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Sessão de 23 de Janeiro de Í920

Através das linhas gerais desse débil e imperfeito documento HO se distinguem notas dum sabor esquesito, para não dizer ridículo. Ouviu-se, por exemplo, ferir o tímpano com a frase bombástica «restringir as despesas, fomentar as receitas» e sobretudo a já estafada e impertinente máxima «pacificar a família portuguesa».

Mas, Sr. Presidente, só se consegue abafar paixões, só se alcança a pacificação dos membros duma colectividade aplicando enérgica e desassombradamente a lei (Apoiados), respeitando os direitos indiscutíveis dos cidadãos, fazendo justiça aos que a clamam em largos haustos de anseio (apoiados), desafrontando o programa republicano que tam escarnecido e vilipendiado se entremostra. (Muitos apoiados).

E é curioso registar o facto: todas as vezes que os Governos a proclamam, é precisamente o momento asado que os nossos adversários aproveitam para nas vielas da torpeza forjarem contra nós &s maiores infâmias e, à traição, nos ajaava-Iharem impiedosamente pelas costas.

O Sr. Pais Rovisco: vão eles para a cadeia.

•Vamos nós ou

O Sr. Júlio Martins: — É pancadaria certa.

O Orador: — ^íSerá, porventura, necessário trazer num programa governativo esse gesto que deve vibrar em novos espíritos e ó acarinhado por nossos corações? Não! Como se efectiva sobretudo esse objectivo é governando a contento e conseguindo firmar uma administração zelosa, honesta, patrióticamente salvadora. (Apoiados),

O país está farto das repetidas miragens que lantejoulam as declarações ministeriais, essas vãs promessas que se desfazem com a presteza do fumo nos ares. Era mais próprio que com as afirmações de criação de receitas e diminuição de despesas se designassem límpida-mente os meios de atingir esse louvável desideratum. Porém a declaração ministerial ó a esse respeito muda e por consequência nenhuma importância se lhe deve dar, sendo mais digno classificá-la dum escârneo lançado à face angustiada da nação.

Dada a gravidade da hora presente, tudo aconselhando, pois, a constituição dum Governo forte, salvador, radical, onde as correntes políticas se estreitassem, solidarizando inteiramente nas res-ponsabilidades da acção enérgica necessária, a minha revolta estruge por ver a situação miseranda a que se chegou sob o ponto de vista político, inclinando-se manifestamente para um conservantismo absurdo e que pode levar o país à última das catástrofes, à ruína económica, à bancarrota emfim.

Devia aproveitar-se esta oportunidade, por ser a melhor, para se entregar o poder a ura Governo das esquerdas, de realizações práticas, que aplicasse medidas salvadoras de fomento nacional, cortando e limpando, arejando esta atmosfera atro-fiante que nos 'estonteia, com a autoridade que lhe daria o facto de não ter res-ponsabilidades nos erros do passado...

Pausa.

Sr. Presidente: «TV. Ex.a dá-me licença? Recuso-me terminantemente a prosseguir nas minhas considerações emquan-to nesta sala não se fizer completo silêncio, o mesmo que eu guardo em situações desta natureza. (Apoiados).

O Sr. Presidente 'agitando a campainha} : — Peço a atenção da Câmara. A Câmara guarda silêncio. •-

O Orador (continuando): — Queria eu dizer que era o que o povo heróico e generoso reclamava no seu gesto onde brilhou o mais puro dos actos patrióticos, essa falange retemperada nas lutas das barricadas e nas escaladas vitoriosas de Monsanto ou nas jornadas admiráveis do norte, essa multidão estremecida de sacrificados que pejam sempre os antros das prisões e alimentam os potros inqui-sitoríais, quando as tiranias mancham esta terra adorada, que tam lembrados e reclamados são nos momentos de perigos e amarguras, de lágrimas e dores, mas que tam esquecidos ou vilipendiados são quando está assegurado o triunfo. (Apoiados).