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Sessão de 7 de Março de 1923
grande o única emprêsa ferroviária que atacasse de frente não só o problema da viação, mas o da indústria do ferro, aproveitando os nossos minérios que são eminentemente aptos para sofrerem o tratamento electro-metalúrgico.
O Sr. Afonso de Melo: — Ainda agora se vão gastar 3:000 libras-ouro para a instalação duma oficina no Barreiro.
O Orador: — Eu ia referir-me a êsse facto. Mas há outros sintomas de má administração. Os serviços fabris do exército, por exemplo, ferem fundo a economia do exército. Viemos da guerra e realizámos ainda mais um serviço fabril: o Parque Automóvel Militar, cuja missão, segundo se diz, é a da reparação e construção de material destinado ao uso particular, isto é: mais uma emprêsa de carácter nitidamente particular que o Estado foi chamar a si, para nada lhe servindo os exemplos anteriores.
Temos ainda um Ministério da Instrução Pública que em Portugal nada realiza e nada produz, e que só para melhorias de ordenados traz inscrito no Orçamento Geral do Estado a quantia fabulosa do 72:000 contos. E não vejo nada, como medidas preparatórias do Govêrno, como não verei amanhã doutro, que tenda à melhoria de situação neste capítulo da administração pública. Continuaremos a ter escolas em cada terra com o mesmo quadro de disciplinas e a mesma função, tudo a formar a cultura geral que se julga indispensável para cada cidadão, sem haver uma tentativa de concentração, para se reduzir tudo a um corpo central para essa educação geral, mas com ramificações de secções especiais destinadas ao desenvolvimento das vocações também especiais de cada indivíduo. Relativamente à nossa população, nós somos o país que tem mais universidades. E cada universidade tem o mesmo quadro orgânico de disciplinas, de forma que a frequência dispensa-se, quando em toda a parte se procura concentrar, tendo as universidades funções diferentes, sem procurarem destruir-se umas às outras.
Em todo o tempo, em Portugal, se ensinou física em duas cadeiras de curso superior, hoje temos seis cadeiras de física; e para quê, Sr. Presidente? Pode hoje chegar-se a saber tanto como antigamente, mas não se sabe mais.
Tudo isto é ainda devido à política de pseudo expedientes de que tem enfermado a administração da República.
Sr. Presidente: houve apenas em Portugal um estadista, um homem de finanças, que conseguiu entravar essa acção; êsse homem foi o Sr. Afonso Costa, foi êle quem venceu o vício da organização do seu partido porque se impôs às tendências nefastas, às tendências exageradamente burguesas, que havia dentro do seu partido.
O espírito de iniciativa que êsse estadista impôs na sua obra desapareceu, não e fácil renová-lo e andamos agora aqui perfeitamente a jogar a cabra-cega lançando remendos sôbre remendos sem se saber já qual a cor natural do tecido primitivo.
Temos agora o Ministério da Guerra: 139:000 contos de despesa.
Sr. Presidente: eu já fui militar, tenho a máxima consideração pela instituição militar portuguesa; eu sei ou pelo menos antevejo o prestígio de que deve ser revestida essa instituição para que ela moral e materialmente possa ter influência nos casos em que é pedida a sua intervenção a favor da salvação pública, mas o que sei de sciência certa porque vi quando lá estive e tenho observado depois de sair e que ao meu republicanismo não repugna dizer, e que ao meu patriotismo se impõe que diga, é o declarar francamente que o exército português, se representa ainda alguma cousa na ordem moral, na ordem material é um zero.
Houve um Ministro da Guerra que veio aqui declarar no discurso da sua posse que só ia ocupar aquela pasta para prestigir o exército. E vêmo-lo manter organizações perfeitamente dispensáveis, mantendo um regimento dê artilharia de obuses de campanha com um quadro excessivo tendo apenas uma bôca de fogo, mantendo um regimento de artilharia de campanha com excessivo pessoal tendo apenas uma bataria.
Na artilharia de costa e na artilharia de guarnição quadros enormes para guarnecer peças Krupp, sem recuperadores nem freios, que só servem para fazer fogo com pólvora preta, sem valor militar algum.