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Em todo o caso ou quero acentuar o que há pouco disse uni ilustre Deputado reconstituinte com inteira verdade: todos os Ministros dizem fazer um grande sacrifício quando são chamados ao poder; muito doce deve ser, porem, ôsse sacrifício para que todos andem constantemente a querer impingir-se-nos para que lhes aceitemos o sacrifício de se sacrificarem pelo País. Talvez o facto dalguns políticos não poderem fazer agora esse sacrifício justifique, em parte, a -forma como foi recebido esto Governo. (Apoiados).

Estranhou-se, depois, os termos em que 6 feito o programa ministerial. Com toda a franqueza declaro que ôlo me não satisfez em absoluto, mas o facto e que, dentro desse programa, muito se pode fazer desde que haja boa vontade, competência e patriotismo.

Acusam-se geralmente os partidos radicais de serem partidos de utopias o abstracções, mas o facto é que só eles são capazes dos grandes empreendimentos, das grandes iniciativas, das grandes concepções. Se há mobilidade, se há vida e se há energia nos povos é exactamente porque há utopia, porque há abstracção.

Eu noto que no pregrama ministerial não só marca bem, não se vincula suficientemente a tendência que eu desejaria que ficasso bem expressa, porque nós, sem termos o receio de que nos alcunhem de bolchevistas, entendemos que o mundo não retrograda, mas que avança e que nos devemos deixar dominar pelas evoluções de carácter social, jí, só por isso que nós somos esquerdas. Os outros são direitas, mas eu vejo neles cousas que tanto me parecem esquerdas como direitas, e, em face desses factos, até me apetece marcar passo, como eles fazem, e dizer como a soldadesca: «direito, esquerdo; direito, esquerdo»... (Risos).

Estranhou-se também que aqui, na declaração ministerial, se tivesse falado em ordem pública.

Pensávamos nós, os homens da esquerda, que não marcamos passo, mas caminhamos sempre, devagar mas persistentemente, que nos alcunhassem de desordeiros e agitadores se ò Sr. António Maria da Silva não tivesse tido o cuidado de inscrever bem claramente esse ponto, que é um dos lemas do actual Governo. Jul-

Diário da Câmara dos Deputados

gávamos que isso não seria um motivo de ataque.

Bem sei que é função essencial dos Governos manter a ordem, mas, nesta época de convulsões agitadas, é bom que o Governo frise bem que manterá a ordem custe o que custar, seja contra as direitas, contra o socialismo ou contra quem quere que seja.

Do resto, esta palavra ordem, repetida três vezes, já fez a reputação dum homem público. Quero referir^rno ao falecido coronel Sr. António Maria Baptista. (Apoiados).

Já voem V. Ex.3S que a ordem ainda ó um fetiche bem grande para que os Governos tenham o cuidaclo de o inscrever no seu programa.

Sr. Presidente: a verdade é que a dc-r claração ministerial, sob o ponto de vista financeiro, não me satisfaz. Equilíbrio orçamental, custe o que custar, é uma utopia irrealizável.

Permita-me o Sr. António Maria da Silva quo lhe diga com toda a sinceridade que, como já o afirmei, se as cousas não se modificarem, teremos um déficit superior a 200:000 contos, e S. Ex.a não tem maneira, com o que custe o quo custar, de realizar o equilíbrio orçamental.

Parece que foi talvez uma afirmação demasiada, porque, embora S. Ex.a empregue todos os seus esforços, devemos corrigi-los, se assim o julgarmos conve-ntente,-e darmos-lhe o nosso apoio.

Eu digo francamente a S. Ex.a que o meu desejo, isto para bem do País e da República, é que S. Ex.a examine as con-1 tas detalhadamente, de forma a que nos possa trazer aqui, depois, um plano financeiro bem organizado, para nós o estudarmos convenientemente, conforme o exige a situação em que nos encontramos, plano financeiro esse que deverá ser organizado no mais curto prazo de tempo.