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Diário da Câmara dos Deputadas

conhecem, e um modesto oficial, segundo tenente, que era eu, fez publicar um manifesto, que era um documento cheio de altivez, destinado a ser lido pelo Chefe do Estado de então. E veja V. Ex.a: j quem o assinava e tinha redigido, era o Sr. Cândido dos Eeis, que apesar de republicano, por ser um grande patriota, entendeu que ainda era útil apelar para o Ciíefe de Estado, a fim de que tal convénio ruinoso para a Nação não se chegasse a efectivar! Eu vi nesse momento um grande gesto do solidariedade: quási toda a marinha subscreveu esse manifesto, e aqueles dos oficiais que não o subscreveram, e raros foram, apressaram-se a declarar que tomavam também sobre si a responsabilidade que dele pudesse derivar para os outros.

Então recomeçou a má vontade contra a marinha e por todos os modos se manifestou. Precisamente quando tínhamos já navios e tudo aconselhava que se aumentasse o recrutamento naval, é que ele foi reduzido, sendo os navios impedidos de fazer os seus exercícios, e até se deu uma cousa extraordinária que foi o que depois se tornou Chefe de Estado, D. Manuel, ter ido visitar as cortes estrangeiras não a bordo dum navio português, mas'sim a bordo dum cruzador inglês.

Sr. Presidente: quando se implantou a Kepública em Portugal, V. Ex.a sabe quanto a marinha contribuiu para esse acontecimento, mas não sabe talvez a razão porque a maior parte dos oficiais aderiu às novas instituições. Este facto deu--se porque eles tinham quási a certeza de que a República iria dar à marinha a grandeza que sonhavam para ela.

Passado tempo, porém, o povo não precisava de muito talento para prever que um grande acontecimento se iria dar no País, e então uma grande parte de oficiais de marinha e do exército de terra, andou pelo país fora a fazer a propaganda da defesa nacional.

Mais de duzentos oficiais de marinha e do 'exército juntamente com muitos indivíduos da classe civil andaram por esse país fora, à sua custa, fazendo uma intensa propaganda nesse sentido, mostrando com exemplos e com factos a necessidade de se dotarem essas duas corporações com mais alguma cousa que não fosse a ossibilidade de cruzar os braços perante

os agravos recebidos. E já que me referi a indivíduos da classe civil seja-me lícito constatar que, devotados patriòticamente a essa causa, eu encontrei, na hora em que nos arraiais da política se pretendia desvirtuar as nossas intenções afirmando--se que o nosso objectivo era o de ganhar dinheiro à sombra das aquisições de material, os nomes dos Srs. António Grranjo e Júlio Martins.

Vem, mais tarde, a ditadura de Pimenta de Castro e a marinha toma a iniciativa de restabelecer a normalidade constitucional. Disse-se, então, que a marinha fizera nesse momento a política dum partido político. Tal afirmação não passava, porém, duma infâmia como muitas outras. (Apoiados'). A marinha nunca pertenceu a qualquer partido político porque pertence à República. (Apoiados).

Meses depois rebenta a guerra e a marinha é novamente chamada a intervir. Como? Enviando às colónias uma expedição comandada pelo oficial Cerqueira. Da forma como essa expedição cumpriu o seu dever di-lo bem claramente o gesto do Sr. Pereira de Eça, oferecendo ao seu comandante uma espada de honra.

Durante a guerra organizou-se à pressa a defesa de vários portos do país; armaram-se numerosos cruzadDres auxiliares, patrulhas e caça-minas; procedeu-se à defesa do porto de Lisboa em perfeita conjugação com a defesa de campo entrincheirado. Ao mesmo tempo a marinha tomava conta dos navios alemães e procedia às reparações das grandes avarias que lhes tinham sido feitas.

Não me fica mal orgulhar-me de toda esta obra. Os cabelos brancos que hoje tenho não foram causados pelo procedimento d_os meus camaradas, nem pelas vicissitudes da guerra, mas exclusivamente pela má vontade, pela falta de patriotismo e pela política dos senhores que então ocupavam altas situações dentro da marinha.

Eu não quero recordar factos, mas não resisto a citar dois típicos e flagrantes.