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Diário da Câmara dos Deputados
mente à sua vontade para resolver a questão.
Tenho dito.
Vozes: — Muito bem. Muito bem.
O orador foi muito cumprimentado por todos os lados da Câmara.
O discurso será publicado na íntegra quando o orador devolver, depois de revistas, as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.
O Sr. Paiva Gomes: — Sr. Presidente: é delicado o assunto que ocupa neste momento as atenções da Câmara, e, assim, todos que nele intervenham tem de fazê-lo com todo o cuidado.
Eu conheço do assunto, na parte que diz respeito a negociações, apenas o que os jornais têm dito e o que tenho ouvido nesta casa do Parlamento. Por isso não será de estranhar que eu em certos pormenores me não pronuncie abertamente.
Sr. Presidente: o ilustre Deputado Sr. Brito Camacho — e a S. Ex.ª mais do que ao Ministro tenho de dirigir-me, dada a situação de Alto Comissário em Moçambique — o Sr. Brito Camacho afirmou que eram da sua inteira responsabilidade as negociações entabuladas com a província e, especialmente, o facto do convite à denúncia da Convenção.
É lógico e natural que assim tenha sido, tanto mais que a convenção a acordar é, não entre a metrópole e a União, mas sim entre a província de Moçambique e a União.
Tenho, porém, interêsse em saber se de facto os organismos próprios da província foram ouvidos e emitiram a sua opinião sôbre o convite à denúncia.
Isto porque — e não me refiro nem ao Ministro nem ao Sr. Brito Camacho — há ainda muito quem confunda os poderes que foram conferidos às colónias.
Estimaria ouvir quem possa responder-me, esclarecendo quaisquer dúvidas sôbre se, de facto, a província tem sido ouvida acêrca de todos os trâmites das negociações.
A província de Moçambique tem vivido parasitàriamente.
Disse o aqui há oito ou dez anos e recordo-me de que no momento eu me expressei, para demonstrar numa forma ciara à Câmara a situação económica da província, nos seguintes termos: «a província de Moçambique está a viver exclusivamente do ouro do Rand, e êsse ouro passa sôbre ela como água sôbre pele encerada».
Foram estas as palavras que eu proferi há oito ou dez anos e, infelizmente, para nós, hoje posso repetir o mesmo, sem a mínima alteração.
A província de Moçambique está amarrada, de pés e mãos, ao ouro do Transvaal.
Toda a autoridade individual e colectiva da província tem sido absolutamente canalizada nesse sentido.
Àparte honrosas excepções, a verdade é que, apesar de todos os encómios que eu tenho ouvido com referência à obra dos governadores que passaram por essa província, nenhum dêsses governadores conseguiu ainda preparar-nos para uma situação tal que pudéssemos tratar com a União Sul Africana como de potência para potência.
Eu sei que em vários relatórios, cheios do palavras bonitas, cheios de afirmações que infelizmente por vezes carecem de verdade, se apregoa o desenvolvimento da província, e nenhum dos vários governadores que têm passado pela província se esquece de falar nos milhares de quilómetros de estrada que construíram.
O Sr. Brito Camacho: — Eu podia fazê-lo.
O Orador: — Sr. Presidente: quem tem percorrido a África sabe muito bem que essas estradas de milhares de quilómetros são estradas secas, estradas de verão, que logo às primeiras chuvas têm de ser novamente capiladas.
Com tantas linhas de água a atravessar essas estradas, como é que se consegue o milagre de percorrer milhares de quilómetros de automóvel?
Duma maneira muito simples. Os administradores de circunscrição e as autoridades administrativas, avisadas previamente de que o governador chega, não só mandam capilar as estradas, mas ainda junto das linhas de água têm o cuidado de colocar centenas de indígenas para passarem às costas o automóvel do Sr. governador.
Mas quem ler esses relatórios, e não