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12 Diário da Câmara dos Deputados

de que eu não desejava rejeitar esta amnistia, para que se não dissesse que era a circunstância de eu fazer parte do Govêrno contra o qual essa revolução foi feita que me levava, por ódio ou vingança, a rejeitá-la. Daí, porém, até achar bem que uma amnistia venha trazer o esquecimento sôbre factos que não foram devidamente apurados, e em que as responsabilidades não estão discriminadas, vai uma grande diferença.

Sabe V. Exa., Sr. Presidente, e sabe a Câmara, que se fez uma campanha contra o Govêrno de que tive a honra de fazer parte, afirmando-se que essa revolução tinha sido feita com consentimento do Govêrno, e afirmando-se até que tinha sido feita pelo próprio Govêrno.

Muito pouca consideração merecem a esta Câmara os homens que a ela pertencem e fizeram parte do referido Govêrno! Merecem tam pouca consideração que não se hesita em pretender lançar o esquecimento sôbre êsses factos criminosos e em lançar um véu de mistério sôbre as acusações que lhes são imputadas.

O Sr. Agatão Lança (interrompendo): — Se V. Exa. RS tivessem mandado prender todos os outros criminosos, não viria à Câmara êste projecto de amnistia.

O Orador: — Sr. Presidente: apresentou-se na Câmara o Govêrno de que eu tive a honra de fazer parte e, quando pretendia investigar dos factos que se tinham passado na véspera, quando para não prejudicar as investigações a que queria proceder, declarou à Câmara que não podia responder a tudo quanto lhe preguntavam, a Câmara votou-lhe uma moção de desconfiança, fazendo-o sair das cadeiras do Poder.

E pregunta-se agora porque não investigou!

Não investigou, porque o não deixaram investigar.

Apoiados.

O Govêrno de que tive a honra de fazer parte recebeu aqui uma moção de desconfiança no dia 13 de Dezembro; desde essa data até hoje tem decorrido muito tempo, o tempo que bastava para fazer a investigação.

Não foi, pois, nossa, a culpa, pois que, vencendo a revolução no dia 11, logo no

dia 13 éramos corridos com uma moção de desconfiança, para que essa investigação se não fizesse.

Sr. Presidente: não há dúvida nenhuma de que a amnistia traz, de facto, o esquecimento para os crimes praticados, mas neste caso vai trazer mais alguma cousa: é deixar de pé a acusação que nos foi feita.

O Sr. Francisco Cruz: — A calúnia!

O Orador: — Mais uma voz se verifica a velha afirmação, o conhecido ditado: calunia, calunia, que alguma cousa fica; e ficará no espírito de muitos a dúvida sôbre só será verdade ou não que os homens que eram Ministros nesse tempo tinham preparado essa revolução.

Apoiados.

Eu prezo-me de ser um homem de bem e é legítimo que me revolte contra êste procedimento de camaradas meus, procedimento que eu era incapaz de ter, existindo sôbre colegas meus aqui na Câmara uma afirmação da natureza desta, uma calúnia das que emporcalham como esta, e, porque não o faria, dói-me que o tivessem feito a mim.

Apoiados das direitas.

Tenho 32 anos, estou no início da minha vida, e não a quero, portanto, emporcalhada com uma calúnia já no seu princípio.

Eu vi constantemente num dos jornais, naquele que principalmente se fez eco dessa campanha, a notícia de que um secretário meu estava também comprometido na revolução.

Quem acreditaria que um secretário meu estivesse com a revolução, sem que lhe acudisse ao espírito ao mesmo tempo a suspeita de que, pelo menos, êsse secretário só lá estaria com o meu consentimento?

Porquê esta pressa? Porquê esta febre de amnistia, tendo decorrido apenas mês e meio sôbre o acontecimento?

O Sr. Correia Gomes: — Ainda acha pouco V. Exa. que desgraçados que não têm culpa estejam presos há mês e meio?

O Sr. Francisco Cruz: — É assim que se prega a justiça na nossa terra!
Trocam-se àpartes.