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Diário da Câmara dos Deputados

Todos sabem que, apesar de todos os protestos de paz, de todas as coníerên-cias e de todas as sessões da Sociedade das Nações, nós vemos na América e na Inglaterra uma iebril actividade nos seus arsenais.

Nós mantemos as melhores relações com esses dois -países, mas eu, como militar, tenho a convicção de que, se amanhã houver um choque entre essas nações, o nosso arquipélago dos Açores não estará comprometido, mas qualquer das duas nações pretenderá transformá-lo numa base naval. O que está indicado é que tenhamos a maior previdência, colocando essas ilhas na situação de poderem manter--se absolutamente neutrais, ainda que seja pela força das armas, julgando também da maior conveniência nomear-se um alto comissário para os Açores, porque isso já se fez com um excelente resultado.

O Sr. António Granjo aludiu às palavras do Sr. Presidente do Ministério, e eu compreendo bem S. Ex.a, pois se referiu nem mais nem menos ao templo dos Jerónimos.

Sr. Presidente: eu sou daqueles que não costumam molestar os mortos, e tenho por eles um grande respeito. De rosto, mesmo na Rússia, quando os carrascos de Lenine acabam de matar alguém, tiram a gorra; em França quando se fuzila alguém, o polotão passa em braço armas e os cornetas tocam a marcha da ordenança.

Se alguém não respeitou o cadáver desse homem, que se encontra hoje nos Jerónimos, não fomos nós, mas sim um correligionário seu. que, a golpes de espada, duma espada que não teve a coragem de brilhar ao sol de África ou da Flandres (Apoiados), quebrou o seu tá-mulo num gesto de incompreensível desespero.

Eu tenho, repito, um grande respeito pelos mortos. Mas eu não posso neste momento deixar de fazer bem alto, para que todos me ouçam, uma afirmação bem solene e bem categórica. Quando, amanhã, tudo se preparar para conduzir aos Jerónimos os corpos de dois soldados desconhecidos, mortos em campanha, muitos republicanos hão-de certamente impedir que tal se realize porque não é ali o lugar que lhes compete. (Muitos apoiados). O lugar desses heróis é na Batalha

ou em S. Vicente, onde estão, é certo, corpos de róis e de príncipes;, mas onde não têm pousada traidores à Pátria. (Muitos apoiados). Quando o Governo deste País se resolver a construir um panteão para recolher os restos dos grandes homens, nós poderemos então fazer a selecção e levar para lá apenas aqueles que devem sair dos Jerónimos, Herculano, João de Deus, Vasco da Gama e ainda os que têm sido imperdoàvelmente esquecidos, como Mousinho de Albuquerque e Baptista de Andrade.

Vou partir para o estrangeiro dentro em breves dias. Lá de fora acompanharei sempre com muito interessa a obra do Sr. Presidente do Ministério, certo, todavia, de que ele há-de empregar todos os seus esforços para dignificar a. República e prestigiar o nome da sua Pátria.

O discurso será publicado \ia integra,, revista pelo orador, quando restituir, revistas, as notas taquigráficas qae lhe foram enviadas.

O Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente: depois duma longa, duma enervante crise política, durante a qual mais uma vez a ambição e a vaidade de muitos e a insuficiência de todos se manifestaram claramente, temos constituído um Governo. Bem ou mal formado que ele seja, fácil ou difícil que resulte a aglutinação de todos os elementos que o compõem, e muito embora ele possa significíir para alguns a vitória daquela política que eu defino pela frase tira-te lá tu para me pôr eu, o certo é que temos um Governo.

Fartos estamos já todos de crises ministeriais. Todos somos culpados no erro por as ter provocado, mas é necessário acabar com elas duma vez para sempre se quisermos firmar o nosso crédito lá fora e pedir o auxílio, sem o qual não poderemos sair deste atoleiro de vergonhas e de miséria.

Neste Ministério estão duas figuras que nos merecem a mais profunda, simpatia: uma a do Sr. Júlio Martins., chefe do Partido Popular, espírito culto e alma de verdadeiro republicano e português; outra a do Sr. Brederode, uma das mais altas figuras da nossa terra e um republicano da velha guarda.