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Sessão de 20 de Julho de Í020

Jiistério do Sr. António Maria da Silva «que os Governos valiain poios homens que os compunham e somente se caracterizavam pelos actos e opiniões expendidos ato essa altura, por ser a única forma de só avaliar a atitude futura de qualquer homem político». Concordo plenamente e;>m osta asserção, e eis o motivo porque tanto me detenho em analizar os homens e as suas ideas anteriores, procurando descortinar qual a sua capacidade para o exercício dos cargos que foram chamados a desempenhar pelas maravilhosas leis do Destino, Deus que rege os movimentos destrambelhados e anormais da nossa política de corrilho.

E eis ainda porque, sendo a pasta das .finanças a mais importante neste momento, visto como dela depende em grande parte a solução do magno problema do barateamento da vida, me deterei ainda na análise da personalidade política do maior financeiro do nosso tempo, com licença do Sr. Dr. Afonso Costa.. . Ur» dia, num alfarrabista da Rue de Ia Seine, entre revistas alegres encontrei um documento, que foi pelo velho mercante de livros classificado de bhgue, e que tinha ôste título:

La situation financière et économique du Portugal — interview au Journal de Lis-bonne «O Século*, du ô Octobre 1973, avec M. fnocênclo Camacho, gouvkrneur de Ia Banque de Portugal et Président de lacommíssiondefoiancesde Ia Chambre dês Deputes.

Levei o folheto comigo, li-a com toda a atenção e acabei por-concordar com a opinião irónica do alfarrabista francês: tratava-se duma blague, talvez menos graciosa que as blagues do Sourire e de La Vie Parisienne^ mas uma blague em todo o caso. O folheto, no seu péssimo francês de cozinha, era um dos numerosos documentos enviados de Portugal para as legações, sob o pretexto de fazer propaganda dos nossos homens e das nossas cousas, pela exibição das misérias caseiras, que melhor seria guardássemos só para nós.

A leitura dum tal documento deu-me a plena certeza de que o Sr. Inocêncio Camacho, ex-secretário geral do Ministério das Finanças, governador do Banco de Portugal, e então presidente da comis-Mfio de ímaaças da Cílmara dos Beputa-

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dos, tinha em 1913 sobre a situação financeira e económica do país as mesmas ideas que tem o tendeiro da esquina da minha rua.

Como meio de propaganda, o Sr. Ino-cêncio Camacho começa por acentuar que em 1906 os nossos credores nos perdoaram 96:601 contos—C'est bien Ia lê ter-me, comenta risonhamente o actual Ministro das Finanças!

Afirma a seguir que a dívida efectiva diminuía de õ de Outubro de 1910 a 5 de Outubro de 1913, de 19 contos, esquecendo-se de frisar —o que é essencial — e que vorn a ser a subida das cotações dos títulos da dívida, como índice de confiança na administração republicana; de facto. a diminuição do valor nominal da dívida em circulação foi, neste intervalo de tempo, de 1:366 contos, o que representa um esforço que aparece diminuído o transformado no número do 19 contos, quando se fala em variações do valor afectivo da dívida, e se não aludo às variações de cotação.

Dos cuidados da administração republicana, dá idea nesta fras.e que ó magistral na sua contextura: «elle a administro sérieusement los crédits de Ti^tat».

Fala na aceleração das amortizações da dívida pública, feita em grande parto à custa dum aumento de 11:671 contos da circulação fiduciária, sem nos procurar demonstrar se isso representou uma vantagem para o Estado, ou se, pelo contrário, representou um erro de administração pelo aumento de circulação aos limites que não fossem porventura harmónicos com as necessidades do mercado nacional.

Para provar que a capacidade do país não estava esgotada, invoca, como° argumento supremo, a opinião da grande tratadista e financeira, que ó a ex-rainha, a Sr.a D. Amélia de Orleans!

Para nos provar o aumento progressivo das receitas, dá para a gerência de 1912-3913 mais 4:640 contos e para as do 1911-1912 menos 4:328 contos do que, na mesma data, o Sr. Dr. Afonso Costa menciona no seu relatório célebre do orçamento : o que tanto monta dizer que um acréscimo de receitas de 9:000 contos aparece por artes diabólicas, transformado em 17:974!