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20 Diário da Câmara dos Deputados

explorem como devem as respectivas concessões. Por isto é que me interesso chamar a atenção do Sr. Presidente do Ministério. E, Sr. Presidente, falando do monopólios, surge neste momento para a Câmara e para o País uma questão das mais importantes, uma questão em volta' da qual girou a administração monárquica, uma questão que foi porventura um dos motivos primordiais da queda da monarquia e que, se não foi, efectivamente, encarada e enfrentada como deve ser, pode tornar-se uma razão da queda da República. Refiro-me à questão dos salários. Terei ocasião no decorrer das minhas considerações, de mandar para a Mesa uma moção em que condeno as medidas que entendo que o Parlamento e o Govêrno têm obrigação de tomar em face ao que se está passando, do que muito recentemente se passou na assemblea geral da Companhia dos Tabacos. Nos últimos dias de Dezembro do ano findo encontrava-me em férias e li num jornal do norte o relato, resumido, é certo, do que se passou na assemblea geral da Companhia dos Tabacos.

Um accionista, o Sr. Eduardo John, que, na verdade, não é um accionista qualquer, que foi director da Companhia dos Tabacos, que e um financeiro muito conhecido nas praças de Lisboa o Pôrto e até lá fora fez, como accionista, defendendo os seus interêsses do accionista, acusações muito graves à administração da Companhia.

A essas acusações respondera o presidente do conselho de administração com hesitantes e titubiantes palavras que mais não eram do que o accionista John havia censurado.

Tenho ainda aqui o recorto do jornal do norte, pelo qual tomei conhecimento do que em relação a essa assemblea geral se passou, do que teriam sido as acusações do accionista John e do que teria sido a defesa do presidente do conselho de administração da Companhia dos Tabacos. Depois disso, embora com alguns esfôrços, consegui haver à mão o relatório completo apresentado a essa assemblea geral, relatório de reclamação à mistura com algumas sugestões que poderiam parecer ditadas pelo bom público.

Sr. Presidente: tomando conhecimento dessas declarações, e dêsse relatório, esperei que o Govêrno tomasse sob o caso as resoluções que lhe cumpriam.

Efectivamente o Govêrno alguma cousa fez, mas não fez o que devia, porque o Sr. Ministro das Finanças foi pedir esclarecimentos a uma entidade que devia ter a iniciativa do lhos dar. Fez alguma cousa, é certo, mas não tudo quanto podia fazer dentro do contrato o das leis em vigor.

Sr. Presidente: o Sr. Eduardo John foi director da Companhia dos Tabacos, e participou largamente dessa vida discutida duma entidade acoimada da mais prejudicial para a vida do país. E êle, que tanto protestou na assemblea geral contra as contas secretas da direcção, fez parto do grupo do banqueiros que se propunha emprestar dinheiro ao Estado.

Assim se explica que o Sr. John accionista é muito mais exigente do que o Sr. John director da Companhia dos Tabacos.

Eu não sei se cometo uma inconfidência no que vou dizer, mas creio que não, porque êle já foi tratado num jornal.

Diz-se que quando era Ministro das Finanças um dos nossos mais inteligentes colegas desta Câmara se apresentou ao Govêrno um financeiro oferecendo alguns milhões de libras — não muitos — sem nenhuma espécie de garantia. Tamanho era o bôlo que o Ministro preguntou-lhe quais seriam as condições de pagamento; a isto o financeiro respondera que não precisava de garantias, que faria vários suprimentos o que o pagamento seria feito em Abril do 1926.

Parece que o Ministro fizera notar que era em. Abril de 192G que terminava o contrato dos tabacos. Tal foi o efeito deste reparo que o financeiro não mais apareceu.

Não quero dizer que o financeiro fôsse o Sr. Eduardo John, mas foi um daqueles financeiros que estão sempre prontos a salvar o pais.

O accionista Jolm atacou rudemente a direcção da Companhia, chegando o Sr. Burnay a dizer que eram questões pessoais.

Talvez o adágio «ralham as comadres descobrem-se as verdades» tenha aplicação.

A comadre John zangou-se com a comadre Burnay, e daí o ataque da primeira contra a segunda.