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Sessão de 5 de Dezembro de 1917 5

que constitui um verdadeiro escárneo o facto de estarmos constantemente a ouvir dizer que paralisarão algumas indústrias, porque não há gasolina, ao mesmo tempo que isso sucede, nós a todo o momento encontramos pelas ruas de Lisboa e arredores, automóveis cheios de oficiais do exército, que na maior parte das vezes não vão certamente em serviço oficial, mas em serviço particular.

Sr. Presidente: isto são cousas que todos nós vemos e sentimos; mas o que é preciso é ter a coragem de fazê-las ver ao Govêrno, porque é necessário respeitarmos o decoro das instituições.

Hoje o automóvel entrou já no domínio dos meios de transporte vulgares, mas o que se não compreende é que haja serviços públicos, principalmente do Ministério da Guerra, onde quási todas as individualidades se julgam com direito a um ou mais dêsses veículos para o seu serviço particular.

Pois é o Govêrno que nos vem dizer que temos de economizar gasolina, consentindo que êste produto duplicasse de preço, sem que o Govêrno providenciasse!

É necessário que o Govêrno dê o exemplo, fazendo economias nos seus automóveis, os quais, pode dizer-se, gastam gasolina, borrachas e demais acessórios às toneladas por dia.

Diz-se - porque eu não tenho automóveis- que o particular que tem um dêstes veículos, gasta 4 contos por ano. E sendo assim, eu pregunto: qual a despesa do Estado com esta situação, em que se chegam a encher depósitos de automóveis particulares com gasolina adquirida pelo próprio Estado?

Não basta ser-se honesto: é preciso mostrá-lo tambêm, e nos vários detalhes da administração pública portuguesa, só vemos hoje motivos para censuras, porque é tudo quanto há de mais repreensível a forma como os serviços públicos têm sido administrados e executados.

Desejaria mais fazer outra pregunta ao Sr. Ministro da Guerra, e para isso me reporto a um jornal que não é órgão do meu partido, mas de um partido que é colorador do Govêrno, pelo menos no Parlamento - o Partido Evolucionista.

Quero referir-me a um oficial médico que está fazendo as inspecções no distrito de Braga.

Êste homem tem um processo pendente dos tribunais, porque invadiu uma assemblea eleitoral. Pois êste homem, vinte e quatro horas depois, foi exercer as funções de presidente da Junta de Revisão.

Veja V. Exa. quanta desorientação é precisa para se realizar um facto dêstes!

Eu espero, não só que êsse oficial seja substituído, mas, mais ainda, e eu espero que as revisões de junta militar, feitas por êle, sejam renovadas e os mancebos que foram rejeitados sejam submetidos a nova junta, de que êle não faça parte.

Tenho pena que não esteja presente o Sr. Ministro do Trabalho, para pedir a S. Exa. providências sôbre o que fazem os seus agentes encarregados da inspecção de farinhas.

A êste propósito eu cito um caso interessante.

Numa terra do norte apareceu um afeai de farinha; êsse fiscal dirigiu-se ao administrador do concelho, e êsse funcionário indicou-lhe a casa de um evolucionista do concelho, o qual recebeu o fiscal muito bem, verificando encontrar-se tudo em ordem!

Mas, pedindo êsse fiscal informações a êste cavalheiro, dirigiu-se depois a casa de um democrático, e por engano, tudo foi encontrado em desordem, fazendo-se um arrolamento.

Êste é um dos casos edificantes que eu deixo ao estudo das partes interessadas.

Tenho dito.

O orador não reviu.

O Sr. Ministro do Interior (Almeida Ribeiro): - Ouvi com a maior atenção o ilustre Deputado, e devo dizer, quanto ao último assunto de que tratou, que seria bom S. Exa. indicasse a terra onde se passou o caso a que se referiu.

O Sr. Jorge Nunes: - Depois chegará ao conhecimento de V. Exa., sem necessidade de o dizer aqui.

O Orador: - Dos outros assuntos darei conta aos meus colegas a que se referem.

Aproveito a ocasião de estar com a palavra para mandar para a Mesa uma proposta de lei para a abertura de um crédito especial para a qual peço urgência.

Foi concedida.

O orador não reviu.

O projecto vai adiante por extracto.