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Diário da Câmara dos Deputados
por vezes tem havido agentes provocadores.
Quem se não lembra da chamada fita dos marinheiros em 1918, quem se não lembra dessa amotinação que foi provocada e em virtude da qual um punhado de rapazes levou um barco para um determinado ponto do Tejo em que prèviamente se havia determinado fazer o seu bombardeamento?
Eu posso depor como testemunha porque, estando nessa ocasião preso no Castelo, verifiquei que na véspera se assestavam as peças para o ponto do rio para onde no dia seguinte o Vasco da Gama havia de ser levado.
Verifiquei mais que havia oficiais que estavam revoltados até às lágrimas contra êsse facto, tendo um dêles entrado no meu quarto a dizer-me que não podia ser cúmplice das revoluções feitas pelo próprio Govêrno para justificar às repressões, que depois empregou contra a armada e contra os seus adversários políticos.
A intervenção dos agentes perturbadores na vida política da Nação não é fenómeno que não tenha a sua documentação e a sua existência real no nosso País, como acabo de demonstrar a V. Ex.ª e à Câmara relatando um facto de que fui directa testemunha.
Se o boato se conjuga com a atitude do Govêrno, não é lícito supor-se que houve uma obra tenebrosa e malsã de provocação trazendo para a rua uma aparente revolução para justificar uma política tortuosa de desvairamento?
E não é, porventura, imediata a obrigação de um parlamentar que é republicano, que é genuinamente português e que se interessa vivamente pela vida do País, analisar êste aspecto da questão?
Pois foi o que fiz, analisando-o sem paixão, nem parcialidade, e salientando o confronto entre a atitude de um membro do Govêrno, o movimento revolucionário e a versão que circulou por todos os cantos com relação a uma pessoa próxima do Govêrno e, saída no movimento, estando convencido de que, se as investigações que o Govêrno diz que tem entre mãos, forem conduzidas com a imparcialidade que é mister, há-de chegar-se a apurar quem foram os propaladores para sofrerem uma severa penalidade.
Acabo de pôr à consideração da Câmara os factos que justificam à saciedade a atitude dêste lado, votando a generalização do debate, não sôbre o problema da ordem pública, arrumado e resolvido tam prontamente pela fôrça armada que, logo na própria noite em que o movimento rebentou, o Sr. Presidente do Ministério pôde informar o Sr. Presidente da República de que podia tranquilamente fazer o seu passeio pela cidade — mas sôbre a atitude do próprio Govêrno, que eu temo seja capaz de suscitar nova desordem, mas mais temerosa porque vem da parte de pessoas que ocupam o Poder.
Podia ainda referir-me a outros factos que os jornais da manhã de hoje relataram; mas não o faço por haver muita gente que fala com desdém das informações dos jornais.
Não sou também defensor do jornalismo e algumas vezes lhe tenho feito as minhas críticas; mas tive o cuidado de averiguar por quem tinham sido feitas as informações de determinado jornal, sabendo que eram de uma pessoa do meu conhecimento que directamente falou com pessoas de categoria para expor a verdade dos factos.
A informação dada peles jornais, de que alguém se confessou solidária nas responsabilidades do movimento revolucionário, porque tinha sido feito em benefício do Govêrno, embora tivesse havido traição, deve ser esclarecida pelo chefe do Govêrno, para se saber se ela se conjuga com os outros factos a que aludi.
Circularam boatos e até artigos em jornais, dizendo que o Govêrno caminhava para a frente, mesmo através de todas as violências.
Essa situação existe.
O Govêrno foi o conspirador ou parte do Govêrno entrou na conspiração.
São estes os factos que é preciso esclarecer até para conveniência do próprio Govêrno.
É o próprio Govêrno que diz que o movimento foi logo debelado — tam ràpidamente debelado, que até o Sr. Presidente da República fez um passeio através das roas de Lisboa, e visitou os focos revolucionários; e agora o mesmo Govêrno diz que não é conveniente falar no Parlamento.
S. Ex.ª diz que tem toda a fôrça ao seu