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Diário da Câmara dos Deputados

quanto for necessário para merecerem o respeito mútuo; de contrário, desde que .os serviços não sejam retribuídos, não podem merecer a nossa simpatia; e assim «u direi que é um papel em que existem •duas figuras, uma representando a força, o papão, e a outra todos os vexames.

JSfestas condições, eu devo declarar que essas alianças para mim não me servem e nem devem servir a nenhum português.

O que é verdade, Sr. Presidente, é que no tempo da monarquia, e mesmo depois de implantada a República, nem sempre os nossos diplomatas têm cumprido fielmente o seu mandato, e assim eu direi que nos tempos que vão correndo hoje o papel de embaixador assemelha-se muito ao •de um caixeiro viajante, o que não pode ser.

A nossa diplomacia, no meu entender, carece de continuidade de acção. Ela tem-se limitado até agora a acompanhar simplesmente os acontecimentos, sem os profundar, e, sobretudo, sem o mais pequeno espírito de previsão.

. A par disso, para justificar essa frieza, essa quási que piedade por Portugal, vêm. os nosses desacordos internos e o nosso grande defeito de não encontrarmos em geral a linha média, pendendo sempre para os exageros, umas vezes em plena luz, outras numa cerrada escuridão, erguendo às nuvens um ídolo de momento, para dentro em pouco procurarmos derrubá-lo violentamente às machadadas, e transformando os heróis de ontem em criminosos de hoje. Mas temos pior que isto ainda: a desgraçada educação cívica duma parte da população portuguesa.

A diplomacia portuguesa, como disse, tem-se caracterizado nos últimos tempos por uma falta de firmeza absoluta. Basta ler o Livro Branco, que é um testemunho incontroverso desta minha afirmação. A excepção de três nomes, que muito me alegro de aqui pronunciar, o do Sr. Augusto Soares, o do valoroso e honrado general que foi Pereira de Eça e o do Sr. João Chagas, o que se vê nesse Livro é bem o reflexo da diplomacia antiga, hesitante e tímida, pendendo umas vezes para nm lado, outras vezes para outro.

No dia em que a Inglaterra nos pediu/ em palavras as mais lisongeiras, a nossa participação na guerra, marcando até os

termos em que ela se deveria efectivar, o nosso embaixador em Londres, por cujas mãos tinha passado esse pedido concreto da Inglaterra, permitiu-se acoimar de imoral a atitude daqueles portugueses, em cujo número com muita honra me enfileirei, que numa clara e fácil visão dos acontecimentos, andaram pelo país fazendo, patriòticamente, a propaganda dessa participação.

Mais tarde, porém, com o desenrolar dos acontecimentos, esse diplomata reconhecia então que a situação de Portugal nos últimos meses era absolutt.menta deprimente para a nossa soberania e para o nosso brio de portugueses.

Se nos voltarmos para a Alemanha, vemos com estranheza e coo espanto, que o nosso ministro em Berlim, tendo conhecimento exacto do documento que a Inglaterra nos havia enviado se permitiu, no momento em que Portugal estava já em guerra com a Alemanta e depois dos massacres de Angola, se permitiu, rebito, em demorar uma reclamação do Governo Português, sob o pretexto irrisório de que faltavam alguns elementos de informação.

Mesmo depois duma ordem terminante do Sr. Augusto Soares, esse homem mandava dizer para Lisboa que o Governo Alemão lhe manifestar,! o desejo de comunicar com a sua, cólon: a em África por intermédio de telegramas cifrados, a fim de obter informações seguras do que lá se passara. Quere dizer, esse homem, representante dum país que estava em guerra com Alemanha, não hesitou em contrariar os desejos, do seu Governo no momento em que os soldados cesse Império se encontravam em luta c Dm os aliados!

Tem-se posto muitas vezes em evidência os meus pretendidos exageros ao afirmar que esse diplomata comprometera altamente, com o seu incorapreensível procedimento, os sagrados interesses da sua Pátria. E afirmava-se, entlo, que não se devia falar dos mortos; ir as as criaturas que tal afirmavam, faziam-no por medo. Evidentemente, se não se pudesse falar dos mortos, não haveria História. (Apoiados}.