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Sessão de 4 de Julho de 1923
Portanto, não veja ninguém na minha interpolarão o intuito feroz de deitar a terra o Gabinete; em todo o caso não me preocupa a idea que S. Ex.ª caia.
Qual é o programa do Govêrno? Não sabemos. Teve, é facto, êste Govêrno um programa que não respeitou.
Herdou uma tradição que não soube respeitar. Encontrou um problema complicadíssimo de ordem pública.
Continuavam as paixões exacerbadas. Tinha-se criado um estado revolucionário latente.
Em Portugal as revoluções não levantavam uma grande revolta. Quási deixavam indiferente o país.
Sabe-se, por exemplo, que o movimento revolucionário de 21 de Maio não sairia triunfante e não encontraria um ambiente de carinho se o Poder não fosse o lugar de todas as ambições da sociedade portuguesa. Mas um dia houve uma revolução — o 19 de Outubro — em que pela primeira vez se viu que ao passo que um certo número de idealistas de pensamento desordenado, mas, porventura, norteados por princípios e ideais nobres, andava trabalhando para conseguir por uma revolução a satisfação dos seus ideais, havia na sociedade portuguesa um germe de descontentamento que tinha lavrado a pouco e pouco e avolumava na alma popular a convicção de que só o crime podia ser a redenção dêste país.
Assim, enxertou-se no 19 de Outubro uma série de criminosos para determinar o assassinato, para matar homens que eram homens de bem, para matar homens que eram homens de honra. Muitos apoiados.
Nesta altura os partidos políticos verificaram que era preciso produzir uma funda reacção na sociedade portuguesa. Uniram-se todos — uma cousa que sucede sempre aos partidos políticos da República — unirem-se nas horas da desgraça. Uniram-se todos os partidos constitucionais da República para uma obra que fôsse o epílogo do 19 de Outubro, e nesse momento episodicamente tive de intervir na vida política portuguesa, forçado pelas circunstâncias.
O problema apresentava-se numa luta armada que os partidos constitucionais promoviam contra os homens que tinham feito a revolução de 19 de Outubro.
O Sr. Presidente da República chamou-me para constituir Govêrno, e disse-me que era preciso evitar essa colisão que ensanguentaria Lisboa e não traria nenhuma utilidade para o País.
Não tive que discutir. Punham-me o problema e eu tinha, como homem de dignidade, de o resolver, desde que me encarregava do Govêrno.
Assim a tese da destruição do espírito de 19 de Outubro, pela violência e fôrça armada, foi substituída por outra. Desarmar a pouco e pouco o 19 de Outubro, dando aos partidos constitucionais a situação que deviam ter, desde que tinham sabido servir a República e o País, e o serviram com dignidade.
Não discuto qual teria sido a melhor tese. O caso podia trazer dúvidas ao meu espírito, mas as cousas encaminharam-se para bem. Ao Govêrno, que tive a honra de formar, sucedeu um Govêrno constitucional, presidido pelo Sr. António Maria da Si vá, que herdou a situação que tinha sido criada, à custa da nossa transigência e sacrifícios patrióticos.
O Sr. António Maria da Silva, no momento de constituir o Ministério, estava em perfeitas relações com todos os partidos que lhe deram todo o seu apoio, para uma obra de castigo aos criminosos de 19 de Outubro.
S. Ex.ª tomaria, em nome dos partidos, a direcção política dessa obra, em que as deliberações haviam de ser tomadas em conjunto.
Com a chegada ao poder do Sr. António Maria da Silva êsses partidos esqueceram as suas divisões, puseram de parte as intransigências que separam os homens.
Apoiados.
Tudo isso tinha desaparecido perante a superior necessidade de dignificar a República.
Apoiados.
Em homens que andavam bastante desunidos, tinham apertado as mãos com lealdade, aprendendo na desgraça a conhecerem-se melhor.
O Sr. António Maria da Silva vem constituir Govêrno.
Nestas condições qual era o dever dos republicanos? Era dar ao Govêrno o apoio de todas as suas fôrças políticas organizadas.