dias foram feitos esforços pela opposição extra-parlamentar para que os lojistas da capital cerrassem as portas dos estabelecimentos, como manifestação contra o imposto do rendimento; e viu-se no dia da annunciada manifestação que as portas se mantinham obstinadamente abertas, a despeito d’esses esforços.

Uma Voz: — Mas quem foi que fez esses esforços?

O Orador: — Individuos estranhos ao parlamento; já o digno par, o sr. Fontes, fez a declaração do que não se responsabilisava pelos actos opposicionistas praticados fóra do parlamento, nem eu attribui responsabilidade alguma á opposição parlamentar.

Uma voz: — Eu não sei d’esse facto.

O Orador: — Mas sei eu, que leio os jornaes, e traio com lojistas o negociantes, que me informaram das diligencias porfiadamente empregadas. Entretanto viu-se qual a repugnancia dos lojistas ao imposto de rendimento; a manifestação verificou-se, as portas fecharam-se effectivamente; mas, como todos os dias... á hora do costume.

Não serão as eleições supplementares um coefficiente de correcção bastante significativo mormente depois do lançamento de impostos?

Lançaram-se impostos, buliu-se nos cordões da bolsa do contribuinte, e este, que tem a susceptibilidade da sensitiva, quando se trata da bolsa, sujeitou-se a essa inexoravel necessidade e não retirou ao governo a sua confiança. Sobrevieram as eleições supplementares sem que a opposição aproveitando a conjunctura, pudesse travar batalha em quasi nenhum circulo.

Uma voz: — Largue o governo essas cadeiras que logo acontecerá o mesmo.

O Orador: — Diz o digno par, que larguemos ministros estas cadeiras e logo succederá o mesmo. Acaba s. exa. de levantar a questão largamente tratada no ultimo dia pelo o digno par o sr. Fontes, isto é, o vicio de origem em que laboram as eleições.

Ha nas eleições, como na imprensa, na associação, na familia, e em todas as cousas do homem, abusos inherentes á liberdade e á condição humanas, mas d’aqui a dizer-se que as eleições estão viciadas na origem medeia um abys-