O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

6
Diário da Câmara dos Deputados
Aproveito esta oportunidade para lembrar ao Sr. Ministro do Comércio a grande urgência que há na execução da sua proposta de lei sôbre estradas, começando já por extinguir os lugares de cantoneiros, que não fazem absolutamente nada, sob o pretexto de que ganham pouco, sendo muito mais difícil encontrar um cantoneiro numa estrada do que um melro branco numa horta.
Ganharem como serventuários do Estado, sem lhe prestarem serviço algum, podendo contudo trabalhar à jorna, por conta de particulares — como alguns que conheço — é uma dupla imoralidade, que o Sr. Ministro do Comércio não deve consentir.
Apoiados.
A linha de Estremoz a Fronteira está pronta até Sousel, faltando apenas — segundo me consta — assentar os carris para poder ser aberta a exploração, pois já tem as estações concluídas e até já tem pessoal nomeado, recebendo — é ocioso dizê-lo — os seus ordenados, aguardando apenas que o comboio apite para começar a trabalhar...E entretanto, os povos daquelas regiões vão pagando pontualmente as suas importantíssimas contribuições; sem terem o mais pequeno melhoramento, sem adubos para as suas terras, porque cada tonelada lhes custa 300$ sem estradas nem vias férreas para o seu transporte (Apoiados), votadas a um deprêzo inconcebível.
Muitos apoiados.
Diz-se que não se têm assentado os carris porque há muita dificuldade em arranjar travessas.
Parece-me que essa falta podia em parte ser remediada, porque bem perto da referida linha, está o pinhal de Cabeção, que é uma mata do Estado, e com a boa vontade o inteligente actividade do Sr. Ministro do Comercio, bastante poderia conseguir-se.
A rápida iniciação do troço compreendido entre Mora e Avis, que, nunca é demais repeti-lo, e da mais absoluta justiça e urgência, tinha a dupla vantagem do remediar um mal que está iminente: depois das ceifas e debulhas, que estão a terminar, vai dar-se naquela região uma angustiosa crise na classe dos trabalhadores rurais, pela falta de trabalho; crise que quási sempre se dá nesta época, e certo, mas que êste ano vai ser perigosamente exacerbada pela vertiginosa carestia da vida...
Poucos lavradores da referida região são capitalistas e a maioria dêles está lutando com. sérias dificuldades para acudir às despesas mais urgentes e inadiáveis.
Com os adubos caríssimos, como disse; com uma pavorosa mortandade no gado suíno (e para isso chamo a atenção do Sr. Ministro da Agricultura), pouquíssimos ou nenhuns serão os lavradores que poderão evitar ou mesmo atenuar essa crise de falta de trabalho.
É portanto indispensável que o Govêrno a possa jugular a tempo, porque eu sei, Sr. Presidente, que já há fome em muitos lares do meu concelho!
Quem conhecer um pouco a psicologia do trabalhador rural do Alentejo, sabe que elo, devido talvez a influências étnicas, possivelmente filiadas na prolongada e profunda arabização daquela província, é, por via de regra, altivo e um tudo nada, talvez, orgulhoso, só pedindo quando em absoluto precisa.
Pois muitos chefes de família do meu concelho já têm sido coagidos a esmolar, por falta de recursos.
Parece-me por isso, Sr. Presidente, que a oportunidade para abrir os trabalhos dêsses caminhos de ferro não podia ser melhor; porque, sem desejar incorrer num lugar comum, lembrarei ao Sr. Ministro do Comércio e Comunicações, e também ao Sr. Presidente do Ministério e Ministro do Interior, que a fome é má conselheira e que, o trabalhador dos campos não vive de moções de confiança, como o Govêrno, sendo-lhe absolutamente indiferente que se partam carteiras no Parlamento ou que as sessões decorram na octaviana paz dos partidos.
O que quere não é muito: trabalho para os seus braços, pão para os seus filhos.
Portanto, Sr. Presidente, estendo que nesta- hora de acerbeis provações, em que rima temerosa vaga de egoísmo assola a humanidade inteira, ameaçando subvertê-la, nós temos, mais que nunca, o dever de velar e zelar pela sorte do proletariado, dando-lhe todo o bem-estar a que tem direito e que seja compatível com a grave conjuntura que atravessamos, mais grave e mais perigosa que nunca!
Tenho dito.