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Sessão de 16 de Dezembro de 1919 31

Repare a Câmara na insigne e homérica trapalhada que envolve a questão do arroz! Em Agosto de 1919, depois do contrato do Sr. Augusto de Vasconcelos, fala-se em 1:500 toneladas, na gerência do Sr. Egas Moniz em duas mil, e mais tarde aparece a Legação a falar em quatro mil!

Eu tive o cuidado de preguntar a um arrozeiro qual era a duração do arroz armazenado em boas condições, em termos de ser entregue ao consumo de pessoas e não ao consumo de suínos.

Disseram-me que um arroz bem acondicionado pode durar três anos. Pois nesta altura ainda o Govêrno Português está à espera de receber arroz de 1916, conforme aqui se confessa, para o entregar, naturalmente, ao consumo de Aldeia Galega.

É para êste documento, Sr. Presidente, que eu chamo a atenção da Câmara. Em Agosto de 1919 a Legação de Madrid pede que ao agente do Govêrno Português para a compra do arroz, Casimiro Reys, não sejam levantados embaraços nas suas démarches, e é então o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos que praticou o nefando crime de não ter resolvido o negócio do arroz em nove meses, quando vamos já no quarto ano e ainda Casimiro Reys aparece como agente do Govêrno Português para mandar o arroz para Lisboa!

Tem a data de 11 de Agosto de 1919.

Por êsse documento, vê-se que a Legação justificou o espanhol, dizendo que as dificuldades que lhe foram levantadas tornaram irrealizável a operação.

Em 21 do Outubro, ao Ministro dos Estrangeiros, fazendo envio do memorandum a que já me referi, a Legação faz uma comunicação, donde se vê que já em 1917 o Govêrno Espanhol tinha pretendido, pelas razões que eu expus, que Casimiro Reys não fôsse encarregado da exportação, mas sim o vice cônsul ou alguêm da Legação, únicamente para que se não dissesse que êle, Govêrno Espanhol, concedia um prémio a um particular, em prejuízo de negociantes daquela nacionalidade e doutras, especialmente franceses. Pois em 21 de Outubro a Legação comunica ao Govêrno que o agente é o vice-cônsul Verdega.

Mas pregunto, em que data foi remetida ao cônsul a quantia necessária para esta

aquisição, e só esta não é apenas uma maneira diplomática, e como tal inteiramente correcta, de conseguir que o Govêrno Espanhol nenhum impedimento levante à exportação por Casimiro Reys, que é ainda o agente para tratar dêste negócio, e se a tal respeito alguma dúvida houvesse, ela desapareceria perante a comunicação de 26 de Novembro último!

Está V. Exa. vendo, Sr. Presidente, que, por não ser fácil conseguir do Govêrno Espanhol o permis das 4:000 toneladas de arroz, perdido desde que o negócio seja feito por intermédio de Casimiro Reys, adoptou-se um processo segundo o qual êste não figuraria ostensivamente, sem, contudo, deixar de ser o agente do Govêrno Português para tratar da exportação. De modo que, quando disso que não percebia porque razões estranhas, porque motivos transcendentes Casimiro Reys aparece constantemente como homem indispensável para a definitiva efectivação dêste negócio, eu não disse nada que fôsse aventuroso ou produto de fantasia: disse apenas o que sabia da leitura de documentos.

Sr. Presidente: estou a falar fora do Regimento por simples e delicada permissão da Câmara e impõe-se-me o dever de não abusar.

Algumas cousas eu tinha ainda de dizer sôbre o negócio do arroz. Não são essenciais e por isso eu dispenso-me de as dizer e terminarei como comecei.

Êste caso ao arroz é um dos muitos sintomas do nosso desleixo administrativo (apoiados); é uma das muitas afirmações da nossa incapacidade governativa (apoiados), e pode V. Exa. ter e certeza de que jamais se remediará emquanto se entender, como tantas vezes se tem dito, que a política não deve ser feita por políticos, que a administração pública não deve ser feita por administradores, e que os supremos interêsses dum País devem ser entregues ao primeiro que apareça, homem de Estado do acaso, administrador de lotaria que por via de regra, tendo uma inatacável probidade pessoal, possui ao mesmo tempo uma incapacidade profissional acima de todos os exageros.

Se alguma cousa fôsse necessário demonstrar neste negócio do arroz, iniciado em 1916, tratando-se dum produto ali-