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Diário da Câmara dos Deputados
O Sr. Carvalho da Silva (interrompendo): — O que posso dizer é que o ódio aos monárquicos é tanto que leva os democráticos a juntarem-se aos nacionalistas para irem contra os monárquicos.
Àpartes.
O Orador: — Não desfaz nada o que eu disse o àparte do Sr. Carvalho da Silva, porque S. Ex.ª declarou que algumas vezes os democráticos têm cumprido o seu dever, vindo juntar-se aos nacionalistas contra os monárquicos, e tenho prazer que S. Ex.ª saiba que, apesar das desuniões, os republicanos são sempre republicanos.
Àpartes.
Mas o que é certo é que em Condeixa roubaram a eleição.
As provas do roubo foram tam patentes, que a eleição teve que repetir-se, e o administrador andou com os monárquicos de porta em porta a pedir votos para os monárquicos.
Mas por que é que o Sr. Presidente do Ministério, republicano, que ama a sua república, tolera estas cousas e outras?
Porque simpatiza com êles? Não, mas porque é a soa maneira de ser, mas assim, creia S. Ex.ª não serve bem a República.
Àpartes.
Há ainda muitos outros casos, um dos quais relatará o Sr. Pedro Pita.
Há muitas prepotências, como as sucedidas em Santo Aleixo o em Castanheira de Pera e Ancião, e aquelas a que se referiu o Sr. Sampaio e Maia.
Não quero cansar mais a Câmara, relatando factos que me envergonham, porque me fazem lembrar os casos de Peral e os tempos da propaganda, em que se protestava contra as violências que falseavam o voto das urnas.
Devemos dizer ao Partido Democrático que não continue neste caminho, e que se não quero favorecer os outros partidos da República, ao menos não os roube.
Apoiados.
Àpartes.
O Orador: — Paremos neste longo enunciado e continuemos a ver como é que o Partido Democrático e o Sr. Presidente do Ministério conseguiram integrar a República dentro da consciência do País.
O País está farto de lutas e embora os deputados monárquicos tenham um grande entusiasmo pelo seu partido, a triste verdade para êles e a boa verdade para nós, é que o País não se importa absolutamente nada com a monarquia e constantemente está dando provas disso. (Não apoiados da minoria monárquica). Mas existe uma massa de criaturas que são católicos sinceros, que tem as suas crenças, que todos nós temos obrigação de respeitar, que estão metidas dentro dos princípios das leis da República e querem que a República lhes dê um mínimo de concessões, que realmente todos reconhecemos que se lhes devem dar, e algumas até se encontram no programa ministerial vêm enunciadas.
A grande maioria do País, efectivamente, é católica, e nós em política não temos que discutir os factos, temos que aceitá-los como êles são.
Essa maioria católica deseja que a República lhe faculte o mínimo de concessões suficientes para dentro. delas não precisar de ligar-se aos monárquicos.
E tanto isto é assim que, por exemplo, um Ministro dum dos gabinetes do Sr. Presidente do Ministério, o Sr. Leonardo Coimbra, com a aprovação do Conselho de Ministros, introduziu o princípio do ensino religioso dentro do programa ministerial.
Mas então o que sucedeu?
Os Ministros renegaram o colega; o colega teve que sair, ardendo Tróia. Mas porque a grande massa do País decretou que os católicos não tinham direitos de cidade dentro da República? Não; porque meia dúzia de criaturas, porque meia dúzia de pessoas, algumas, delas categorizadas nos registos do Govêrno Civil, obrigaram o Govêrno a fazer isso, visto que êle é seu prisioneiro e tem assim que moldar as aspirações do País dentro do seu pensamento, tendo até uma pessoa da categoria mental do Sr. Carlos Pereira sido enxovalhada, exigindo-se que fôsse para o Vaticano!...
O Govêrno perdeu, nesse momento, uma boa ocasião de fazer alta política em Portugal.
Os católicos só esperavam que a República lhes abrisse os braços, não exigindo coisas impossíveis.
Apoiados.