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12 Diário da Câmara dos Deputados

Imagine-se que eu tinha conhecimento de um crime e que se me dizia que o esquecesse, porque assim era necessário.

A minha consciência repugnaria fazer semelhante cousa.

O Parlamento deve ter completo conhecimento da questão do empréstimo.

Porventura se julga o Parlamento tam desacreditado que não poderá tomar conhecimento de toda essa questão?

Àpartes.

Então admite-se que o país olhe indiferente para êste caso?! Não podemos desconhecer as bases que se projectam; não podemos ser consentidores delas, e a circunstância de depois dum voto do Parlamento, em que se exigia a publicação das bases, a mesma publicação ser recusada por uma espécie de reviravolta mental da maioria, significa apenas o desejo não de impedir a discussão, que se não pode impedir, mas de se dizer que nós não temos que discutir as bases.

É assim que S. Exas., com a responsabilidade inerente, fazem um contrato que é ruinoso para o país.

Não quero como alguns Deputados, e nisto não vai censura para êles, examinar uma por uma as bases. Sujeito-me à sanção do Parlamento; o Parlamento não quere discutir as bases, não quere ver aquilo que está escondido atrás da autorização, e eu não discuto também, desde que das bancadas da maioria ou do Govêrno não vem, sequer, uma explicação. Contudo, V. Exas. hão-de ver que esta questão ainda há-de dar que falar. Faço aqui esta fácil profecia.

Veremos depois, com os 2.500:000 libras que a tanto se reduz o empréstimo por agora contratado, as obras que se vão iniciar e a quem aproveitam. Discutiremos, então, porém já não para evitar mas para remediar, o que é bem triste.

Veremos o que se pode fazer com 1.400:000 libras que é afinal a parte aproveitável do empréstimo, descontados os juros e o preço da emissão do empréstimo.

De resto, fala-se em saneamento da moeda de Moçambique. Quere dizer, por cima dêste mistério ainda há outro: é o do saneamento da moeda. Atrás disto ainda existe porventura o pagamento de dívidas contraídas, e o problema complexo da moeda em que se deve fazer êsses pagamentos. E nós nada; sabemos do que pensam a êste respeito a maioria e o Sr. Ministro das Colónias.

Fala-se em saneamento da moeda!

Vai-se instituir a moeda-ouro, ou a moeda-escudo?

Não se sabe. Afinal, esta cousa simples de fazer obras, vejam V. Exa. aí em que se transforma!

Há uma operação de empréstimo, há uma operação de obras, há uma operação de saneamento da moeda, e o pagamento de dívidas, anteriores.

Nada disto, que deveria estar explicado num quadro bem feito, para se compreender bem a sua utilidade, está especificado. Vivemos em maré de mistério...

Os homens em Portugal só são grandes, como o Sr. Norton de Matos, emquanto se conseguem rodear do silêncio e do elogio pago a tanto a linha. O Sr. Norton de Matos pagou êsse elogio à razão do 12$ a linha.

Os mistérios só interessam emquanto se não podem desvendar, e o mal desta proposta é não só ter mantido até ao fim misteriosa.

 certa altura, conseguiu-se raspar um bocado e ver o que estava por baixo. E triste que não tenhamos ficado entusiasmados e, se a maioria democrática e o Sr. Ministro das Colónias mais tarde se arrependerem, ao menos peço que decretem pára a província de Moçambique um futuro inquérito, já que o não quiseram decretar para a província de Angola. Êsses inquéritos, por muito desacreditados que estejam, são necessários, e até o Congresso Colonial aconselhou que se nomeasse uma comissão de técnicos para estudar as condições em que cada província se encontra.

Suponho que, actualmente, as províncias de Angola e Moçambique não podem desenvolver-se sem que sejam feitos inquéritos às suas condições de vida, e êles visam tanto a apreciar as culpas dos homens, de modo a mandá-los para o Capitólio se o merecerem, ou a mandá-los para a Rocha Tarpea, se o merecerem também, que neste caso será a Penitenciária ou qualquer outra cadeia, como para apreciar as condiçOes de vida das duas províncias.

Os fados hão-de cumprir-se. Mais uma