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Diário da Câmara dos Deputados
Mas se S. Ex.ª está nessas listas em primeiro lugar, eu também lá devo estar, não digo a seguir, mas para aí em décimo lugar. Portanto, quando os republicanos honestos deviam estar em paz, acautelando-se contra o inimigo comum, é que o Sr. Presidente do Ministério se mantém em luta contra nós.
S. Ex.ª ofende-se quando o criticam e esta é a qualidade dos homens inferiores!
Uma das razões da indignação de hoje do Sr. Presidente do Ministério é a surpresa, é o facto do super-homem ser atacado visto ter recebido manifestações de aplauso de toda a gente.
Registei a palavra, registei-a para afirmar a V. Ex.ª e à Câmara que não há português algum que tenha o direito de numa hora da sua vida não ter aplaudido o Sr. Presidente do Ministério, assim como também não há português algum que não tenha o direito de o ter censurado centenas de vezes, porque a tática de S. Ex.ª é satisfazer tudo e todos.
Promete tudo e, sem ser ofensa, para S. Ex.ª, não cumpre nada. Tem recebido aplausos quando promete, esquece-se porém S. Ex.ª de registar as acusações que lhe são feitas quando não cumpre essas promessas, e isso é que era o essencial.
Também disse S. Ex.ª na sua longa oração, quási tam longa como a minha, única cousa também em que S. Ex.ª não me venceu, disse S. Ex.ª repito, que os directórios que a êle têm recorrido têm encontrado sempre da sua parte toda a boa vontade.
Também isto é verdade.
Quando alguém pede a S. Ex.ª o sol, o Sr. Presidente do Ministério lembrando-se da velha poesia de Campoamor me pedistes el sol te hei dado el sol, la luna e las estrellas, também S. Ex.ª quando os directórios lhe pedem o sol dá o sol, a lua e as estrelas, e, se os seus partidários não fossem tam rebeldes, dava-lhes ainda os partidários, mas os partidários é que não querem.
Risos.
O Sr. Presidente do Ministério pensou mas, como é que eu estando também com os directórios, eu falo pelo Sr. Presidente do Ministério, porque, por mim, eu que sou um dos mais humildes membros do directório do meu partido, encontro-me em desacôrdo, com S. Ex.ª, mas, pensou S. Ex.ª; estarão os directórios eternamente insatisfeitos?
E então S. Ex.ª tem uma ligeira explicação para o facto: são os ódios de baixo que explicam uma parte dessas lutas.
Eu admito que é verdade, que a gente nunca pode lutar contra os factos, mas, admito que os ódios de baixo muitas vezes não podem ser apreciados pelos de cima, assim como entendo que numa sociedade tam fundamentalmente desorganizada como a sociedade portuguesa, tam corroída de ódios, de paixões, de insensatez, em que cada um tem um plano financeiro que há-de salvar a Nação, em que cada um supõe ter um caudal de ideas suficiente para salvar o País essa indisciplina justifique o que por vezes os directórios hajam de ter uma acção que não seja aquela que os nossos sentimentos nos pedia, mas, para tudo há um termo e uma medida. Eu não concebo que os de cima se sacrifiquem sempre aos ódios de baixo ou então um partido em lugar de ser um agrupamento de amigos da sociedade se transforme numa cousa de desordem e é esta absolutamente a situação do Partido Democrático.
Disse S. Ex.ª que não tinha feito perseguições, e por isso é que estava no poder.
Acrescentou ainda que não se governa um povo a chicote.
Mas, Sr. Presidente, êle está no poder porque nós queremos, porque o temos consentido e porque o temos apoiado muitas vezes, contra divisões intestinas.
Está por nossa culpa.
Mas então como é que o Sr. Presidente do Ministério, aproveitando a nossa situação especial de amor pela Pátria e pela República, se segura a essa circunstância para nos censurar!
Como é que unindo-se êle neste ponto aos monárquicos, que dizem que é com a nossa complacência que êle está no poder, nos vem dizer que se conserva naquelas cadeiras, porque não tem governado a chicote?
O que é que nós temos feito?
Temos dito às costelas ameigadas dos nossos correligionários que se aguentem por patriotismo, que sarem as suas feridas e esqueçam as queixas, porque é preciso pensar na República.