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16 Diário da Câmara dos Deputados

agora em ordem. Por isso se estabelece a preferência às dactilógrafas da família dos funcionários actuais, ou de antigos funcionários.

A respeito de dactilógrafas tenho ouvido cousas espantosas.

Chega-se a dizer que há funcionários do Estado que estabelecem uma enorme família à sua volta, e que depois lhe duo ingresso nas repartições, com representantes duma família de mão esquerda.

Não está consignada a maneira de ingressar nas repartições a família de mão esquerda, do qualquer dos Srs. funcionários, mas pelos modos o facto, de facto, dá-se.

Não se compreende que entre nas repartições a família dêstes funcionários, protegida por uma lei que se pretende votar no Parlamento da República; e o que é mais escuro é que se queira estabelecer de preferência As viúvas ou órfãs de militares falecidos em virtude da guerra.

É preciso que o desaforo vá a tal ponto para que se apresente urna proposta desta natureza que representa uma injustiça. (Apoiados).

Para, se compreender isto, basta pensar dois minutos (Apoiados).

A mim bastou-me o tempo que perdi, desde que entrei aquela porta hoje à noite, até êste momento, para ler êste projecto e compreender, adivinhar o que nele se encontra escrito.

O Sr. Ministro das Finanças (Rêgo Chaves) (interrompendo): - Sr. Presidente: Tendo a minha responsabilidade ligada a esta proposta de lei, e havendo o Sr. Mem Verdial empregado a palavra desaforo, entendo que deve explicar o que por esta palavra quis significar.

O Sr. Presidente: - Aqui na Mesa não foi ouvida qualquer palavra proferida pelo Sr. Mem Verdial, mas como o Sr. Ministro das Finanças apelou para mim eu peço ao Sr. Deputado a fineza de esclarecer a questão.

O Sr. Mem Verdial: - V. Exa. tem para ruim um procedimento especial.

O Sr. Presidente: - Eu repito a V. Exa. que não ouvi nenhuma das palavras para as quais o Sr. Ministro das Finanças pediu a minha intervenção.

O Orador: - Eu vou imediatamente explicar e já teria explicado, se não fôsse interrompido, a palavra que feriu os tímpanos do Sr. Ministro das Finanças.

A palavra desaforo ...

O Sr. Ministro das Finanças (Rêgo Chaves): - Exactamente ...

O Orador: - A palavra desaforo não está compreendida naquelas disposições regimentais que consideram ofensivas de pessoas individuais ou colectivas.

Desaforo cometemos todos nós

Sussurro.

Trocam-se àpartes.

O Orador (dirigindo-se ao Sr. Ministro das Finanças): - Eu não quero de maneira alguma que deixe de haver entre nós aquela boa harmonia que tem existido.

Risos.

Trocam-se àpartes.

O Orador: - É necessário a maior cautela, porque os bis filhas podem ser filhas de meus incógnitas.

Risos.

Trocam-se àpartes.

O Orador: - O que quero dizer é que, realmente, se não compreende que de preferência às viúvas dos militares que se bateram pela sua Pátria e por ela morreram se coloquem as filhas dos funcionários, criaturas que basta êsses funcionários dizerem na repartição do registo civil que são suas filhas, para que adquiram tal direito, visto que o Estado não procura saber quem são as mães.

Chego a convencer-me, Sr. Presidente, que quem isto escreveu tem talvez rasca na assadura.

Vozes: - Isto não pode ser!

Sussurro.

O Sr. Presidente: - V. Exa. declarou há pouco que não tinha tido o intuito do ofender o Sr. Ministro das Finanças.

Chamam-me, porêm, agora a atenção para uma outra frase de V. Exa. para a qual, se realmente foi proferida, convido V. Exa. a que faça a sua ratificação.