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Diário da Câmara dos Deputados
O Orador: — É o que estou fazendo; em lodo o caso, se essa função é, como. disse o Sr. Velhinho Correia, um incontestável direito das oposições, isso não impediu que ainda ontem, só pelo facto de estar anunciada a interpelação que estou realizando, alguém fizesse a afirmarão de que eu vinha aqui fazer politiquice.
Veja a Câmara o dilema que se nos apresenta: ou havemos de ser escravos do Partido Democrático, ou somos por êle implacàvelmente açoitados!
Sr. Presidente: eu sou partidário da velha, tradicional e secular aliança de Portugal com a Inglaterra; simplesmente constato que neste momento o ponto de vista inglês pode ser diferente do nosso, por isso que os interêsses de cada uma das nações são também diferentes, o que pode produzir um ligeiro arrefecimento das relações da Inglaterra com o nosso País.
Recorda-se a Câmara, certamente, da longa série de artigos a que o pagamento dos direitos marítimos em puro deu lugar, em toda a imprensa dos países interessados, que tinham vapores que tocavam no pôrto de Lisboa. Quási nos foi contestado o direito de estabelecermos um tratamento de favor para com os nossos próprios nacionais. Recorda-se também a Câmara de que um jornalista português dos mais ilustres, o Sr. Dr. Augusto de Castro, foi portador de uma mensagem do Ministro dos Estrangeiros de Inglaterra, em que se afirmava o grande desgosto do povo inglês pela circunstância de termos estabelecido êsse tratamento de favor para com os nossos nacionais.
Mas há mais.
Nós fomos para a guerra pelos motivos conhecidos de toda a gente e por outros que estão no segredo das chancelarias. Nós fomos para a guerra principalmente para mantermos a absoluta independência das nossas colónias e o respeito absoluto de todo o mundo por essa independência.
Calculem V. Ex.ªs os embaraços que surgiriam na nossa vida interna, se nós não encontrássemos — o que eu não quero acreditar — da parte da Inglaterra um completo apoio à integridade do nosso domínio colonial. Contra tudo e contra todos, contra os seus próprios comparticipantes no grande império inglês, a Inglaterra tem o dever de nos auxiliar a manter essa integridade.
Não temos razão para supor que assim não seja; mesmo que haja nas nossas relações um motivo de arrefecimento, por que a Inglaterra sabe que fumos bater-nos em nome da Razão e da Justiça, e há de saber que, por muito pequenos que sejamos, as nossas vozes saberiam erguer-se bem alto como um protesto perante todo o mundo, à mais leve beliscadura na nossa autonomia colonial.
Muitos apoiados.
Os ossos dos nossos soldados que caíram na Flandres seriam os primeiros a contorcer-se nas sepulturas se, depois de termos ido para a guerra em nome da nossa independência e de termos saído vitoriosos dessa guerra, a nobre e leal Inglaterra pensasse em usar para connosco o procedimento dos velhos tempos.
A Inglaterra, no próprio acto do armistício, cumpria todos os fins da guerra.
Quais eram êsses fins?
Destruir a frota do guerra da Alemanha, porque obrigava a sua a. aumentar de tal forma, que constituiria um pesadíssimo encargo. Destruir a frota mercante alemã, que era um competidor importantíssimo da frota mercante inglesa. Conservar o comércio alemão sob uma tutela. Cortar as asas da Alemanha para voos mais altos, reduzindo-lhe as colónias.
Êstes eram os fins da guerra da nossa aliada, que os viu satisfeitos imediatamente.
E quais eram os nossos?
Resumiam-se no seguinte: respeito absoluto pela nossa integridade.
Pois apesar da legitimidade e pouca exigência dos fios com que fomos para a guerra, nós vemos todos os dias partirem atentados. contra a nossa autonomia da parte daqueles que estão ligados ao império Inglês: a União Sul-Africana!
E nós que não fomos a Versailles exigir que nos fossem pagas as despesas da guerra, o que pretendemos?
Que nos dêem as reparações devidas por perdas e danos emergentes da guerra.
A Inglaterra, sob êste ponto de vista, pode ter um objectivo diferente do nosso, que está por realizar.
Amanhã- podem exigir-nos a nossa dívida e nós não sabemos se teremos direito às nossas reparações.