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Diário da Câmara dos Deputados
sidente do Ministério, para que o negreiro Venâncio Guimarães possa tomar delas responsabilidade a quem com certeza, cara a cara, não teria audácia de lhas dizer.
Posta esta circunstância, apraz-me também declarar em resposta a um pequeno àparte do Sr. Mariano Martins, uma pequena circunstância que já vai longe e que pode elucidar a Câmara a respeito do que valem ser as prepotências dum homem que tenha altas qualidades para governar uma província mas que pode ser um impulsivo na sua maneira de proceder.
Sr. Presidente: para que no espírito da Câmara não fique como uma condenação a circunstância de um dia o Governador tomar uma determinada atitude, eu vou contar — e não contaria se o nome de Venâncio Guimarães, como se fôsse uma mácula para mim próprio, não tivesse vindo propositadamente no meio da discussão, vou contar, repito, ama pequena circunstância pelo qual o Sr. Noçton de Matos mandou levantar um auto a mim próprio, querendo expulsar da província um cunhado meu.
O Sr. Agatão Lança: — Pessoa que o defendeu no tempo do dezembrismo.
O Orador: — Chegara eu a Loanda poucos dias depois do. desastre de Naulila; estava hospedado no Hotel Centrai e com mágoa verifiquei que toda a população estava de facto consternada pelo desastre, mas que o cônsul da Alemanha, que depois teve ocasião de estar aqui em Lisboa numa situação diplomática importante, tinha tido a audácia de nesse Hotel Central, conjuntamente com os comandantes dos barcos alemães apresados em Loanda, ter brindado pela vitória das armas alemãs em Naulila.
Nesse dia jantara creio que com a pessoa que foi sub-secretário de guerra, Sr. Mimoso Guerra, no tempo em que foi Ministro o Sr. Norton de Matos.
Ficou a população de Loanda indignada com esta circunstância e fomos todos ao palácio do Sr. governador dizer-lhe quê nós- não tolerávamos que o cônsul da Alemanha brindasse pela vitória das armas alemãs em Naulila, e fizemo-lo com a independência que tínhamos.
Falou uma pessoa que era notário em Loanda, o Sr. Dr. António Gonçalves Videira, e falei eu.
No dia seguinte o Sr. Norton de Matos oficiou ao administrador de Loanda para dar parte de mim, como era seu dever, visto que eu, como militar, tinha ofendido os regulamentos militares, indo lembrar ao Sr. governador que a população estava ofendida. Foi-me levantado o competente auto.
No dia seguinte o Sr. cônsul da Alemanha entrou no Hotel Central estando eu com os Srs. Dr. Simões Raposo e António Gonçalves Videira.
Nesse momento chamei o gerente do Hotel e disse-lhe em voz alta: «diga a êsse Senhor que, já que o Poder Central, não tem fôrça para o mandar expulsar de Loanda, que nós não lhe consentimos, que eu não lhe consinto que continue almoçando no Hotel onde eu almoço».
O Sr. cônsul da Alemanha respondeu: «eu tenho a dizer o seguinte: vou-me embora porque sei defender-me a tiro — era um homem valente-mas não quero causar dano ao seu estabelecimento. Deverei, contudo, dizer, como representante da Alemanha, que o Sr. Governador Geral me mandou chamar esta manhã para me pedir desculpa duma manifestação que o público de Loanda tinha levado a efeito».
Sr. Presidente: permita-me V. Ex.ª que eu diga que se o Sr. Norton de Matos não fez mais do que cumprir com o seu dever porque tinha instruções claras para não tomar uma atitude diversa daquela que tomou, nós, como portugueses, cumprimos também com a nossa obrigação, e então levados pela indignação eu e êsse homem que era meu cunhado escrevemos num papel a resposta do Sr. cônsul da Alemanha e pusemo-la, na tabuleta do escritório dêsse meu cunhado, êsse papel dizia: o Sr. cônsul da Alemanha afirma isto, e sem mudar uma vírgula pusemos a resposta do Sr. cônsul da Alemanha.
Do meu acto resultou o governador decretar e estado de sítio à noite; porém ninguém cumpriu as determinações do governador geral, e toda a gente ficou na rua.
Trocam-se àpartes.