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Diário da Câmara dos Deputados
clusão de que o empréstimo não tinha influência na nossa melhoria cambial, e razão tinha a oposição nos argumentos que apresentou, e que não eram o produto duma fantasia.
Nós andámos positivamente nos trabalhos da teia clássica, fazendo e desfazendo. Matamos os especuladores num dia e no dia seguinte vamos criar uma atmosfera propícia à acção dos especuladores.
Não vejo, portanto, quê os inteligentes esfôrços do Sr. Ministro das Finanças dêem um resultado prático.
O que sente o povo português?
Sente o problema da carestia da vida, sente que a sua moeda não melhora de posição, e, naturalmente, está descontente.
E então, que pensamento surge na cabeça do povo português?
O mesmo pensamento, aliás, que caracteriza a opinião dos maiores financeiros da Europa: a necessidade de estabilizar o valor da moeda, em vez de andarmos nestas flutuações constantes, que só servem para criar uma instabilidade contínua e alimentar os especuladores com o pretexto de os matar.
Nós aguardamos ainda, pacientemente, a obra do Sr. Ministro das Finanças.
Esperamos ainda que a acção dos três milhões de libras nos há de conduzir para o El-dorado que todos os dias nos conta o Sr. Ministro das Finanças.
Se eu não receasse que o Sr. Presidente do Ministério se convertesse numa verdadeira eternidade no Poder, diria a S. Ex.ª que procurasse aguentar-se no Capitólio até conseguir levar o câmbio à divisa dos 4, porque nesse dia proclamá-lo-íamos o maior homem de todo o mundo, e se porventura qualquer potência vizinha, tivesse uma grã cruz para dispensar a S. Ex.ª, meteríamos empenhos para que essa grã-cruz lhe fôsse concedida.
Que longas tiradas de eloquência não ouvimos nós a respeito do pão político!!
O pão político ruína da Nação!
O pão político representando uma verdadeira imoralidade, fazendo pagar todo o País para que apenas duas cidades, se alimentassem de pão mais barato!
O pão político fazendo perder 4:000 contos à nação!
O pão político servindo a moagem e os moageiros, que se tinham locupletado com os dinheiros públicos!
Emfim, todo um estendal de recriminações, aliás justificadas, contra o regime do pão político.
Um dia chegámos à conclusão de que êsse regime devia acabar, e votámos uma lei nesse sentido.
O público de Lisboa protestou, o operariado foi para a greve, e vem aqui pedir-nos, em nome do direito da fome, que revogássemos essa lei. Nós dissemos lhe que o legislador não podia ter coração e que o nosso dever impunha-nos a manutenção dessa lei.
Houve bombas, e o pão, político manteve-se contra as reclamações dum povo que, sentindo-se afectado num momento, não pensava no futuro.
Êsse regime, porém, restabeleceu-se depois, não sei porquê.
A que sugestões se obedeceu?
Esta cadeia sem fim das relações do Estado com a moagem fora feita por Machado Santos, cujo pensamento era o de estabelecer um diferencial.
O Estado comprava o trigo por. um preço mais baixo do que aquele por que o vendia à moagem; simplesmente houve uma baixa do câmbio, e o legislador ficou admirado ao olhar para a situação anormal que se tinha criado.
Ninguém acreditava que esta depreciação da nossa moeda tivesse a continuidade e constância, que tem tido, e o resultado foi êste: voltar-se ao regime do pão político, que, a avaliar pelos meses decorridos, Outubro, Novembro, Dezembro, Janeiro, Fevereiro, Março, Abril, Maio e Junho, terá dado de prejuízo para o Estado 6:000 a 7:000 contos, o que somando com as importâncias anteriores, perfaz um prejuízo, só em pão político, de 63:000 contos.
Mas, há outras cousas que não deixam de ser curiosas.
Temos o horror à moagem. O Estado não desejaria sei importador de trigo, sabia-se que o Estado era normalmente mau comprador, que fazia péssimas compras, que não beneficiava de crédito, ao passo que entidades particulares tinham todo o crédito para importarem trigo.
Decretou-se então que a moagem é que pagaria o trigo, e o Sr. Ministro da Agri-