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í)iário da Câmara dos Deputados

aproveitando o ensejo para testemunhar a S. Ex.a os protestos da minha consideração pelos primores do sen carácter e pelo seu autêntico republicanismo.

Sr. Presidente: vou ocupar-me um pouco de política internacional, e da situação de Portugal depois das conferências de Ver-sailles, Bruxelas e Genebra.

Infelizmente, Portugal não é a ilha misteriosa de Júlio Verne; Portugal está na Europa, e quem lançar as vistas por toda a parte do mundo terá de reparar para esse pequeno país que tem o senhorio de vários arquipélagos no Atlântico e vastos domínios em África e Oceânia. Eu digo, infelizmente, porque se Portugal fosse a tal ilha misteriosa de Júlio Verne, sem dúvida seríamos bem mais felizes; a moeda deixaria de ser de ouro, prata ou papel, para ser talvez de conchas ou búzios; o meu querido amigo, o Sr. Director da Casa da Moeda, não tinha tanto que se preocupar com greves, incêndios ou avarias nas máquinas; o Sr. Ministro das Finanças não seria certamente o martelo pilão e ao mesmo tempo a bigorna de toda a gente; o Sr. Ministro da Agricultura, e o Sr. Comissário dos Abastecimentos poderiam dormir tranquilos sem o fantasma dos navios fantasmas do trigo, e estabeleceriam que todos os portugueses'comessem carne de tartaruga e vários palmípe-des e bebessem água do coco.

Por estarmos nessa ilha, não correríamos o perigo de que os estrangeiros olhassem para nós com muita vontade de nos dar conselhos, de os dar aos suis milhões de portugueses, que podiam continuar nas suas lutas políticas dos seus variados grupos e até poderia vir a acontecer ter de prestar homenagem a alguns portugueses, e ouvir falar os leaders dos tais seis ou oito milhões de portugueses.

Mas infelizmente não estamos na tal ilha, mas sim estamos na Europa.

Eu li há pouco que o embaixador francês em Londres disse que era a hora de todos os homens públicos dizerem a verdade, e que todos aqueles que insistiam em iludir o povo, eram verdadeiros criminosos, acrescentando que tudo se podia dizer sem palavras desagradáveis para • ninguém.

Como eu assim penso, pode V. Ex.a, Sr. Presidente, estar tranquilo que não gera obrigado a chamar-me à ordem quan-

do vá referir-me a vários países, até aos chefes de Estado desses países, e mesmo até a entidades já mortas.

Pelo que toca à Inglaterra, eu quero afirmar que sempre tive, e ainda depois de visitar as suas colónias, muito mais, uma grandíssima admiração por esse país, onde o estrangeiro se sente respeitado e defendido pelas leis que nele se cumprem com a pontualidade das leis da natureza.

Desde o chefe do Estado até o mais modesto cidadão, todos estão impregnados do amor ao seu país.

Tenho também de me referir à Espanha, país por que tenho grande simpatia, admirando os seus progressos, e sobretudo a magnífica e inalterável hospitalidade do seu povo.

Essa hospitalidade para cora os emigrados portugueses é tam gentil, que chega a ponto de ainda há pouco em Biarritz o rei dançar com uma senhora portuguesa, esposa de um monárquico condenado nos tribunais de Santa Clara a cinco anos de degredo.

Se essa hospitalidade sofrei um a interrupção quando o grande tribino Alexandre Braga e o Sr. Evaristo de Carvalho foram levados pelas ruas de Madrid com os braços amarrados atrás das costas, a responsabilidade desses factos não é dessa nação mas dos homens que ocuparam o Governo em Portugal desde ò de Dezembro, impregnados de ódio contra os republicanos e contra aqueles que tinham as responsabilidades na nossL cooperação militar na Grande Guerra. ^

Outra tentativa semelhante, é certo, se fez em França. Toda a gento se recorda que o representante em França do Governo Português de então, em notas oficiosas dimanadas da LegaçLo de Paus, disse nos jornais que o Sr., Bernardino Machado, o Sr. Afonso Goste,, o Sr. Norton de Matos e eu éramos uns criminosos comuns. Isso muito nos magcou, direi de passagem, mas aproveito o ensejo para dizer a V. Ex.a e à Câmara, que outras cousas se passaram mais tare e que ainda mais nos magoaram, tanto mais que provinham de antigos camaradas e correligionários políticos. Mas não vale a pena insistir nisso. ..