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Sets&o de 28 de Junho cie 1820

ciara que aquele Governo é das esquerdas, e, como tal, não pode merecer a confiança do país, se bem compreendi as suas palavras.

E com aquela dialéctica cerrada que todos nós admiramos, com a sua inteligência subtil, que ó capaz de transformar o branco no preto, vem dizem-os qne realc mente só os conservadores é que mereciam a confiança da Nação, só eles deveriam sentar-se naquelas cadeiras, porque só eles têm hasteado o pendão da redenção da Pátria... '

O Sr. António Granjo: — V. Ex.a está a argumentar sobre afirmações que não produzi.

Tenciono pedir do novo a palavra, e então responderei a V. Ex.a

O Orador: — De facto, e foi este um dos motivos por que pedi. a palavra, é preciso acentuar nitidamente as duas correntes de opinião que há neste país.

Tive ontem ocasião, falando com o povo de Lisboa, de dizer o seguinte: a guerra trouxo a Portugal um desequilíbrio económico extraordinário: vivemos num país que precisa produzir mais do que produziu. As classes médias e trabalhadoras vivem numa situação mais miserável do que dantes, porque a alta dos vencimentos e dos salários não acompanhou a proporção e a alta dos preços. Estamos em presença dum movimento que conduz a uma maior desigualdade social: por uni lado acumularam-se enormes fortunas nas mãos dum reduzido número de determinados indivíduos: por outro a situação cada vez é mais angustiosa. Á função do Estado é, pois, pedir o dinheiro onde o haja para, tanto quanto possível, restabelecer o equilíbrio nas finanças do Estado.

Neste ponto não há um único português que não empregue todas as suas energias para a salvação da PátricT. mas, se queremos fazê-lo e sair da situação a que chegamos, ê preciso que acentuemos essas tendências diversas que eu vejo na sociedade portuguesa: uns querem que de novo só recorra aos impostos indirectos, agravando-os, que as desigualdades que já existem se agravem consíante-monto; não querem a progressividade do imposto, cada vez mais acentuada, à ta-

xação dos lucros de guerra feitos de qualquer forma, ao passo que outros pensam de modo inteiramente diferente. Que-re dizer: uns" querem que os benefícios auferidos sejam para si e que os sacrifícios para restabelecer uma vida económica sejam para os outros. Aqui é que começa a diferença da política das direitas e das esquerdas (Apoiados); aqui é que nos começamos a desencontrar. Há--de ser, porém, sobre eles que há-de recair o máximo de que o Estado tem o direito de exigir à Nação. (Apoiados).

- É tal a precisão dos raciocínios que aqui estou fazendo que, antes do Sr. António Granjo aqui ter feito o seu ataque ao Governo, houve um jornal que, aliás, muito respeito, como todos os domais, por isso quo sou jornalista, que publicou um artigo intitulado Vencidos. £ Mas vencidos porquê ? Vencidos porque tinha predominado na terra portuguesa esta teoria que é preciso triunfar: aqueles que muito se têm sacrificado não podem continuar a sacrificar-se. (Muitos apoiados). Vencidos porque suspeitaram que tinha chegado a hora em" que intransigentemente o Estado lhes havia de impor os sacrifícios que se tornam. necessários para a salvação nacional ; vencidos porque não tinha predominado a corrente reformadora económi-ca-finánceira baseada num critério errado daqueles que, para desviarem a onda que ameaçava passar-lhes por cima da cabeça, vieram até com uma campanha colonial, em que parece que se quere transformar a metrópole numa colónia ou colónias, acabando-se por dizer que à custa do Alentejo devemos procurar desenvolver ali a cultura do trigo, em vez de se pugnar pela cultura do milho Desejavam assim pôr as energias nacionais ao serviço da cultura nas colónias de tudo o que necessitamos para que Portugal amanhã, quando as colónias nos saíssem das mãos, fosse uni povo exclusivamente destinado a depender delas ou a cair nas garras aduncas duma vizinha sempre eubi-çosa.

Foram realmente vencidos — daqui o declaro — e foram-no porque não pensam quo o movimento que este Governo inicia seja um movimento fácil de jugular.