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Sessão de 19 de Janeiro de 1921

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tabelecer com a Alemanha, em boa paz e harmonia, a delimitação das nossas fronteiras, questão latente desde há muitos anos entre as duas nações. E quando um dia o Sr. Augusto Soares se viu obrigado a abandonar o seu lugar de Ministro dos Xegócios Estrangeiros, em virtude do golpe de Estado Pimenta de Castro, o Sr. Pais voltou à carga, mas, para honra do titular dessa pasta, Sr. Teófilo Trindade, a atitude ainda foi mais enérgica, pois S. Ex.a lhe proibiu expressamente o íazer quaisquer reflexões sobre o assunto.

Os acontecimentos políticos levaram mais tardo o Sr. Augusto Soares à posse da sua cadeira de Ministro, mas a situação era uma verdadeira lástima e a nossa política internacional decorria mais uma vez acidentada, através toda uma série enorme de hesitações e incoerências.

Tempos depois, o Ministro dos Estrangeiros de então, o Sr. Freire de Andrade, vê-se obrigado a transmitir para Berlim que, em virtude dos massacres de África, se impunha uma reclamação, reclamação que, todavia, tinha de ser feita sem violência e com todo o cuidado, segundo deliberação do Conselho de Ministros, mas não com o seu voto, conforme S. Ex.a declarava.

Tudo isto prova exuberantemente que a nossa política da guerra íoi uma política de verdadeira subserviência, uma política de mãos estendidas, implorando esmola.

Segundo li há pouco nos jornais, o In-tegraltsmo Lusitano pretende reabilitar as figuras de D. João VI e de Carlota Joaquina. Quanto a Carlota Joaquina não sei bem como ele arranjará isso. Quanto à reabilitação de D. João VI, depois do que vi no Livro Branco e do que li numa obra de Luz Soriano, em que se conta que esse monarca teve iim dia um assomo de energia e pediu a um governo amigo para mandar retirar um seu embaixador que por demais se intrometia na política nacional, eu não tenho outro remédio senão ser um dos primeiros a reabilitar Sua Majestade.

Mas, um dos factores principais duma tal política é, sem dúvida, a falta de patriotismo e a educação cívica da maioria das nossas elites. Desgraçado e infeliz país este, realmente, em que as elites são as

primeiras a dar o mau exemplo! Toda a nossa História está cheia de casos que plenamente o confirmam. .

AS 'elites pertenciam os homens que em Aljubarrota se passaram para o lado dos espanhóis; às elites pertenciam igualmente aqueles que partiram para Baiona a pedir a Napoleão que lhes desse um rei para Portugal.' Infelizmente estes casos não são isolados.

Ainda há bem pouco tempo em S. Se-bastian, numa festa realizada nas vésperas do Natal, uma senhora portuguesa, casada com um descendente duma das mais altas figuras da nossa História, na ocasião em que se levantou'um brinde a Portugal, teve a ousadia de declarar que Portugal a não interessava, ao que uma dama francesa respondeu que isso não obstava a que levantasse um brinde ao País cujos filhos se tinham batido heroicamente ao lado dos filhos da sua pátria.

Outro caso há ainda tam flagrante como este. Quando se encontrava em Lisboa uni' redactor de um dos mais importantes jornais franceses, que procurou ouvir todos; os agrupamentos políticos em oposição ao regime vigente, foi-lhe respondido por um dos representantes desses agrupamentos, que Portugal não vivia, que Por-, tugal não existia, porque tinha encontrado a sua finalidade política na jornada de Alcácer-Kibir!

Esta e outras afirmações idênticas levaram o redactor desse jornal a declarar que havia realmente um laço de união entre todos os agrupamentos q-ue combatiam a Kepública: a falta de patriotismo. (Muitos apoiados}.

Meus ilustres colegas: podem V. Ex.as estar certos de que, desde Lisboa, através os Pirinéus e até Londres, há uma linha estabelecida por agrupamentos de inimigos do regime — sidonistas ou mo-nárquicos, não sei! — mas inimigos que têm por fim pegar nos braços dos estrangeiros que nos querem visitar, para desviá-los daqui. Vão para Portugal? Então armem-se, pelo menos. Em Espanha dizem mais: armem-se e levem farinha porque lá não há pão.