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Diário da Câmara dos Deputados

O Sr. Leote do Rego: — Sr. Presidente: começo por -significar a V. Ex.a e à Câ-inara o meu sentimento por ver nesta hora gravíssima, em que o próprio Governo demissionário, é o primeiro a reconhecer a gravidade da situação, que pode chegar até a uma banca rota, não esteja ainda constituído o novo governo. (Muitos apoiados}.

Devo, no emtanto, dizer a V. Ex.a e à Camará, que de forma alguma com estas palavras, quero censurar o Chefe do Estado.

Sinto, Sr. Presidente, não ver aqui o Sr. Ministro da Marinha, interino, por isso que S. Ex.a não se tem limitado à tratar do simples expediente, tem-se ocupado de mais assuntos, pelo que se devia encontrar naquelas cadeiras.

Vou, Sr. Presidente, mandar para a Mesa dois projectos de lei referentes à Marinha.

Devo dizer a V. Ex.a e à Camará que me honro muito em pertencer ainda à Marinha, à qual tenho dedicado longos anos da minha vida, e devido à qual me têm nascido os cabelos brancos que tenho.

Sr. Presidente: não posso nem devo ter menos consideração por aqueles meus camaradas que têm passado a sua vida inteira em Lisboa, em comissões de serviço amarrados a uma carteira e de costas viradas para o mar, talvez para se não recordarem dos enjoos; porém eu, Sr. Presidente, sinto grande orgulho em afirmar à Câmara que tenho passado a minha vida sempre no mar e poucas vezes no Tejo.

Sr. Presidente: é possível que eu conte inimigos; não sinto, porém, contra eles a menor indisposição.

Não tenho má disposição alguma contra esse personagem, que quando foi Ministro da Marinha, e por eu ter exteriorizado na imprensa a minha discordância ' com o que se estava fazendo, que era nem mais nem menos darem-se ordens no sentido de manter a Divisão Naval em completa imobilidade, e declarar no Parlamento que estávamos neutros, me atirou duas vezes para a Torre de S. Julião da Barra. Tenho, no emtanto orgulho em ter estado onde esteve Gomes Freire de Andrade, e esse mesmo personagem, em lugar de me respeitar quando eu estava

no exílio, foi para a imprensa insultar --me, chamando-me herói do Mar da Palha, esquecendo-se de que a tomada dos navios alemães tinha sido determinada pelo Governo e mereceu até elogios dos aliados, que constam do Livro Branco.

Esqueceu-se também de que, se no 14 de Maio não morri, foi porque os artilheiros de terra eram maus, e que, se outro tanto me não aconteceu no 5 de Dezembro, foi porque os artilheiros de Sidónio eram maus, e bom até foi que não fossem para a guerra, para lá não fazerem má figura. Esqueceu-se ainda esse personagem de que, quer no 14 de Maio, quer no 5 de Dezembro, quer na tomada dos navios nunca icei a bandeira branca.

Sr. Presidente: tampouco ine move má disposição alguma contra esses três pu quatro camaradas que, quando os meus colegas desta Câmara prcpuseram para me ser dado um posto de distinção, correram à imprensa, dizendo que eu não merecia o lugar.

Não venho cavar abismos nem sizânias, nem agravar aqueles que. infelizmente, existem ainda na corporação da armada e, se com as minhas palavras esses abismos desaparecessem, eu ficaria satisfeito.

As corporações militares são um todo harmónico, composto de maitas engrenagens, grandes e pequenas, que para poderem corresponder aos martírios que a Nação faz para as poder manter, precisam que essas engrenagens funcionem bem.