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Diário da Câmara dos Deputados
Não vim para a pasta das Finanças por uma questão de capricho; trabalho, e, permitam-me V. Ex.ªs Que diga, empregando uma linguagem rude, trabalho como um cão, não em nome de qualquer vaidade, não supondo que trago a V. Ex.ªs obra perfeita, mas acreditando em mim próprio que não sou mais estúpido que outro qualquer e que a soma de trabalho, de boa vontade, de dedicação e de esfôrço patriótico que hei-de pôr na minha obra há-de ser bastante para realmente fazer uma obra boa.
Sr. Presidente: com estas palavras de fé, com estas palavras com que exponho ao País a, sua situação, outro intuito não tenho senão fazê-lo compreender a natureza, do sacrifício, que tem de suportar. Afirmo a V. Ex.ªs que o meu desejo de trabalhar é enorme, que ainda esta semana procurarei trazer à Câmara as primeiras medidas severas de cortes profundos de dezenas de milhares de contos no Orçamento Crer ai do Estado.
Dito isto, ouso esperar da Câmara que não me recusará os meios suficientes para trabalhar, porque nunca vi ninguém conseguir descobrir que de nada pudesse fazer-se, alguma cousa, e a situação em que me encontro neste momento é positivamente a de quem está diante do nada.
Não tenho recursos, pretendo criá-los, a não ser que V. Ex.ªs disse me impeçam; mas, não tenho hesitação alguma sôbre o que vai ser o vosso procedimento.
V. Ex.ªs vão dar-me: os necessários meios de trabalhar, de procurar, equilibrar o Orçamento, vão trabalhar comigo com uma dedicação, como se fossem meus correligionários.
São portugueses e eu não pretendo ter o privilégio do exclusivo do patriotismo.
V. Ex.ªs são tanto como eu.
Não somos mais uns do que outros. Entendamo-nos, trabalhemos, e isto a bem, porque a mal, como disse o Sr. José Domingues dos Santos, acho que é muito perigoso para o País.
Mando para a Mesa a minha proposta de lei.
Tenho dito.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, restituir as notas taguigráficas; que lhe foram enviadas.
Foi lida na Mesa a proposta.
O Sr. Carvalho da Silva (sôbre o modo de votar): — Sr. Presidente: nós temos sempre reclamado contra os requerimentos de urgência o dispensa do Regimento, mas a situação em que se encontra o Sr: Ministro das Finanças e o Govêrno é de tal forma grave que nós nenhuma dificuldade queremos crear ao Grovêrno para conseguir os meios precisos para poder pagar ao funcionalismo público; mas parece-me que o Sr. Ministro das Finanças não deixará de concordar com o pedido que fazemos que a sua proposta fique para ser discutida amanhã em primeiro assunto, para termos tempo de ler e estudar a proposta apresentada.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Jorge Nunes (para interrogar a Mesa): — Sr. Presidente: eu tinha feito um requerimento, mas V. Ex.ª não o pôs à votação, não sei por que motivo, dando aliás a palavra sôbre o modo de veiar ao Sr. Carvalho da Silva.
O Sr. Presidente: — O Sr. Ministro das Finanças requereu a urgência e dispensa do Regimento para a proposta que apresentou, e êsse requerimento tinha de ser pôsto à votação.
Àpartes.
O Sr. Ministro das Finanças (Cunha Leal): — Sr. Presidente: se V. Ex.ª me dá licença, eu tenho a dizer à Câmara que se fiz o meu requerimento é porque a urgência se impõe.
Logo que vim ocupar a pasta das Finanças, tomei conhecimento de qual era o estado das nossas finanças.
Declarei ao Banco de Portugal que não autorizava que se pusesse uma única nota nova em circulação.
Preguntei ao Banco se êle nos seus depósitos, tinha quantias que permitissem fazer os primeiros pagamentos.
Disse-me que sim; marcando naturalmente um limite.
Não me oponho a que a discussão da minha proposta fique para amanhã.
De resto isso vai permitir que, logo que termine a sua discussão no Senado, eu possa apresentar as primeiras propostas de redução de despesas.