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Diário da Câmara dos Deputados
Deus, assombrou como Eschylo. Que mais é preciso para ter bem merecido da Pátria, a ditosa Pátria que êle amou como o grande épico? Junqueiro pertenceu por vezes a esta casa do Parlamento; representou a Nação, como diplomata, no estrangeiro; são-lhe devidas, segundo penso, honras nacionais. Por isso proponho:
1.º Que se lance na acta um voto de profundo sentimento;
2.º Que se encerre imediatamente a sessão.
O orador não reviu.
O Sr. Carlos Pereira: — Sr. Presidente: Os factos traduzem as idéas, os monumentos cristalizam-nas, mas só os homens as exprimem. Expressão que, para ser vívida, não lhe basta ser eco: é preciso e antes de tudo ser voz, ser reincarnação, ser alegria e dor, ser espanto e revolta. Mas quem há-de realizá-la assim?
Dizer a alegria e a dor, o espanto o a revolta próprias e dizer tudo isto no ouro das melhores formas, não basta e é pouco. Porque embora o homem seja artista, só porque a forma humilde se dê aos seus desejos, a forma e as ideas continuarão apenas a ser dele e só o homem aparecerá.
E há quem imponha como método e quem siga como escola, êste processo de descobrir beleza.
Deixai que vos não fale de escolas, de métodos, de sistemas, para vos recordar na humildade da minha voz as ideas do grande morto, as suas expressões, ideas que não eram dele, expressões que também o não eram, porque numas e noutras só a Pátria existe. O sol que doura e morena tornou a pedra branca da Batalha, não doura nem amorena apenas um templo, mas doura o voto popular da liberdade que o erigiu. É a idea da liberdade de um povo cristalizada em pedra na mesma iluminura de sonho de que se orgulham Colónia. Strasburgo, Notre Dame e York.
Batalha, Jerónimos, Mafra, a liberdade, a expansão, o nada. Sino, a eça monumental de Mafra é uma obra sem pensamento; à falta de idea ou crença que a vivificasse, deu aquilo: uma mole de pedra.
Aqui tendes idéas cristalizadas, mas para melhor as sentirmos, preciso foi que a Voz da Pátria cantasse nos lábios de Camões. Não há por certo quem conceba que nas oitavas dos Lusíadas só possa haver a voz de Camões, quando nelas há tudo que é grande, desde as imprecações dos monstros às fúrias dos mares, desde as pugnas dos deuses ao cantado orgulho de um peito que todas as façanhas manda calar.
É a voz da Pátria rolando harmonias, é o peito de bronze dos seus heróis feito oitavas.
E em Junqueiro o que há? A Pátria também, e só a Pátria. O drama da sua vida é o drama da Pátria. É a sua humildade religiosa e cristã nos Simples, que é a bondade do Povo cantada em rimas doces. E a sua crítica do luz na Velhice do Padre Eterno, amedrontando o dogma e não atacando a religião do Cristo.
E a sua grandeza e a sua revolta na Pátria, e por fim, é a sua implacável justiça condenando na Morte de D João.
A lira de ouro, a grande lira da Humanidade, tem apenas três cordas que correspondem a idades que se sucedem e completam. Na primeira, a lírica, canta o Génesis; na segunda, os tempos heróicos, enchida toda pela Ilíada na voz de Homero; na terceira contorce-se a vida em riso e dor; é o drama, fala alto nela Shakspeare.
Foi nessa lira tricorde que Junqueiro tocou, ora conjuntamente, ora alternadamente, nas suas cordas mágicas, e tocou assim porque assim viveu a Pátria, ora em simplicidade, ora em grandeza e revolta, ora em drama, em luta, em vida, emfim.
Ainda agora eu vejo as mãos divinas do Poeta elevando-se, não num gesto do adoração aos deuses, mas em adoração à Pátria, seguro o coração dela no alto, em glória que êle lhe deu.
O orador não reviu.
O Sr. Aires de Ornelas: — Sr. Presidente: a geração a que pertenci viveu e criou-se na admiração de três nomes da nossa gloriosa e brilhante literatura, Antero, João de Deus e Guerra Junqueiro.
Não me esqueço dos tempos inolvidáveis da escola em que todos nós sabíamos de cor a Morte de D. João que tanta discussão provocou entre nós; não me esquece aquela obra imortal que são Os Simples.
O grande pensador italiano Guilherme Ferrero, ainda há pouco disse que a tra-