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26 Diário da Câmara dos Deputados

O Orador: — Pareceu-me depreender-se da palavra «retirar» empregada por V. Exa. na sua moção, que V. Exa. queria significar que o documento fora subtraído, o que considerava ofensivo.

Protestei nesse momento contra esta palavra.

S. Exa., quando muito, e no uso dum direito, podia ter o documento em sua casa para o estudar devidamente. Sem o processo, para o, estudar atentamente.

De resto, o processo encontra-se no Ministério das Colónias.

Quero fazer esta declaração porque verifiquei que era verdade.

O orador não reviu.

O Sr. João Camoesas: — Procurarei ser breve, porque êste debate tem corrido alongado e lento, e não serei eu quem procure prolongá-lo ainda mais.

Na medida das minhas fôrças, procuro contribuir para a eficácia da função parlamentar, e não serei eu, pois, quem colaborarei no alargamento de tam alongado debate,

No emtanto afigura-se-me que a importância do assunto exige que nós digamos ao Pais claramente a nossa opinião, quanto mais não seja para que.tarde ou cedo não possamos" ser acusados de silêncio implícito.

Sr. Presidente: sabe V. Exa. e também a Câmara e o País, que as colónias de Portugal, hoje como sempre, constituem o mais sagrado penhor da independência nacional e a sua integridade tem de ser defendida e acautelada pelos homens que actualmente vivem, porque por elas se sacrificaram em todas as gerações alguns dos mais valiosos filhos do povo de Portugal.

Quási não há família no País que não tenha pago o seu tributo de sangue às nossas colónias, e ninguém ignorará que hoje, como sempre, à volta dos nossos domínios se agitam cobiças ameaçadoras, que não podem dizer-se ignoradas por quem tenha responsabilidades na nossa direcção política e até social.

A questão dessas cobiças, por motivos da guerra, conforme as memórias do conhecido embaixador alemão em Londres, mostrou a gravidade do problema, e o perigo que ela constitui para a nossa integridade. Mas contudo ela permanece.

Os monárquicos não souberam defender a nossa integridade e fizeram perder territórios importantíssimos para a Nação, os que assinaram a acta da célebre conferência de Berlim.

Depois disso, e ainda hoje, em certa imprensa estrangeira, afloram sintomas do mesmo perigo, e estou convencido que a instituição dos Altos Comissários da Re-pública correspondeu às necessidades dêsse perigo, pois que os métodos que então eram empregados não poderiam constituir obstículos para que essas ameaças políticas se viessem a traduzir em casos dolorosos e incomportáveis para o povo português.

Cito êstes factos para pôr diante dos olhos da Câmara, com que cuidado devemos tratar dos problemas coloniais, e para que as nossas palavras, por mais duras que sejam, não se traduzam em uma campanha de derrotismo, que possa ser para outros países uma arma contra nós.

Creio que nos últimos tempos, e a propósito da acção administrativa dos portugueses em África, se têm dito palavras que talvez um dia venham a ser aproveitadas como armas contra nós, pelos inimigos de Portugal.

De resto, aqueles que conhecem a história da acção internacional desenvolvida no último meio século, a propósito da feição colonial do País, sabem perfeitamente que não é arrojada, nem descabida, a suposição que formulo neste momento.

Creio que o debate, parlamentar que ultimamente tem ocupado as atenções da Câmara e do País teve fases puramente derrotistas, que merecem uma crítica desapaixonada, é certo, mas que não deixa de ser justa e severa, para que se signifique que houve alguém dentro desta casa do Parlamento que soube contrapor à obra negativa os aspectos positivos que felizmente para nós são bem superiores àqueles.

Uma das cousas que aqui ouvi mais censurar na ficção do Sr. Alto Comissário de Angola foi precisamente a propaganda, o espavento, a realização de certos actos, como o Congresso de Medicina Tropical, que foram considerados excessivos e dispensáveis.

No emtanto, eu considero-os absolutamente indispensáveis dentro do ponto de vista internacional, pelo facto de que, que-