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S essâo de 22 de Novembro de 1920

O Sr. António Maria da Silva:— K aviso prévio, não há dúvida.

O Sr. Pais Rovisco: —Dadas como boas aquelas palavras, não traduzem condido a verdade.

O Orador:—Eu não sei porquê, mas vejo que as minhas palavras têm o condão de bolir com os nervos daquelas pessoas que me estão ouvindo e o Parlamento da República sabe desta virtude que o meu partido manifestou.

Sabemos ouvir uns e outros, e desejamos que nos ouçam, para nos compreendermos como é necessário.

O meu raciocínio vai cortado, mas isso não prejudica o meu seguimento das con-sidoraçõõs a fazer, porque não sendo eu adepto duma retórica só de palavras, eu só tenho orn vista que o resultado transpareça nas palavras e ideas que desejo facultar.

A outra retórica clássica, com uma majestade de catedral antiga, essa não a desprezo, porque a admiro, mas não a acho mais própria para um parlamento e para imi homem saído das castas popula-ros como eu.

Mas vamos ao que importa.

Denominei de fantástico este Gabinete, em que vejo o Sr. Júlio Martins, velho amigo, que conheço com teorias anarquistas, e lembro-me das conversas que trocava comigo sobre o problema agrário, que é uma das regalias que é necessário estabelecer.

Esse homem, que com- a sua palavra candente de tribuno popular, exprimia do seu lugar na Câmara palavras sem conteúdo de ideas, e só com a forma intelectual sem fundo sciéntífico, mas que apresentavam. consideVacões as mais radicais, e que não sei se deixariam a perder de vista as da Confederação Geral do Trabalho, esse homem está no Governo.

Está no Governo o Sr. Cunha Liai, que tantas vezes ouvimos nos seus discursos nesta Câmara.

Foi-lhe fácil chegar ao capitólio.

O Sr. Cunha Liai, engenheiro, considerado uma pessoa inteligente, mas que ape° sar disso aceitou a pasta das Financia, o parlamentar das violências máximas, o homem das frases candentes; o Sr. Cunha Liai, espírito culto, que queria que todos

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os Governos fizessem numa hora tudo aquilo que nós vamos ver se S. Ex.a é capaz de fazer, aparece ao lado do Sr. Álvaro de Castro, o homem que se separou de nós porque éramos imoderados na linguagem e nos processos, que a todo o momento ameaçavam a paz e existência da República o do País, no dizer de S. Ex.a, do Sr. Álvaro de Castro, o homem que nós não sabemos bem ao certo se é radical ou conservador, pelas afirmações absolutamente contraditórias que tem feito e pelos erros de doutrina em que tem caído frequentemente, erros por vezes palmares, erros de que eu, simples estudante destes assuntos, certamente me envergonharia.

Mas exactamente porque sou um obscuro e modesto pensador, um quási aprendiz das sciências sociais e políticas, é que a mim próprio fixei uma regra em que procuro ter os olhos postos pela vida fora: a de que neste país de improvisados ainda vem longe a hora de atingir as cul-minâncias do poder, onde em meu entender se não deve chegar senão com uma preparação especial e cuidada, para que da acção dos indivíduos que o compõem algum benefício possa resultar para o País.

E não é, Sr. Presidente, para alardear uma erudição que não tenho, ou uma sabedoria que não possuo, que eu reproduzo uma das passagens do discurso do Sr. Álvaro de Castro, mas apenas para mostrar bem patentemente a profunda ignorância de S. Ex.a em questões político--sociais.

Nas suas afirmações — entre elas a de que se deviam atribuir ao bolchevismo determinadas transformações sociais, antes de ele existir—S. Ex.a errou não só no campo dos factos, mas até no próprio campo das doutrinas, e errou tam crassamente, que temos o Sr. Álvaro de.Castro no mesmo dia e quási na mesma hora com pontos de vista absolutamente diferentes.