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Sessão de 11 de Junho de 1920

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a promessa de que este assunto seria tratado mini dos próximos Conselhos de Ministros, após o qual traria a proposta^à Câmara.

Sr. Presidente: porque se trata dum acto de justiça, porque se trata de saldar uma dívida que interessa à nacionalidade inteira, ninguém a si pode arrogar o direito de ter sido o orientador dum acto de justiça, do cumprimento dum dever, que está no coração de nós todos.

Sr. Presidente: eu tive a honra de ter sido amigo de Carvalho Araújo e recordo--me de quando, na véspera do seu embarque, o encontrei no Rossio.

Eu que já sabia que ele na véspera tinha regressado do França onde tinha ido escoltar uni comboio de soldados, eu que já sabia que o governo de miseráveis que então nos governava não respeitava toda a sorte de direitos e deveres, e que lhe intimara o cumprimento dum dever que lhe não competia-, disse a Carvalho Araújo: « j O Governo da Eepública, considera-te perigoso!» «É verdade, dizia-me ele, mas eu gosto mais de andar no mar, sobretudo quando em terra existem miseráveis como aqueles que nos governam. E, embora saiba que vou para o mar, como para um suicídio, eu sinto-me melhor no meio das ondas, cumprindo o meu dever, sobretudo quando ele é de honra para Portugal».

E quando passados dias'se deu o incidente do augusto Castilho, que é a mais bela página da história da marinha portuguesa, e alguns afirmavam que elo não tinha falecido, eu. pelo conhecimento que tinha da sua coragem e da sua valentia, não acreditei, porque sabia que onde ficasse o casco dôsse navio, havia igualmente de ficar a figura heróica, simpática, moça e galharda do comandante Carvalho Araújo. Foi sem dúvida aquele incidente a página mais bela da nossa história, durante a grande guerra.

Foi o próprio imediato do submarino que o atacou, que o confessa no relatório, vindo de Berlim, dizendo que ele se havia batido com um brio e valentia sem igual.

Sr. Prcsidenre: são os próprios inimigos os primeiros a diz6 Io, e a afirmar que elo íbi encontrado morto no seu posto de comando. E nós outros, que não somos republicanos por estreito facciosis-

mo, mas sim porque o nosso republicanismo é a tradução de tudo quanto há de viril nesta raça, quo queremos a República porque estamos convencidos de que j ela é o regime mais adequado a íazer o ressurgimento da mesma raça, e capaz de orientar as suas aspirações, devemos seguir o exemplo de Carvalho Araújo.

O comandante Carvalho Araújo bem merece o tributo de admiração que o Congresso da República Ibe está prestando; bem o mereço porque não foi só um herói, foi um profeta.

A sua atitude de sacrifício, cumprindo o seu dever ato a última, incita-nos a que cumpramos também o nosso dever até a última; cumpramo-lo apesar de tudo, porque se o conseguirmos Portugal será livre e a Pátria será honrada.

Tenho dito.

O orador não reviu.

Vozes: — Muito bom, muito bem. O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Nóbrega Quintal: — Sr. Presidente : entendo também, como o meu ilustre colega Sr. Pedro Pita, que esta sessão, embora toda ela seja absorvida pela discussão do projecto qv:^ tive a honra de enviar para a Mesa, não % nunca pode ser uma sessão perdida, visto ser uma sessão em que se presta homenagem a Carvalho Araújo, que é, não só um herói nacional, mas um herói da humanidade, que é não só um herói deste século, mas de todos os séculos.