O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

APPENDICE Á SESSÃO N.° 15 DE 5 DE JUNHO DE 1908 17

Discurso proferido pelo Digno Par Conde de Bomfim, que devia ler-se a pag. 11, col. 3.ª, da sessão n.° 15, de 5 de junho de 1908

O Sr. Conde de Bomfim: - Sr. Presidente: Em má hora, em momento de exaltação me chegou a palavra, mas as considerações que me proponho fazer são absolutamente serenas, as que me suggere o assunto em discussão, e algumas passagens dos discursos dos oradores que me precederam.

Sr. Presidente: mando para a mesa a minha moção, que não posso deixar de ler, porque expõe com toda a franqueza e desassombro as minhas ideias, que são contrarias diametralmente ás do Sr. Conde de Arnoso.

Essa moção diz o seguinte:

A Camara, lamentando os factos occorridos no dia 1 de fevereiro e protestando contra a infamante tragedia, confia no Governo de concentração monarchica, que, defendendo as instituições liberaes que nos regem, garantirá a autonomia da patria.

Sr. Presidente: apresentando esta moção a- Camara certamente ficará convencida do que eu affirmei: que, ao contrario do que disse o Digno Par o Sr. Conde de Arnoso, presto o meu apoio ao Governo.

Agora vou dizer as razões por que hoje falo nesta Camara, na situação especial e particular em que me encontro.

Todos teem conhecimento do profundo desgosto por que acabo de passar (Apoiados) e a todos estou muito reconhecido, e ao Governo tambem, pelas demonstrações de sentimento que recebi no transe dolorosissimo do fallecimento de minha esposa; mas entre ellas ha umas que eu não posso deixar de especializar, quaes são as que dizem respeito aos membros da Familia Real.

Sr. Presidente: seria, se outras razões não houvera, um grande desprimor da minha parte se não aproveitasse este ensejo para manifestar a minha gratidão para com a Familia Real, e ao mesmo tempo protestar bem alto contra os acontecimentos do dia 1 de fevereiro, manifestando a minha reprovação a esse horroroso e hediondo crime, que feriu o coração de uma esposa amantissima, sublime de heroicidade ante essa funesta, tragedia, que enlutou a alma do nosso Rei, e tanto veio amargurar ainda mais os dias d'essa princesa de Saboya, excelsa viuva de D. Luiz I, cujas qualidades e actos benemeritos a teem classificado com o cognome de anjo da caridade.

Agora em referencia aos discursos anteriores farei algumas considerações.

Sr. Presidente : referiu-se o Digno Par o Sr. Alpoim aos membros d'esta Camara que se não levantaram para clamar contra os acontecimentos de 18 de junho, distinguindo apenas tres que lavraram o seu protesto; e não obstante o Digno Par pretender reunir tres membros d'esta Camara a essa accusação, não lhe é facil fazê-lo, juntar aquelles que declararam que não querem viver juntos ainda' que a companhia seja boa.

E emquanto aos restantes a sua accusação é sem base.

Todos entenderam que bastava que o Sr. Alpoim com a sua autoridade, que é grande, discutisse e pedisse contas ao Governo por esse acto, para não intervir excitando o debate. Mas não ha parallello entre esses acontecimentos que provêem sempre da luta entre desordeiros, ou discolos e a força publica, embora se lamentem os resultados sangrentos que d7elles resultam e a perda de vidas, e o attentado, barbaro, traiçoeiro, execrando, que arma o braço assassino contra o Rei, tirando-lhe a vida, e a do Principe herdeiro, attentado que não se pode admittir numa cidade civilizada, e num país que aboliu a pena de morte.

Crime horrivel, que pôs em perigo não só alguns membros da Familia Real, mas ainda toda a dynastia de Bragança, e quiçá a autonomia da nação. (Apoiados).

Tal facto foi, e muito bem, condemnado, não só no país, por todos aquelles que teem uma razão firme, fria e serena, mas por todas as potencias estrangeiras, quer sejam monarchicas ou republicanas.

Sr. Presidente: vamos por partes analysar os pontos a que se refere o Discurso da Coroa, reformas politicas, reforma da policia, e outras, mas antes permitia V. Exa. que eu me refira ainda mais uma vez aos- acontecimentos qiie tanto emocionaram a nação portuguesa, que tanto sobresaltaram o país inteiro, em torno dos quaes, os homens publicos cheios de acrisolado patriotismo, que são dedicados á monarchia. se reuniram para defender as instituições e salvar a patria.

Foi em consequencia de factos tão graves que o Conselho de Estado entendeu que era preciso dar razão á opinião publica, que era necessario acabar com a ditadura, expulsar do governo da nação o ditador, e formar um Governo que pudesse pela sua força impor-se á opinião publica e dispor de elementos fortes, para que o país pudesse atravessar esta difficil crise politica que tudo ameaçava submergir.

Podia divergir-se de que o Governo não fosse exclusivamente de um partido, como a meu ver é obrigação dos partidos não declinarem a administração do Estado, nas circunstancias difficeis; mas que os partidos monarchicos sejam hoje accusados por terem preferido um Governo de concentração monarchica, e entenderem que mais força lhe vinha da união dos dois grandes partidos, parece injusta a accusação.

E os partidos são accusados ainda por differentes formas, e accusaram nos por terem commettido erros, mas essas accusações são tão contraditorias que confesso a V. Exa. que não chego a comprehendê-las.

Vejo por um lado atacar os partidos, por se terem unido, por os seus chefes não terem assumido a responsabilidade do poder.

Ora de duas uma: ou elles não merecem censura, ou então não valia a pena virem atacar o Sr. Julio de Vilhena, por ter andado afastado da politica partidaria.

O Sr. Julio de Vilhena, espirito de predilecção, meu companheiro nas lides parlamentares, do tempo de Fontes, caracter immaculado, e um ornamento da tribuna, cujos conhecimentos literarios e trabalhos lhe adquiriram reputação europeia, seria um chefe de situação, mesmo no momento actual, com força e autoridade.

E ufano-me de o ter procurado para chefe, que tão bem acceite tem sido.

Foi o Sr. Ferreira do Amaral comtudo o escolhido para Presidente do Conselho, o que nesta occasião constitue um sacrificio. O Sr. Ferreira do Amaral é um homem em quem todos reconhecem grandes faculdades de trabalho, e todos aquelles :que o Sr. Ferreira do Amaral escolheu para companheiros são homens dignos de toda a nossa confiança.

Por conseguinte o Governo que se