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Diário da Câmara dos Deputados
cadas das direitas, e S. Ex.ª o Sr. Barros Queiroz competência indiscutível, eminente figura do nacionalismo, com a correcção que lhe é peculiar; chamou a êsses números artificiosos, e, fazendo os seus cálculos e previsões, chegue à conclusão de que o deficit provável será de 300:000 contos.
Eu pregunto se as oposições e o país devem acreditar nos números de S. Ex.ª, porque não se hão-de acreditar no artifício dos números com que S. Ex.ª jogou?
Mais tarde os factos dirão quem tem razão; e há-de verificar-se, é o meu patriótico optimismo que o afirma, o que já se verificou quanto aos deficits previstos para 1920-1921 e 1921-1922, com os quais se pretendeu estabelecer o pavor no país, e que finalmente se viu que eram exageradas as consequências que se anunciavam.
Pregunto: para que continuamos num processo e sistema que a ninguém traz vantagem, nem ao país, nem aos partidos da República, nem a ninguém? Para que continuar a espalhar às mãos cheias a semente, bem nacional, de descrença e de pavor?
Não; deixemos essa triste tarefa a quem de direito. Deixemos a César, nós os republicanos, o que a César pertence, e para o meu caso o César de que estou tratando será o Sr. Carvalho da Silva. Que a sua respeitabilíssima calva me perdoe, porque nesta comparação não há desprimor para com S. Ex.ª
O irrequieto e fogoso representante das fileiras monárquicas de toque, a seu gosto, o carrilhão já desafinado do derrotismo nacional, julgando fazer assim, num êrro de visão que à sua inteligência não desculpo, o jôgo dos seus correligionários.
Sr. Presidente: a maiores vôos se abalançou o Sr. Carvalho da Silva, e assim nos seus cálculos reinadios — permita-me V. Ex.ª a expressão, que não será muito parlamentar, mas que me é exigida pelas suas convicções monárquicas. — deu ao deficit para a gerência de 1923-1924 proporções fantásticas, qualquer cousa como mais de 500:000 contos, nada mais, nada menos. E lamentando o pouco tempo de que dizia dispor para discutir, apreciar e criticar o Orçamento Geral do Estado, chamou-lhe um orçamento-burla. Ora as palavras não tem em todas as bôcas a mesma significação: é preciso atender às circunstâncias em que são proferidas e à sua origem. Também pessoalmente não há nas minhas palavras desprimor para S. Ex.ª, e S. Ex.ª vai ver: esta palavra burla, aplicada ao Orçamento, pouca significação pode ter e há que desculpar-se atendendo a que ela foi trazida aqui por um representante dum regime falido, onde abundaram as mais conhecidos, os mais autênticos, os mais famosos, os mais fraudulentos esbanjadores de contas do Estado que até hoje sé têm visto sôbre a terra.
Apoiados.
O País ainda não os esqueceu, e as minhas palavras vão, decerto, encontrar eco na opinião pública, que se lembra muito bem dos factos praticados pelos homens das batidas de S. Ex.ª
É que, quanto às previsões orçamentais dos Srs. Ministros, os deficits podem servir sempre; na razão directa do antagonismo político, aos seus adversários.
Isto, Sr. Presidente, significa nada mais, nada menos, que nós estamos ainda demasiadamente empoeirados de velharias em matéria de ataque político; que as oposições se servem ainda hoje de armas muito primitivas e, porventura, até de armas já muito desacreditadas. Foi assim em todos os tempos. Quere V. Ex.ª um exemplo?
Ainda há dois dias aqui foi notado pelo Sr. Velhinho Correia que, em 1913, o Sr. Afonso Costa, ao tempo Presidente do Ministério e Ministro das Finanças, veio a esta casa o anunciou um Orçamento elaborado em condições de que resultava um superavit.
Era o produto dum trabalho de rara energia, de rara dedicação, de muita inteligência, de muito boa vontade e patriotismo, era uma autêntica glória da Republica, era a expressão do cumprimento duma promessa que todos os republicanos tinham feito e que a República finalmente honrava. Pois apesar de todos estes predicados, imediatamente a política enviesada da maldade e inveja negou êsse facto, que mais tarde o tempo veio a confirmar, facto que ainda hoje contestam, mas só contestam aqueles que não querem ver, os que sistemàticamente só sabem negar. Em Portugal nega-se sempre.