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Diário da Câmara dos Deputados
dos os erros praticados, nunca deixei de dar à República o melhor do meu esfôrço e hoje sou incapaz de ter outros princípios, seguir outro credo político porque reconheço que não é nos princípios que está o defeito, mas sim naqueles que executam êsses mesmos princípios.
Sr. António da Fonseca: peço a V. Ex.ª mais uma vez, que reconheça o êrro praticado e que procure emendá-lo.
Todas as religiões, todas as confissões, assentam numa base moral e o parlamentarismo também tem a sua moral.
Não se compreende, portanto, que seja um membro dessa instituição o primeiro a desprestigiá-la, o primeiro a tirar-lhe todo o seu valor, toda a base moral em que assenta.
Sr. António Fonseca: se V. Ex.ª tem os seus princípios presidencialistas ou aspira a ser Presidente com o posso, quero e mando, então talvez V. Ex.ª tenha razão em querer derruir esta obra que ia conta alguns séculos, esta obra que custou muito sangue, porque é obra de muitos mártires, porque é obra das conquistas da Liberdade. Se S. Ex.ª quere isso, tenha a coragem de o dizer abertamente.
Talvez que a intenção do S. Ex.ª seja honesta, seja respeitável, parecendo-lhe produzir uma obra útil, mas se S. Ex.ª mais maduramente, mais sinceramente, reflectir no seu acto, há-de reconhecer que êle só serve para desprestigiar aquilo que S. Ex.ª pretende engrandecer. Apelo para o seu patriotismo, para o seu republicanismo, e eu não lho nego como S. Ex.ª pretendeu ontem, numa das suas frases, deminuir o republicanismo dêste lado da Câmara.
Sr. Presidente: por mais que consulte a minha consciência, a minha razão, por mais que apele para o conhecimento que tenho de S. Ex.ª, não atinjo a sua teimosia.
S. Ex.ª, decerto, não quere reconhecer que a sua proposta, uma vez votada, só justifica a cábula, só desprestigia o Parlamento.
Estas considerações bastariam para produzir no espírito de V. Ex.ª o reconhecimento da razão que me assiste.
Então V. Ex.ª não acha que é um êrro não assistir à discussão e votar inconscientemente?
Porque é que V. Ex.ª não vem para
o meu caminho, na defesa do que é justo e razoável?
A proposta de V. Ex.ª vem confirmar as opiniões pouco lisonjeiras que lá fora se formam acêrca dos trabalhos parlamentares.
V. Ex.ª, que é um jurisconsulto distinto e homem inteligente, não tem o direito de reincidir no êrro, e por isso espero, que há-de reconsiderar e retirar a sua proposta que, não me canso de o repetir, desprestigia o Parlamento e não nos dignifica a nós.
Em presença dos factos e das considerações que acabo de fazer, S. Ex.ª não tem o direito de se levantar para proclamar a sua isenção. Não quero demorar-me mais na apreciação dêsse aspecto da questão, porque isso me levaria muito longe.
Todos nós temos, em maior ou menor grau, o nosso amor próprio, a nossa vaidade, mas. Sr. António Fonseca não ficaria mal ao amor próprio, de V. Ex.ª, que na verdade deve estar um pouco ferido neste momento, consultar a sua consciência.
V. Ex.ª, que é uma pessoa inteligente, consultando a sua consciência, há-de forçosamente reconsiderar.
Um àparte do Sr. António Fonseca.
O Orador: — Sr. Presidente: disse o ilustre Deputado Sr. António Fonseca que eu por várias vezes tenho faltado às sessões.
E verdade, mas quere V. Ex.ª saber a razão dêsse meu procedimento?
E que muitas vezes dentro desta casa, como fora dela, a obra republicana tem sido negativa e eu, que à República tenho dado o melhor do meu esfôrço e da minha vida, com o maior desinteresse, sentindo-me por tal motivo quási envergonhado de ser republicano, tenho-me afastado, deixando o tempo curar essas feridas.
Creia V. Ex.ª que eu mui contribuí para a proclamação da República, para a realização daquilo que era a minha generosa aspiração. E é por essa razão que eu me bato aqui como paladino daquilo que eu entendo que é a dignidade e o prestígio do Parlamento, e que S. Ex.ª pretende deminuir com uma proposta que não remedeia nada.